Em meio ao rali da bolsa neste começo de ano, o Itaú Unibanco surpreendeu o mercado com o anúncio de uma oferta para o fechamento de capital da credenciadora de cartões de crédito e débito Redecard, que deve movimentar quase R$ 12 bilhões.

Com 49,9% das ações da empresa, o Itaú Unibanco se comprometeu a pagar aos demais acionistas até R$ 35 por ação, prêmio de 9,2% em relação ao fechamento de segunda-feira, quando os papéis fecharam a R$ 32,04.

A oferta era inesperada porque a Redecard está cotada no seu maior valor histórico. Em 2010, com a abertura da concorrência no mercado de credenciamento de cartões, os papéis da empresa amargaram uma queda de 22%, encerrando o ano em R$ 19,61, o que gerou boatos na época sobre uma possível compra por parte do controlador para aproveitar os preços baixos.

Porém, a expectativa de que a perda da exclusividade na operação das bandeiras de cartões fosse deprimir os preços – e, consequentemente, os lucros das operadoras – não se concretizou, o que, associado à boa geração de caixa da empresa e a uma política gorda de distribuição de dividendos, levou seus papéis a uma valorização de 49% em 2011.

Com o anúncio da oferta, as ações da Redecard subiram ontem 10,5% – a maior alta do Ibovespa – e fecharam em R$ 35,40. Acabaram puxando os papéis da concorrente Cielo, que avançaram 4,2%, sob a expectativa de que a empresa também possa sair da bolsa.

O fechamento do capital da Redecard é um movimento estratégico do Itaú. Mais do que obter um benefício fiscal no futuro com a operação, o principal objetivo do banco seria o de impulsionar os ganhos de eficiência de sua controlada. Os ganhos viriam tanto da economia de custos como do aumento de receitas, especialmente no que se refere às operações de antecipação de recebíveis.

Do lado das despesas, o maior aproveitamento ocorreria nos contratos com fornecedores. Uma das principais fontes de custos da Redecard é a comissão paga às bandeiras internacionais Visa e Mastercard, que representa 20% da despesa total. Segundo apurou o Valor, essa comissão, chamada “taxa de intercâmbio”, será revisada. Os gastos com telecomunicações também estão na lista para serem renegociados. A ideia é que, com a Redecard virando subsidiária do Itaú, todas as “compras” passem a ser feitas em conjunto. Assim, será possível barganhar tanto no preço como no prazo.

Depois de a Redecard enxugar seu quadro de funcionários em 2011 com um corte de cerca de 500 colaboradores, a avaliação é que não há muito espaço para novas demissões – embora alguns “ajustes” devam acontecer. Mais ganhos de eficiência, portanto, poderiam vir somente com o suporte da estrutura do Itaú.

Em entrevista ontem, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, afirmou que a compra das ações da Redecard será realizada com recursos em caixa. Segundo ele, o impacto sobre o índice de Basileia do banco será “bem pequeno”, de 0,1 ou 0,2 ponto porcentual.

O impacto contábil do desembolso com a oferta poderá ser, em parte, compensado. Com o negócio, o Itaú conseguirá transformar em patrimônio cerca de R$ 10 bilhões que, atualmente, estão fora do balanço do banco. Isso porque hoje a fatia de 50% na Redecard é contabilizada em termos de custo (R$ 794 milhões, no balanço do quarto trimestre), enquanto o valor de mercado da aquisição será de quase R$ 12 bilhões. “Esse ganho ajuda a aliviar o impacto do desembolso sobre os indicadores financeiros e de rentabilidade e a fortalecer temporariamente a capitalização do banco”, afirmaram analistas do Barclays em relatório.

Em relação ao valor oferecido pelas ações, apesar da boa recepção dos investidores, refletida ontem na disparada das cotações da Redecard, o Itaú pode enfrentar oposição dos minoritários. A legislação prevê que investidores representantes de pelo menos 10% do capital da companhia podem exigir um novo laudo de avaliação dos papéis (ver matéria abaixo).

Sozinha, a gestora americana Lazard Asset Management, que detém 10% dos papéis da empresa, poderia exigir uma nova avaliação. Procurada pelo Valor, a Lazard não quis se pronunciar.

No entanto, o gestor de um fundo brasileiro com grande posição em Redecard, que preferiu não ser identificado, acredita que pode haver uma “boa briga” a respeito do valor das ações.

Segundo ele, no mercado, há quem acredite que o maior salto de valorização já ocorreu e, por consequência, as ações devem mostrar um desempenho mais brando, em linha com o prêmio proposto pelo Itaú. Porém, há também os que veem espaço para crescimento expressivo dos múltiplos de avaliação e, assim, o valor da oferta poderia não ser suficiente.

De fato, de acordo com dados compilados pela “Bloomberg”, o preço-alvo médio estimado para Redecard nos próximos 12 meses é de R$ 34,52. Esse valor, no entanto, está distribuído entre uma mínima de R$ 26,80 e um teto de R$ 39. Dentre as 26 casas de análise contempladas pelo levantamento, 13 recomendam a compra das ações, 12, a manutenção e 1, a venda.

Victor Schabbel, analista do Credit Suisse, enxerga no movimento feito pelo Itaú uma proximidade com o modelo de atuação do Santander no setor de adquirência, em que a operação é integrada à atividade do banco, pautada pelo relacionamento com seus clientes – ficando para a parceira GetNet somente a parte de tecnologia (de processamento das transações). “O principal valor no negócio de adquirência está na distribuição, e é na agência que se tem o conhecimento do correntista, especialmente no caso dos estabelecimentos de menor porte”, observa Schabbel. “O Itaú vai poder, eventualmente, oferecer terminais com preço mais competitivo, fortalecendo sua plataforma bancária.”

Como uma companhia de capital fechado, as informações sobre uma eventual redução de preços para ganhar participação de mercado não precisariam mais ser reveladas – e é aí que o cenário pode ficar prejudicial para a concorrente Cielo. Muitos analistas já ventilam a possibilidade de a Cielo, controlada por Banco do Brasil e Bradesco, seguir os passos da Redecard. “Em compensação, a Cielo seria a única empresa no setor de adquirência no Brasil para se investir, num mercado que é de alto crescimento”, pondera Schabbel. or Aline Lima e Natalia Viri Colaborou Carolina Mandl
Fonte:ValorEconômico08/02/2012