China deve comprar mais empresas no exterior

 

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO
Um negócio bilionário marcou, recentemente, a história da indústria de alimentos: a compra da tradicional Smithfield, maior produtora de suínos dos EUA, pela Shuanghui, o “açougue número um da China”.
Anunciada há dois meses por US$ 4,7 bilhões, a aquisição teve o objetivo de garantir o abastecimento da crescente classe média chinesa.
Operações como essa devem se tornar cada vez mais frequentes. Para cumprir a nova estratégia de crescimento, apoiada no estímulo ao consumo interno, empresas chinesas, apoiadas pelo governo, devem buscar mais fusões e aquisições no exterior.
Há limitações para expandir a produção de alguns itens na China, especialmente os ligados a recursos naturais. Fernanda Chang, especialista em China da EY (antiga Ernst & Young), lembra que o país detém apenas 8% das áreas agricultáveis e 6% das reservas de água no mundo, apesar de responder por 20% da população mundial.
Como a China também não quer depender de outros países, a tendência é que eles assumam operações no exterior para abastecer o seu povo. Mudanças nos hábitos de consumo também aumentam a demanda por importados.
Editoria de Arte/Folhapress
“O crescimento da renda vai elevar a demanda por alimentos em quantidade e qualidade. O mercado está ficando mais exigente”, diz Chang.
Outro fator de estímulo aos importados é a maior preocupação dos consumidores com a segurança alimentar. Só neste ano, mais de 900 pessoas foram presas na China por fraudes em alimentos.
“Os chineses não compram mais produto local no mercado. Eles querem marcas importadas, que, para eles, são referência em qualidade.”
A busca por técnicas avançadas de produção é outra motivação para a compra de grupos estrangeiros. “Com a aquisição de grupos já consolidados, eles também buscam tecnologia para aumentar a produção doméstica.”
O Brasil, também rico em recursos naturais, é outro candidato a receber mais investimentos da China. “Nem todos os países oferecem a diversidade que oferecemos”, diz Sergio Amaral, do Conselho Empresarial Brasil-China.
No leilão de petróleo marcado para outubro no país –o primeiro do pré-sal–, espera-se um grande apetite chinês. Em 2012, os investimentos da China no exterior somaram US$ 115 bilhões. Em 2015, devem atingir US$ 150 bilhões.