O conselho de administração da Netshoes, liderado por Marcio Kumruian, elevou o tom ao descartar de forma mais clara a proposta da Centauro pela empresa. Com 12,5% das ações da Netshoes, Kumruian já fechou um acordo para apoiar a oferta da Magazine Luiza, e há semanas vem reforçando essa posição. Em documento enviado ontem à SEC, órgão que regula o mercado nos EUA, o colegiado da Netshoes considerou a oferta da Centauro “insuficiente” para compensar eventuais riscos de liquidez da varejista on-line.

O Magazine ofereceu US$ 3 por ação da Netshoes – abaixo da cotação na bolsa americana, ontem em US$ 3,21 – e a Centauro propôs US$ 3,50. No acordo entre Kumruian e Magazine, é garantida a manutenção do empresário na gestão da empresa por 12 meses e recebimento de ações da varejista, segundo um conjunto de condições. Para o Magazine, a permanência de Kumruian pode ser positiva ao negócio. O Valor apurou que a proposta da Centauro não prevê a permanência.

São necessários dois terços dos votos dos acionistas para ter a oferta aprovada na assembleia da Netshoes. A proposta da rede da família Trajano está marcada para ser deliberada em assembleia no dia 14. A data anterior era 30 de maio, mas após a Centauro oferecer mais do que Magazine pela empresa, a Netshoes decidiu, pouco mais de 12 horas antes da assembleia, adiar a votação. Se a oferta do Magazine não passar no dia 14, as condições apresentadas pela Centauro devem ser analisadas pelos acionistas da Netshoes.

No formulário encaminhado à SEC, a Netshoes diz que a oferta da Centauro “não aborda adequadamente as preocupações de liquidez” da Netshoes. E afirma que “o diferencial de preço incremental [da Centauro] é insuficiente para compensar os riscos relacionados a um cronograma potencialmente mais longo para o fechamento” [da transação].” Em maio, a Centauro elevou a oferta de US$ 2,80 para US$ 3,50 por ação.

“Os desafios de liquidez de curto prazo da companhia [Netshoes] constituem uma preocupação significativa em relação à proposta da Centauro, em vista de um cronograma que deve ser de dois a quatro meses maior” que o acordo de com o Magazine, diz a Netshoes. Para o conselho da varejista on-line, o Cade, órgão antitruste, levaria até quatro meses para avaliar um acordo com Centauro.

Em março, o caixa líquido negativo da Netshoes era de R$ 132 milhões. Segundo apurou o Valor, dois fundos teriam acenado com linhas de crédito à Netshoes, na faixa de R$ 100 milhões, a taxas avaliadas como elevadas pela companhia, caso a empresa precise acessar capital no curto prazo. Em maio, à SEC, a Netshoes já informou que precisa de aportes constantes por 12 meses.

Essa questão financeira é repetidamente destacada pelo Magazine e pela Netshoes, porque consideram que se os acionistas fecharem com a Centauro e não houver aportes no valor necessário, os acionistas poderiam “ficar na mão”, resume uma fonte. A Centauro fez uma oferta inicial de ações (IPO) de R$ 700 milhões em abril e reduziu sua alavancagem. Quatro bancos abriram uma linha de cerca de R$ 400 milhões à rede de artigos esportivos para a compra da Netshoes, apurou o Valor.

O conselho da Netshoes já havia defendido a oferta da rede da família Trajano, mas desta vez há comparações entre as condições. A análise considera “o pacote como um todo” ofertado pelas empresas, ao entender que Magazine é melhor que Netshoes, diz uma fonte. Avalia que o Cade, órgão antitruste, já aprovou a operação, logo a transação não deve se estender.

O Valor apurou que no fim da semana passada, antes do envio do documento à SEC, o Magazine teria criticado mais duramente as condições da proposta da Centauro a membros do conselho da Netshoes (com seis cadeiras, sendo dois membros independentes). O Magazine não comenta a informação. Magazine e alguns conselheiros da Netshoes têm se comunicado com frequência nos últimos dias, dizem fontes.

Kumruian não votou na reunião do conselho da Netshoes em maio, que deliberou sobre a proposta do Magazine, por causa de risco de conflito de interesses. Mas como sócio, vota na assembleia no dia 14. O empresário assinou no mês passado um acordo com o Magazine para apoiar a proposta. Além dele, a sua irmã, Graciela, e o fundo Tiger (somados, os 3 têm 48% das ações) já declararam apoio ao Magazine. – que precisa de 66% dos votos no dia 14.

Segundo o formulário encaminhado à SEC, Kumruian “pode ter interesses que diferem de seus interesses como acionista, em relação à aprovação das deliberações na assembleia geral extraordinária”. O texto acrescenta que Kumruian “assinou um contrato de emprego com o Magazine Luiza para ocupar um cargo na [empresa] por 12 meses após a conclusão da incorporação”. A irmã de Kumruian, Graciela Tanaka, diretora da Netshoes, também fica na empresa por 12 meses. Ambos assinaram ainda um acordo de não concorrência por 30 meses após deixar o negócio. Fonte:Valor Econômico .. Leia mais em portal.newsnet 05/06/2019