Graal, da família Gradin, vai à Justiça e acusa Credit Suisse de ‘conluio’ com os Odebrecht

Banco teria reduzido valor de empresas de R$ 25 bi para R$ 9 bi; instituição refuta acusações

Uma disputa entre os principais acionistas do grupo Odebrecht, um dos maiores da América Latina, acabou expondo o Credit Suisse, contratado para fazer suas avaliações financeiras.

O banco está sendo acusado na Justiça de “conluio” com a família Odebrecht para prejudicar os Gradin, sócios do grupo há cerca de quatro décadas. Os Gradin dizem já ter contestado avaliações antes, mas é a primeira vez que denunciam um suposto conflito de interesse.

As duas famílias se desentenderam no ano passado, quando os Odebrecht decidiram mudar o contrato que há uma década disciplina as relações entre os acionistas do grupo. Os Gradin rejeitaram a proposta e os Odebrecht resolveram afastá-los do grupo, comprando suas ações.

O acordo de acionistas dá aos Odebrecht o direito de fazer isso em determinadas situações. Mas os Gradin alegam que as condições previstas no contrato não foram respeitadas, não gostaram do preço oferecido e decidiram levar a disputa à Justiça em dezembro de 2010.

O grupo Odebrecht é controlado pela Odbinv, companhia cujos principais acionistas são a Kieppe, que pertence à família Odebrecht e tem participação de 63% das ações, e a Graal, da família Gradin, com 20,6% das ações.

Para obter as ações da Graal, a Kieppe moveu um processo, em março deste ano. O valor a ser pago teria como base a última avaliação do Credit Suisse.

A Graal negou-se a fazer a transferência e, em sua contestação à Justiça, acusou o banco de, “em conluio com a Kieppe”, ter feito uma “enorme e ilícita subavaliação” dos ativos do grupo.

De acordo com os cálculos da Graal, o grupo valeria entre R$ 25 bilhões e R$ 28 bilhões, e não R$ 9 bilhões, como atestou o Credit Suisse.

Na ação, a Graal questionou o banco usando negócios fechados pelo grupo como exemplo. Segundo a Graal, em alguns o Credit Suisse atuou como “conselheiro”.

Foi assim na venda de 14,3% da OOG (Odebrecht Óleo & Gás) pelo Temasak, fundo soberano de Cingapura, por US$ 400 milhões.

A Graal afirma que, por esse valor, significa que o Credit avaliou toda a OOG em US$ 2,9 bilhões. Mas, no cálculo apresentado à Odbvin, o valor foi de US$ 1,3 bilhão.

Outro caso foi o da Foz do Brasil. Em outubro de 2010, o FI-FGTS adquiriu 26,53% da empresa por R$ 650 milhões.

A cifra, ainda segundo a Graal, indica que, para o mercado, a Foz valia R$ 3,2 bilhões, e não R$ 1,9 bilhão, como afirmou o Credit.

ARBITRAGEM

Diante do impasse, a Graal entrou com pedido de arbitragem no final do ano passado. A arbitragem é um procedimento em que uma disputa privada é decidida por uma câmara composta por juízes independentes.

A audiência ainda não foi marcada pela Justiça, que, por liminar, impediu que os Gradin transferissem suas ações à Kieppe até que a arbitragem seja concluída.

Em caso de derrota, a avaliação do Credit Suisse será a referência para a venda dos papéis em posse da família.

Credit nega acusações sobre avaliação

O Credit Suisse negou as acusações da Graal, mas não discutiu os critérios da última avaliação. O banco informou que há dez anos é responsável pela avaliação anual das empresas do grupo Odebrecht, como prevê o Acordo de Acionistas da Odbinv (Odebrecht Investimentos).

Segundo o banco, a avaliação segue critérios previstos nesse acordo que são os mesmos utilizados pelo mercado. A avaliação tem sido anualmente submetida a análise, discussão e posterior aprovação de todos os sócios.

A mais recente avaliação foi entregue aos acionistas em 15 de junho de 2010. Em 5 de agosto de 2010, foi apresentada em assembleia e depois aprovada, por unanimidade, sem questionamentos, inclusive pela Graal. (JW)

Fonte:Folhadesp20/08/2011