Durante o evento digital Brazil at Silicon Valley, fundadores e CEOs falaram sobre os impactos da crise do coronavírus

Unicórnios brasileiros falam sobre impacto da pandemia nos negócios (Foto: Getty Images/Sam Salek/EyeEm)

Crescimentos históricos, digitalização e comitês de crise. Esse foi o balanço da pandemia do novo coronavírus para os unicórnios Nubank, iFood, Gympass e Wildlife. Os fundadores e CEOs das startups brasileiras avaliadas em mais de US$ 1 bilhão falaram nesta quarta-feira (06/05), durante um encontro digital promovido pela Brazil at Silicon Valley.

Apresentaram-se no painel Cesar Carvalho, fundador do Gympass; David Vélez, CEO e fundador do Nubank; Fabrício Bloisi, CEO do iFood; e Victor Lazarte, CEO e cofundador da Wildlife. O debate foi mediado por André Street, fundador da Stone.

O momento foi encarado de maneiras diferentes para cada uma das startups. A Gympass, por exemplo, foi a mais afetada pela crise. Como 100% do serviço prestado pelo negócio era baseado em visitas presenciais, Cesar Carvalho conta que foi necessário adotar medidas de emergência.

Com 50 mil academias cadastradas em 14 países, incluindo Itália, Espanha e Brasil, locais seriamente afetados pelo novo coronavírus, Cesar diz que no primeiro momento ver o fechamento dos estabelecimentos foi um choque.

“Em um choque, é muito fácil ficar paralisado”, diz. No entanto, foram criados dois comitês de crise: um considerado “de ataque”, focado em encontrar soluções digitais para manter as empresas que oferecem o benefício aos funcionários e as academias engajadas; e outro de custos, para reduzir riscos e cortar gastos. A empresa teve que demitir cerca de 20% do seu time de funcionários.

Do lado do ataque, a empresa desenvolveu tecnologias que permitem às academias oferecer os seus serviços via videoconferência. Segundo Cesar, 5 mil academias e 100 mil pessoas já estão usando os produtos. “Quatro semanas atrás, não tínhamos nada virtual. E de um jeito super rápido, conseguimos desenvolver uma nova solução”, diz.

Crescer na crise
Para as outras startups, o cenário foi diferente. Foi na pandemia do novo coronavírus que iFood, Wildlife e Nubank tiveram crescimentos históricos, segundo seus fundadores.

Segundo David Vélez, CEO e fundador do Nubank, a empresa teve nos últimos 45 dias o maior fluxo de depósitos na história da sua conta digital. “A pessoa que antes tinha resistência em abrir uma conta digital, agora abre. Quem gostava de tomar um café com o gerente e agora não pode mais, e abre a conta digital. Esse choque forçou a sociedade a se digitalizar em serviços financeiros”, diz. A startup também apresentou crescimentos de 30% na abertura de contas digitais por pessoas acima de 70 anos. Avanços que acarretaram na contratação de 140 pessoas, em 30 países diferentes, somente durante o período da pandemia.

No iFood, a situação também foi positiva. Fabrício Bloisi, CEO da empresa, diz que o crescimento acelerou em novas áreas (como compras em supermercados) e novos restaurantes que adotaram o delivery. “A gente atingiu três anos de maturidade de mercado em um mês”, afirma. Mesmo assim, o executivo diz ter suspendido as metas de crescimento da empresa durante a pandemia. “O momento agora não é de celebração. Tem gente doente e morrendo. Temos que ter responsabilidade em transformar a meta e garantir saúde para os entregadores e para os clientes.”

Para a Wildlife, startup que faz jogos para smartphones, a pandemia teve um impacto positivo por conta do crescimento na indústria de games. Victor Lazarte, CEO e cofundador, também não acha que é hora de comemorar, entretanto. “O que a gente passa é uma tragédia e muitas pessoas estão sendo impactadas de forma negativa. A nossa prioridade é manter a segurança do time da comunidade”, diz. A Wildlife liderou o movimento Tech for Good, que organizou doações do ecossistema de startups na luta contra o coronavírus.

Já em negócios, a empresa viu o número de usuários crescer em 50% e tempo gasto nos jogos aumentar. Outra vantagem: fazer anúncios ficou mais barato, possibilitando avanços em publicidade. “Já tinha um aceleração orgânica forte, mas também criou oportunidades para agirmos de maneira mais agressiva”, diz o empresário.

Home office
Os empresários também falaram sobre o modelo de home office, adotado pela grande maioria das empresas durante o período de distanciamento social. Confira:

David Vélez: “O home office veio para ficar. Não temos como voltar atrás. Fizemos pesquisas que mostram que mais da metade dos funcionários se sente mais produtiva. Isso sem a infraestrutura necessária. Não vamos mudar para uma empresa 100% remota, mas foi bom ver as vantagens do modelo.”

Victor Lazarte: “O que a gente notou é que a área de desenvolvimento de software ficou mais produtiva. Já nas áreas de planejamento e coordenação os desafios foram maiores. No geral, entretanto, a produtividade é semelhante. Acho que quebrou o paradigma de que é necessário estar no escritório para ser produtivo. Isso não tem volta.”

Fabrício Bloisi: “Dois meses atrás, eu não falaria o mesmo. Mas estamos aprendendo a trabalhar dessa forma e com eficiência. Acho que não volta de jeito nenhum para o que era antes.”

Cesar Carvalho: “Com raríssimas exceções, a gente liberou o modelo até o final de agosto, podendo seguir até o fim do ano. Acho que não tem volta.”.. Leia mais em epocanegocios 06/05/2020