A dança das cadeiras no Burger King.
Sociedade com a Vinci afasta investidores e leva franqueados a rever o negócio.
Está em curso uma dança das cadeiras entre os franqueados do Burger King no Brasil. O fundo de private equity do banco BR Partners, que havia anunciado a compra da BGK, maior franqueada da cadeia americana no País, desistiu da operação. E essa não é a única baixa.
O fundo Kinea, do banco Itaú, que pretendia entrar na rede, deixou a mesa de negociações. Agora, alguns franqueados do Burger King cogitam vender seus restaurantes. Um deles deve fechar negócio nas próximas semanas.
A origem do rearranjo está em um acordo firmado há menos de dois meses entre a corporação Burger King, nos Estados Unidos, e a Vinci Partners, gestora de recursos do banqueiro Gilberto Sayão. As duas partes tornaram-se sócias na Burger King do Brasil, master franqueada da rede.
Essa nova empresa passou a coordenar todas as franquias do País e tornou-se o principal braço de expansão da cadeia de fast food – o que frustrou os planos tanto dos fundos de investimento como de franqueados.
Ao todo, a rede americana pretende abrir quase 900 lojas no Brasil nos próximos cinco anos. Segundo o Estado apurou, a maior parte será da recém-criada Burger King do Brasil, que deve investir R$ 900 milhões na abertura de restaurantes.
Para entender o imbróglio, é preciso voltar até o fim do ano passado, quando o mítico grupo de empresários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles comprou a cadeia americana de fast food. Com sua agressividade característica, o trio anunciou que iria turbinar o crescimento do negócio, especialmente no Brasil. O Burger King desembarcou no País em 2004 e, por meio de 11 franqueados, abriu pouco mais de 100 lojas até agora – um desempenho considerado fraco pelos atuais donos da rede. Esse número representa um sexto dos de restaurantes do arquirrival McDonald”s.
Criou-se, então, o cenário perfeito para os fundos: com o aval dos novos controladores, eles poderiam investir nas franquias, acelerar sua expansão e, mais tarde, lucrar com a abertura de capital ou a venda dessas operações. Um episódio recente dá uma ideia de quanto dinheiro é possível ganhar com o negócio de sanduíches. No início do ano, a Arcos Dorados, que administra a marca McDonald”s na América Latina, captou US$ 1, 25 bilhão em seu IPO em Nova York.
Água fria. Foi com a ambição de promover um movimento desse tipo que o Kinea passou meses negociando com o franqueado do Burger King do Rio de Janeiro. O BR Partners, por sua vez, chegou a assinar a compra de 65% da rede de lanchonetes na cidade de São de Paulo. Mas o surgimento da Burger King do Brasil foi um balde de água fria para os investidores. Ao criar um master franqueado fortemente capitalizado, a companhia mostrou que quem deve mesmo lucrar com o futuro IPO da rede no País são Lemann, Sicupira, Telles e seus sócios da Vinci Partners.
Além disso, os fundos sentiram-se desconfortáveis com uma figura que, ao mesmo tempo, autoriza os planos de abertura de lojas dos demais franqueados e compete com eles. “Na briga por pontos de venda em uma cidade, quem você acha que ganha?”, disse um franqueado.
Procurados, o Kinea não fez comentários e o BR Partners informou que “a transação anunciada (com a franquia BGK) estava sujeita a uma série de condições que não foram satisfatoriamente atendidas.” O dinheiro acertado na transação não chegou a ser pago. O Burger King do Brasil também não concedeu entrevista para esta reportagem. Em junho, quando foi anunciado o acordo com a Vinci, Iuri Miranda, presidente da empresa, informou que os contratos existentes com franqueados seriam respeitados e que os empresários que atualmente possuem restaurantes vão participar do crescimento da rede no Brasil.
O fato é que, diante do novo modelo, os franqueados começam a se reorganizar. A Burger King do Brasil já abriu a possibilidade de comprar as lojas dos insatisfeitos. Um dos franqueados, segundo o Estado apurou, está em fase avançada de negociação – além da master franqueada, ele conversa com outros dois donos de lojas. Demais empresários consultados disseram que cogitam vender seus negócios.
Alguns franqueados ficaram especialmente enfraquecidos depois da criação da Burger King do Brasil. Pelo menos dois deles – um do Rio de Janeiro e outro do interior de São Paulo – já perderam seus contratos para o desenvolvimento de novas lojas, segundo fontes próximas. A nova gestão, mais rígida que a anterior, alegou que eles descumpriram regras do acordo.
As mudanças de regras, porém, não geraram só descontentamento. “Tem um lado bom”, diz Beto Costa, presidente da área de fast food do grupo paraguaio A.J. Vierci, que tem dez lojas Burger King no Brasil e pretende investir US$ 10 milhões em novos restaurantes até o fim do ano. “Antes, era a corporação nos EUA que definia as políticas do Brasil. Agora, com um master franqueado local, as decisões devem ser mais rápidas. Além disso, os investimentos em marketing já são mais pesados.”
A trajetória do Burger King no País
Novembro de 2004
Burger King chega ao Brasil, depois de uma década de tentativas, com a intenção de abrir 700 lojas em dez anos
Setembro de 2010
O fundo 3G Capital Management, controlado por Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles, compra o Burger King
Dezembro de 2010
Burger King comemora a abertura de sua centésima loja no Brasil, um resultado muito aquém dos planos iniciais
Abril de 2011
O braço de private equity do banco BR Partners anuncia compra de 65% da BGK, maior franqueada da rede no País
Junho de 2011
Burger King fecha acordo com a gestora Vinci Partners, para a criação, em conjunto, de uma master franqueada
Fonte: OEstado de São Paulo08/08/2011