Num novo movimento que mostra o quão desgastada está a relação entre os sócios da Saraiva, a gestora GWI Asset Management, com 44,9% das ações preferenciais da rede, deve entrar com pedido de liminar nos próximos dias para tentar impedir a realização de uma assembleia geral extraordinária, convocada pelo conselho de administração da rede para o dia 16, segundo apurou o Valor.

A Saraiva deve tomar a decisão de encaminhar, neste mês, a disputa entre os acionistas para a câmara de arbitragem, segundo fonte.

Na assembleia que a GWI tenta derrubar deverá ser deliberada a suspensão dos direitos dos fundos da gestora, sócios da empresa, segundo edital de convocação publicado no sábado. Também será votada a destituição do coreano Mu Hak You, fundador da GWI, do cargo de conselheiro, e de Ana Maria Recart da função de membro do conselho fiscal (indicada por You). A assembleia ainda decidirá sobre o início de uma ação de responsabilidade civil contra You e Ana.

Ambos estão nos conselhos há menos de dois meses e as poucas reuniões que ocorreram foram tensas. Falta entendimento em quase tudo. De um lado, há a família, na gestão da rede há anos, com quase 60% das ações com direito a voto. Do outro está Hak You, com histórico no conselho de Lojas Americanas e B2W e conhecido por mostrar-se ousado na estrutura de alavancagem de seus fundos.
Na prática, a GWI tenta reagir se protegendo após a Saraiva ter conseguido impedir, no fim de junho, assembleia solicitada pela GWI para tratar da situação da rede.

Em notificação ao conselho em 10 de junho, o grupo GWI defendeu que o colegiado convocasse assembleia para deliberar sobre “medidas necessárias para mitigar a possibilidade iminente de insolvência” da rede. Se não o fizesse, caberia a ele, Hak You, fazer a convocação. E ele o fez para o dia 21 de junho.

A empresa, então, pediu, no fim de junho, uma liminar na Justiça de São Paulo para cancelar a convocação da assembleia pela GWI, alegando falta de embasamento para o pedido. A Saraiva alegou que a GWI estaria convocando uma assembleia para criar uma “história falaciosa” no mercado para obter ganhos com o papel da Saraiva, por meio da criação de fatos para aumentar volatilidade das ações, o que favoreceria Hak You.

A liminar foi concedida à Saraiva no dia 20, e logo depois, a GWI entrou com pedido para suspender a decisão. O pedido foi indeferido no último dia 28.

A má relação entre os sócios, revelada pelo Valor em maio, só piorou desde então. O descontentamento dos minoritários cresceu depois que empresa decidiu dar um bônus no valor total de R$ 3,4 milhões aos executivos envolvidos numa transação de venda dos ativos. Fraco desempenho operacional e o não pagamento de dividendos no ano passado aumentaram a insatisfação dos minoritários.

O principal problema visto pelo coreano está na gestão da Saraiva pela família fundadora. O processo de reestruturação iniciado há mais de um ano não deu resultados e a empresa não age para mudar, na visão do sócio. Já a família Saraiva entende que as decisões voltadas para a reestruturação estão sendo tomadas e que a GWI tumultua o ambiente. Paralelamente aos embates envolvendo as convocações de assembleias, a Saraiva enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na terça-feira passada, um pedido de investigação do grupo GWI. A representação se baseia em indícios de violação de deveres fiduciários, abuso de direito de acionista e infração a instruções da CVM. A GWI publica hoje esclarecimento ao mercado em que rebate pontos da representação encaminhada à CVM.

No documento para a comissão, a Saraiva diz que Hak You é conhecido por sua “atuação desastrosa no mercado de capitais” e tem solicitado volume “inadequado” de dados sobre a empresa ao comando, e que isso ocupa o tempo da direção. E que a GWI teria alguma aposta na queda das ações da rede, em especial nos dias que Hak You queria deliberar sobre suposta insolvência da empresa.
No esclarecimento, a GWI diz que os pedidos de dados são feitos por escrito e com “as devidas explicações e fundamentações” e que uma funções do membro do conselho é fiscalização. Ainda diz que a GWI tem trabalhado em “prol de transparência e governança” e que “não manipula ações com informações confidenciais e não se beneficia com a queda das ações”. – Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 06/07/2016