Pesquisa realizada pelo Insper, Endeavor e Ártica dá dicas para o empresário que busca um fundo de private equity

Há muitos estudos e levantamentos que orientam fundos de private equity a conseguirem escolher boas empresas para investir. No entanto, pouco se fala do lado do empresário e de como ele pode atrair e escolher o melhor fundo para investir no seu negócio. “Hoje, o investidor acaba tendo muito mais informação do que o empresário”, afirmou Luiz Penno, da boutique financeira Ártica. Para ajudar a equilibrar essa relação, Penno se uniu à Andrea Minardi, professora do Insper e a Guilherme Fowler, da Endeavor, para entender realizar uma pesquisa sobre o tema. O trio procurou analisar as empresas que receberam investimento no Brasil para entender como é a relação delas com os fundos que investiram nelas. Os resultados da pesquisa foram apresentados nesta sexta-feira (1º/09) no Insper.

No total, foram 46 empresas entrevistadas, que juntas somam mais de 220 anos de experiência e receberam R$ 6,4 bilhões investidos. “Houve a percepção de que o fundo contribuiu para o aumento de valor da empresa em comparação ao que o empresário conseguiria sozinho”, disse Andrea Minardi. A pesquisa mostrou que 98% dos empresários recomendaria o private equity para outras empresas – ainda que com ressalvas.

Álvaro Gonçalves, sócio do grupo de investimento Stratus, avalia que o private equity é uma boa forma de acelerar médias empresas. “O Brasil é um país de empresas médias. São poucas as grandes empresas, mas elas são exatamente as que têm mais facilidade de conseguir financiamento”, disse. “Mas a gente acreditou que nesse segmento das médias empresas, se você colocar mais combustível, elas podem crescer mais”, afirmou o investidor.

Durante a apresentação do estudo, o empresário Fábio Figueiredo, diretor de planejamento do grupo Cruzeiro do Sul Educacional, compartilhou sua experiência de private equity bem-sucedida com a Actis. E afirmou ter aprendido algumas lições. Uma delas foi “ir mostrando os dentes aos poucos na negociação”. Segundo ele, “alguns detalhes da operação, que não são os mais agradáveis – como restrição de direitos – não são colocados de início, mas trazidos aos poucos pela outra parte e isso é do jogo”. Recentemente, nas negociações com o fundo GIC, que adquiriu no início deste ano uma participação de 40% na empresa, Figueiredo disse “não ter sido surpreendido novamente”.

Mas, como os empresários podem se orientar na hora de atrair e se tornarem sócios desses fundos no negócio? Para buscar a resposta, os pesquisadores dividiram a análise em três fases do investimento: a entrada, o relacionamento e a saída.

1. Entrada

A principal motivação dos empresários para buscar um aporte de um fundo de private equity foi o crescimento da empresa. “Em geral são empresas que querem crescer e precisam de um sócio para ajudar nesse processo”, disse Andrea. “Paralelamente, algumas empresas buscam melhoria da governança, redução da alavancagem e a condução de um processo de IPO”.

No entanto, um dado que preocupou os pesquisadores foi que 44% dos empresários não fizeram um processo estruturado para escolher o fundo, ou seja, não buscaram mais de um fundo, não tentaram entender qual seria o perfil de fundo mais adequado e quais são os fundos que se encaixam nesse perfil. “Você vai ficar 4 ou 5 anos com esse investidor, é preciso ter alguma empatia”, afirmou a professora. Na mesma linha, 66% dos empresários não conversaram com outras empresas que receberam aportes daquele fundo. “Ainda falta investigação mais profunda sobre quem é o parceiro mais adequado”, avaliou Andrea.

A importância disso fica clara com estes números: 75% das empresas que fizeram um processo estruturado tiveram mais de uma proposta de investimento, enquanto apenas 25% das empresas que não seguiram o processo estruturado tiveram opção de escolha. Além disso, entre os empresários que consultaram outras empresas investidas, apenas 23% escolheram a proposta com maior valor financeiro – contra 80% dos empresários que não conversaram com outras empresas. “O valor financeiro em si não é o mais importante”, resume Andrea.

A partir destes resultados, os pesquisadores tiraram 5 lições sobre a entrada em um investimento com private equity:

  • a. Tenha certeza de que é um bom momento para trazer o fundo e que possui um bom motivo para isso;
  • b. Faça um processo competitivo e estruturado;
  • c. Faça uma diligência do fundo: converse com empresas investidas e verifique se o perfil do fundo está alinhado com seus objetivos;
  • d. Durante a negociação, não foque apenas no preço (a governança é igualmente importante) e registre tudo o que for combinado por escrito;
  • e. Desde o início, gerencie o alinhamento dos assessores financeiros e legais com seus objetivos

2. Relacionamento

Feito o investimento, 73% das empresas pesquisadas relataram ter tido um bom relacionamento com o fundo. No entanto, 70% afirmaram também que vivenciaram algum tipo de conflito. Os pesquisadores então identificaram 10 tipos de conflitos, sendo que os mais frequentes foram divergência de visão, desalinhamento na saída e troca da equipe do fundo.

Além disso, foi constatado outro ponto interessante: quem teve o fundo como sócio minoritário, em geral, teve um melhor relacionamento. Das empresas que tinham essa configuração, 87% relataram relacionamento bom ou muito bom como fundo. Das empresas com controle dividido, a avaliação positiva cai para 75%. Nas empresas em que o fundo detinha controle, esse número é o menor: apenas 58% relataram um bom relacionamento com o investidor.

Entre as contribuições que o fundo trouxe além do aporte de capital, Andrea ressaltou a profissionalização da gestão e processos, a melhora na governança e a atração de talentos. Por outro lado, as frustrações incluem pouco conhecimento específico do fundo no negócio, divergência de visão estratégica, pouco acesso a outras fontes de recurso financeiro e a má qualidade dos conselheiros.

As dicas sugeridas pelos pesquisadores para esse período são:

  • a. Mantenha uma relação franca e aberta, sem medo de se opor ao fundo em decisões que você sabe que irão destruir valor;
  • b. Aproveite oportunidades de crescimento profissional;
  • c. Esteja preparado para possíveis trocas da equipe do fundo;
  • d. Os relatórios enviados ao conselho devem ser adequados e realistas;
  • e. Não deixe as demandas por informação atrapalharem o dia a dia da empresa.

3. Saída

Segundo o levantamento realizado, o fundo normalmente é o primeiro a sair do investimento. Foi o que ocorre em 63% dos casos estudados. Em 24%, o empresário e o investidor saíram simultaneamente, e em 13% dos casos, o empresário foi o primeiro a se desfazer da empresa.

Guilherme Fowler resumiu que a relação entre o fundo e o empresário “é um jogo que tem data para terminar”. Por isso, o melhor é se preparar para o fim dessa relação e tentar maximizar o valor da empresa.

Veja as dicas dele para se preparar para a saída do investimento.

  • a. Esteja preparado para a saída do fundo;
  • b. Participe ativamente desse processo;
  • c. Tome cuidado para não perder o foco do negócio durante a negociação;
  • d. Esteja preparado para desalinhamentos e conflitos;
  • e. Informe o fundo caso tenha interesse em liquidez conjunta (sair junto da empresa) 

POR DANIELA FRABASILE Leia mais em epocanegocios 01/09/2017