A China está produzindo a resposta do país à General Electric, combinando duas fabricantes de equipamentos para ferrovias para criar a segunda maior empresa industrial do mundo. E a gigante não planeja ficar em casa.

A fusão da CSR Corp. e da China CNR Corp. agora está concluída, produzindo um mamute de quase US$ 130 bilhões chamado CRRC Corp. com economias de escala que permitirão à China competir ainda mais agressivamente pelos negócios ferroviários no exterior. As ações da CRRC começaram a ser negociadas nesta segunda-feira com os velhos tickers da CSR em Hong Kong e Xangai.

A China está usando suas empresas ferroviárias estatais não apenas para ganhar contratos lucrativos, mas para projetar influência política no exterior. A CRRC transforma em anões as concorrentes como a Siemens AG, da Alemanha, e a Alstom SA, da França, e tem como alvo mercados emergentes como a África, a América Latina e o Sudeste Asiático — muitas vezes com discursos de vendas do premiê Li Keqiang –, apresentando ao mesmo tempo ofertas por contratos de alto nível no mundo desenvolvido.

“A CSR e a CNR costumavam competir com a Bombardier e a Alstom; agora é a China contra todos os demais”, disse Alexious Lee, chefe de pesquisa industrial da CLSA Ltd. em Hong Kong. “Os produtos da China podem não ostentar especificações de alto padrão, mas dão valor ao dinheiro”.

China versus Japão

A CRRC entra em cena em um momento de turbulência na indústria ferroviária internacional. A canadense Bombardier Inc. está repensando o futuro de sua divisão ferroviária — a CSR e a CNR teriam considerado assumir uma participação controladora na empresa — e a italiana Finmeccanica SpA entregou sua divisão de sinalização ferroviária à japonesa Hitachi Ltd. em fevereiro.

Perto de casa, o impulso da China no setor ferroviário coloca o país em concorrência direta com o Japão por contratos e influência no Sudeste Asiático. Também no exterior, ambos os países estão mirando um projeto de ferrovia de alta velocidade na Califórnia.

Os concorrentes europeus e norte-americanos também enfrentarão uma concorrência mais dura com uma nova gigante perseguindo negócios no exterior. As empresas chinesas já são conhecidas por suas táticas agressivas: no ano passado, a CNR ganhou o primeiro grande contrato ferroviário da China na América do Norte — um negócio de US$ 567 milhões pelos trens do metrô de Boston — com uma proposta aproximadamente 50 por cento mais barata que a da Bombardier, que tem sede em Montreal.

Siemens, Alstom e Bombardier “eram empresas grandes, e de repente há uma empresa enorme”, disse o ministro da Economia canadense, Jacques Daoust, no mês passado, quando se disse que a CSR e a CNR estariam estudando apresentar uma oferta pela unidade ferroviária da Bombardier. “É uma preocupação”.

Competindo em peças

O peso da CRRC pode representar algum benefício para as concorrentes, que podem ganhar dinheiro fornecendo componentes e sinalizando os sistemas enquanto a gigante chinesa oferece os trens.

“Os chineses produzirão os veículos ferroviários, mas ainda precisarão de peças e componentes fabricados no Japão”, disse Hiroyasu Nishikawa, analista sênior da Iwai Cosmo Securities em Tóquio.

As empresas da China, que tem a maior malha ferroviária de alta velocidade do mundo, participaram de 348 projetos ferroviários internacionais e exportaram um total de US$ 3,74 bilhões em equipamentos locomotivos no ano passado, disse Zhi Luxun, um alto funcionário do Ministério do Comércio chinês, em fevereiro.

As ambições do país são ainda maiores. Em maio, o setor ferroviário foi nomeado um dos 10 focos de um plano para transformar a China em uma das economias industrializadas mais avançadas do mundo.

“A China está tentando mudar a forma como o setor ferroviário é conduzido”, disse Lee, da CLSA.

Título em inglês: China Forges Industrial Giant Second Only to GE With Rail Merge(Bloomberg) —Leia mais em UOL 08/06/2015