Empresas que já registraram ofertas voltam atrás diante do cenário de volatilidade do mercado de ações. Esperava-se que 2011 marcasse o retorno triunfal dos IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) no mercado brasileiro.

Segundo informações divulgadas pela própria BM&FBovespa no início do ano, a perspectiva era de que este ano fosse comparável a 2007, símbolo de aceleração da entrada de novas companhias na Bolsa, com 63 aberturas de capital. Até agora, porém, somente 11 empresas fizeram IPOs em 2011. E, com o novo cenário de crise, é provável que esse número não mude até dezembro.

As seis empresas que ainda tinham o pedido de abertura de capital registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estão revendo planos, adiando a operação indefinidamente. A Camil Alimentos, a empresa de engenharia Enesa e a Perenco Petróleo e Gás informaram a suspensão do IPO ao órgão. O Estado apurou que a In Brands – dona de marcas como Ellus – seguirá o mesmo caminho. A LG Agronegócios também deu indicativos de que desistirá da operação. Outra companhia de óleo e gás, a Petrorecôncavo, decidiu esperar a volatilidade passar. “O IPO não vai acontecer no curto prazo”, afirma Rafael Procaci da Cunha, diretor administrativo e financeiro da empresa.

Mesmo antes da crise, havia indicações de que talvez o mercado não estivesse muito favorável a aberturas de capital. Além de várias operações realizadas em 2011 terem saído abaixo do preço mínimo indicado pelas empresas (veja ao lado), o padrão de desistência ou suspensão de IPOs já vinha sendo percebido nos últimos meses. Entre as empresas que voltaram atrás na intenção de entrar na Bolsa ao longo do ano estão a Copersucar, a sucroalcooleira Tereos, a cimenteira Liz, a Companhia de Águas do Brasil e a construtora WTorre.

Para André Viola Ferreira, sócio da Ernst & Young Terco, não há indicações de que o ritmo de IPOs virá a fazer jus à euforia projetada por alguns agentes de mercado. “A Bovespa tinha planos de fazer 200 ofertas públicas iniciais em três anos. Estamos bem longe disso”, ressalta. Segundo Miguel Daoud, sócio da Global Financial Advisor, é preciso que o mercado mostre alguma estabilidade antes do retorno das aberturas de capital. “A festa acabou antes que algumas empresas lançassem suas ações. Agora, é o momento de se recolher.”

Contramão. Na segunda-feira, dia de pânico nas bolsas mundiais – a Bovespa caiu 8,08%, a maior baixa em quase três anos -, a operadora de turismo CVC registrou sua oferta de ações na CVM. No entanto, a operação da companhia tem um perfil diferente: trata-se do movimento de um sócio (o fundo americano Carlyle), que tenta se desfazer de sua fatia com a entrada no mercado de capitais. “Enquanto as outras empresas tentam levantar capital, a CVC é estabelecida e tem bons fundamentos. Mas corre o risco de ser precificada para baixo diante da situação”, diz uma fonte de mercado.

Além disso, a operação inclui uma cláusula de garantia. Caso o número de interessados não seja suficiente para a venda dos 63,6% que o Carlyle hoje detém na CVC, os coordenadores da oferta se comprometem a adquirir as ações “sem dono”. O coordenador líder da oferta é o Itaú BBA, com participação de Morgan Stanley, Bank of America Merrill Lynch e BTG Pactual.

Fonte:OEstadodeSão Paulo11/08/2011