Compra de shopping center nos EUA por US$ 100 milhões durante a pandemia acende alerta no mercado
Incorporadora diz querer mesclar escritórios com lojas, mas analistas questionam como será o futuro dos shoppings e dos próprios espaços corporativos
Mesmo antes da pandemia de Covid-19, as lojas do Walmart e da Sears no shopping center Baldwin Hills Crenshaw Plaza, em Los Angeles, baixaram as portas. Com o início da quarentena, todos os outros estabelecimentos do local também foram fechados, e muitos podem ter dificuldade de retornar, assim como muitos varejistas brasileiros.
Isso, no entanto, não impediu que a administradora imobiliária CIM Group comprasse o shopping center por mais de US$ 100 milhões durante a pandemia. As razões apontadas por eles são o fato de que, em breve, uma estação de monotrilho será inaugurada perto do centro comercial, o que o torna um ponto interessante. A ideia é transformar os espaços que pertenciam às duas redes de departamento em escritórios e, com isso, gerar mais fluxo para as demais lojas.
Shoppings devem reabrir com espaçamento em escadas rolantes e testagem de todos os funcionários
Mesmo com um horizonte aparentemente promissor, os analistas da Bloomberg veem a decisão do CIM Group com desconfiança: quais garantias o grupo tem de que o mundo retornará a ser o que era após a pandemia?
A reportagem questiona como será um centro de compras no pós-coronavírus. De fato, muitos espaços têm cedido lugar para escritórios. Um exemplo citado é o Westside Pavilion, também em Los Angeles, que também fica perto de uma parada de trem e está passando por uma grande reforma para que o Google possa se mudar para lá.
No entanto, mesmo a demanda de escritórios é incerta, uma vez que muitas empresas estão decidindo deixar os funcionários em casa por mais tempo – ou até permanentemente, como o Twitter e o Facebook. O cofundador do CIM, Shaul Kuba, diz que a empresa não está planejando uma “torre de vidro”, mas sim um espaço de escritórios “criativos”, que pode atrair inquilinos das indústrias de tecnologia, entretenimento ou medicina.
A Bloomberg comenta, no entanto, que a maior parte do mercado norte-americano corre na direção oposta. Somente em março, as transações com shopping centers caíram 47% em relação ao ano anterior, segundo o Real Capital Analytics.
Mesmo o bilionário Warren Buffet, que costuma assumir investimentos de risco em cenários adversos, confessou estar receoso com o futuro do varejo. “Se você possui um shopping center, tem agora vários inquilinos que não querem pagar”, ele disse a investidores este mês, durante a reunião anual de seu conglomerado, Berkshire Hathaway Inc.
Apesar de ser um movimento ousado, o CIM Group não está sozinho na tentativa de encontrar uma oportunidade em meio ao caos. Os irmãos bilionários Reuben, do Reino Unido, recentemente concordaram em pagar quase US$ 170 milhões por uma propriedade comercial na Quinta Avenida, em Manhattan. E a empresa canadense de propriedades e private equity Brookfield Asset Management, que possui dezenas de shoppings centers, está planejando um fundo de US$ 5 bilhões para assumir participações não controladoras em operações de varejo em dificuldades.
Essa perspectiva sugere que o CIM Group, e todos os outros desenvolvedores imobiliários, estão muito mais focados no potencial de reconstrução do que na economia dos varejistas. O administrador anterior do Baldwin Hills Crenshaw Plaza, o Capri Investment Group, já tinha obtido autorização para a construção de apartamentos residenciais no complexo.
A Bloomberg analisa que, como o shopping fica em uma “zona de oportunidade”, fazer algo novo no local pode tornar o projeto elegível para benefícios fiscais generosos nos investimentos federais. “Eu não acho que alguém estaria comprando um shopping agora porque quer ter um shopping”, comenta o analista da Bloomberg Intelligence Jeff Langbaum… Leia mais em revistapegn.globo 25/05/2020