Desafio. Instituições precisarão se ajustar a um cenário em que a captação de recursos será mais cara, a concorrências com os grandes bancos será mais acirrada e haverá necessidade de capitalizações para atender as exigências do Banco Central

Se 2012 promete ser desafiador para os grandes bancos, nas instituições de menor porte o desafio será ainda maior, avaliam analistas consultados pela “Agência Estado”. A expectativa é de captação mais cara de recursos, necessidade de capitalização de alguns bancos e forte concorrência com os grandes em linhas como crédito consignado.

Os especialistas também esperam intensificação de fusões e aquisições. No fim de 2011, o Cruzeiro do Sul acertou a compra do Prosper e mais negócios devem surgir por aí. A agência de classificação de risco Fitch destaca que as notas de crédito de alguns bancos médios podem ser rebaixadas em 2012, por causa da piora da qualidade de ativos e de pressões de financiamento.

No fim de 2011, o Banco Central tentou melhorar o ambiente para esses bancos. Reduziu o porcentual de parte dos depósitos compulsórios que é remunerado pela taxa Selic. A intenção é que grandes bancos tirem o dinheiro do BC e comprem ativos das instituições menores, como letras financeiras e carteiras de crédito.

Em meio ao temor de uma piora do cenário e queda da liquidez, os bancos, tanto os de consignado quanto aqueles focados em empréstimos para empresas de menor porte, colocaram o pé no freio na concessão de créditos a partir de meados de 2011. O diretor de um banco focado em consignado diz que a tendência é de maior cautela também no começo de 2012, por causa do cenário ainda incerto na Europa, que dificulta captações no exterior.

Já para quem empresta para empresas de menor porte, a perspectiva é um pouco melhor. A razão é que grandes bancos, como o Itaú, reduziram as concessões para o segmento, por conta da alta da inadimplência. Como os bancos médios são focados no chamado “middle market”, podem aproveitar a oportunidade para ganhar espaço.

Basileia. Em um cenário de captação mais cara de recursos e forte concorrência, o presidente da Austin Asis, Erivelto Rodrigues, prevê mais fusões e aquisições no setor. “Alguns desses bancos não estão bem capitalizados, com índice de Basileia próximo do mínimo exigido pelo BC (11%). Não sei até que ponto os controladores vão querer fazer novos aportes”, disse o analista. Para ele, alguns “bancos precisarão buscar sócios estratégicos, outros terão que redefinir sua atuação”.

Dados do BC mostram que, em setembro, vários bancos estavam no limite da capitalização, com índice de Basileia abaixo ou ligeiramente acima dos 11% exigidos. Em 2011, foram várias trocas de controle entre os bancos médios, algumas com a participação do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que liberou R$ 7,5 bilhões para viabilizar fusões. Descapitalizado, o Schahin, passou para as mãos do BMG. O Matone foi vendido ao Banco JBS. O Panamericano, foi parar no BTG Pactual depois da descoberta de um rombo de R$ 4,2 bilhões em suas contas.

Além desses negócios que contaram com a ajuda do FGC, houve outros casos em que o fundo não participou, como a troca de controle do BVA e a entrada de novos investidores no Indusval. A operação mais recente foi a compra do Banco Porto Seguro, que não era operacional, pela BR Partners, que pretende se tornar banco de investimento. Já o Banco Luso Brasileiro recebeu um aporte de R$ 100 milhões de dois novos investidores: o grupo português Amorim e a fabricante de carrocerias Caio Induscar.

No mercado, comenta-se que há mais bancos médios à venda. Um dos nomes citados é o do português Banif, que teria interesse em se desfazer de sua operação no Brasil. Nuno Correia, porta-voz do Banif em Lisboa, diz que sempre em momentos de crise surgem rumores de que o banco está a venda, mas o executivo nega essa intenção e destaca que o Brasil é prioridade para o grupo português. Por ALTAMIRO SILVA JÚNIOR
Fonte:OEstadodeSPaulo04/01/2012