Depois de 30 anos dividindo estandes nas bienais, as duas editoras se unem, mas os selos da editora carioca continuarão independentes

Nesta quinta-feira (03/10), a união das duas editoras finalmente aconteceu. A Companhia das Letras assumiu o controle da Zahar. As negociações começaram no ano passado, logo após da eleição do presidente Jair Bolsonaro. Cristina Zahar, diretora editorial, telefonou para Schwarcz com a proposta dias depois do segundo turno. A crise que castiga o mercado editorial brasileiro há alguns anos, agravada pelos pedidos de recuperação judicial das redes de livraria Saraiva e Cultura, também afetou a Zahar, mas a editora se manteve rentável.

— A Zahar tem conseguido se adaptar e se transformar ao longo do tempo, apesar das crises — disse Mariana Zahar, uma das sócias da editora, neta de Jorge. — Para continuar, nós percebemos que precisávamos nos associar a um grupo editorial maior, que nos ajudasse a investir em áreas como logística, marketing e tecnologia, e que também entendesse o legado do meu avô.

Fundada em 1956, a editora do Rio tem um catálogo composto, principalmente, por títulos de ciências humanas. A Zahar e a Pequena Zahar (o catálogo infantil da editora) passam a integrar o conjunto de 17 selos do Grupo Companhia das Letras.

Os sócios das duas editoras sublinharam que o catálogo da Zahar vai manter suas características, como a publicação de títulos de psicanálise e sociologia. Às vezes, haverá títulos duplicados: tanto a Zahar quanto a Companhia lançarão o romance  “Mulherzinhas”, de Louisa May Alcott, por exemplo. A edição da Zahar é mais luxuosa; a da Penguin-Companhia, mais barata.

Após a integração, o Grupo Companhia das Letras vai contar com um catálogo de mais de 6 mil títulos.

— Grandes editoras, como a Civilização Brasileira e a Nova Fronteira, acabaram se perdendo ao se associar a grupos maiores — afirmou Cristina, que permanecerá como consultora editorial após a integração. — Nossa maior preocupação era preservar o catálogo construído ao longo de 60 anos e depurado pelo tempo.

A integração será conduzida, do lado da Zahar, por Cristina, Mariana e pela diretora de operações Ana Paula Rocha; da parte da Companhia das Letras, por Schwarcz, pelos publishers Julia Schwarcz e Otavio Marques da Costa e pelo editor-executivo Ricardo Teperman, que se torna o publisher dos selos Zahar. Apesar da integração, não há previsão de demissões. A Zahar tem 27 funcionários; a Companhia, quase 180.

A equipe da Zahar vai se mudar para a sede carioca da Companhia das Letras no ano que vem.

— O momento agora é de dar importância à equipe da Zahar, de formá-la e deixá-la trabalhar com autonomia — disse Schwarcz. — Os selos da Zahar vão continuar independentes. A integração vai ser principalmente comercial e administrativa.

Apesar de a Penguin Random House, maior grupo editorial do mundo, controlar 70% da Companhia das Letras, as negociações foram conduzidas inteiramente pela editora brasileira. O dinheiro para a compra da Zahar também saiu todo do caixa da Companhia. Eles não falam em valores.

— É que nem o espião português: não falo nem sob tortura — brincou Lilia Moritz Schwarcz, cofundadora da Companhia das Letras.

Schwarcz pretende comemorar o sucesso das negociações com um jantar no Erno’s Bistro, onde ele conheceu Zahar, durante a Feira do Livro de Frankfurt, que ocorre entre 16 e 20 de outubro.

— Sempre fui um pouco herdeiro do Jorge porque eu aprendi muito com ele, mas nunca imaginei que seria herdeiro nesta acepção mais completa do termo — disse Schwarcz. — Estou comportado aqui, mas é um dos momentos mais emocionantes da minha vida…. Leia mais em epocanegocios 03/10/2019