Disputa pode afetar margens de teles

 O mercado de telecomunicações deus sinais, nas últimas semanas, de que a disputa entre operadoras será mais acirrada no segundo semestre, com a ampliação da oferta de serviços pela Nextel e GVT. A entrada da operadora britânica Vodafone e o reforço das operações da On Telecom, do investidor George Soros, também intensificam a concorrência no setor.

 As líderes do mercado – Telefônica /Vivo, TIM, Oi e Claro – também se movimentaram, com a reformulação de serviços e o lançamento de promoções. O aumento da competição foi um dos fatores que pressionaram a receita média por usuário das teles e vai exigir das operadoras mais controle nas despesas para impedir perdas na rentabilidade nos próximos meses.

 Entre as operadoras que já divulgaram os resultados do segundo trimestre, a Telefônica/Vivo foi a única a apresentar um aumento da receita média por usuário, de 4,1% ante o segundo trimestre do ano passado, para R$ 22,80 ao mês. A TIM registrou queda de 0,7%, para R$ 18,10; a Claro apresentou uma redução de 5,3%, para R$ 15; e a Nextel, uma queda de 8,5%, para US$ 43 (em torno de R$ 99). A Oi divulga seus resultados no dia 14 e a GVT, no dia 29.

 A rentabilidade das companhias também foi impactada no segundo trimestre. As operadoras apresentaram margens de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) inferiores a 30%, que é a margem média considerada saudável para o setor.

 A Vivo fechou o segundo trimestre com uma margem Ebitda recorrente de 29,4%, com queda de 3,7 pontos percentuais em relação ao ano passado e queda de 2,7 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre. A TIM apresentou margem Ebitda de 24,9%, com queda de 1,7 ponto percentual em um ano e de 1 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre. A América Móvil (que reúne os resultados da Claro, Net e Embratel no Brasil) teve redução de 1,2 ponto percentual na margem Ebitda frente ao segundo trimestre de 2012, para 23,3%. A Nextel, que não divulga Ebitda, apresentou uma queda de 44,5% no lucro antes de depreciação e amortização, para US$ 93,9 milhões.

 Considerando que a disputa está mais acirrada e será difícil elevar preços, resta às operadoras controlar mais seus gastos. O cenário para o setor neste ano é de crescimento menos intenso (de 5,3% na telefonia móvel, 14% na TV paga e 37% na banda larga). A inflação mais alta e o crescimento mais fraco do Produto Interno Bruto (PIB) também dificultam uma expansão mais expressiva neste semestre. As teles se veem com a necessidade de fazer fortes investimentos em infraestrutura para melhorar a qualidade dos serviços e expandir a oferta dos serviços de terceira e quarta gerações (3G e 4G).

 A Telefônica tem se centrado na oferta de serviços convergentes (como TV via internet, por assinatura e banda larga) baseados em redes de fibras ópticas em regiões de alta renda e na expansão da venda de TV paga por satélite em regiões de renda média mais baixa. A América Móvil iniciou no segundo trimestre a integração das operações no país para reduzir custos e oferecer serviços convergentes. A TIM investiu em tecnologias para melhorar o tráfego de dados na rede e permitir a expansão da oferta de serviços com a estrutura atual.

 A Oi investiu na ampliação dos serviços de telefonia móvel e TV por satélite. No segundo trimestre, a operadora apresentou uma elevada taxa de crescimento em TV paga e aumento da receita média por usuário com a venda de novos serviços, como “pay per view” e canais em alta definição. Por outro lado, a Oi teve perdas com a redução de 8,77% na tarifa de interconexão, determinada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

 Em julho, a Oi anunciou a venda de torres e da Globenet, no total de R$ 2,43 bilhões, o que terá efeito positivo em seu balanço. Mas deu sinais que seu endividamento líquido superou em mais de três vezes o Ebitda. Por essa razão, a operadora deixará de pagar dividendos extraordinários de R$ 1 bilhão neste mês. Fontes do setor disseram recentemente que a Oi retomará no fim do mês a emissão de R$ 800 milhões em debêntures de infraestrutura. Essa emissão, somada ao cancelamento da distribuição de dividendos extraordinários, contribuirão para reduzir o nível de endividamento de curto prazo.

 Analistas não descartam, no entanto, que a Oi passe por uma reestruturação societária. Isso porque sua controladora, a Telemar Participações, tem uma dívida líquida de R$ 3,2 bilhões e sua fonte de receita são os dividendos da Oi.

 A empresa de pesquisa Bernstein Research considera possível que a Portugal Telecom faça um novo aporte na Oi, ampliando sua participação na Telemar Participações, atualmente de 25,6%. Para isso, a companhia teria que se desfazer de ativos que possui em outros países, como a Africatel e a Timor Telecom, que apresentaram baixa rentabilidade neste ano. O Bank of America Merrill Lynch e o Barclays também consideram possível que a Portugal Telecom venda ativos para financiar um aumento de participação na Telemar. A Portugal Telecom divulga seus resultados no dia 29.
Autor(es): Cibelle Bouças | Valor Econômico
Fonte: clippingmp 08/08/2013