O CEO da TruckPad, maior plataforma de conexão entre caminhoneiros e cargas na América Latina, Carlos Mira, foi o convidado da live da IstoÉ Dinheiro, na quinta-feira (23). Em entrevista ao jornalista Beto Silva, o empresário avaliou o cenário de setor de cargas no Brasil e conta como construiu, a partir de experiências malsucedidas e arrojo, uma startup que conecta os caminhoneiros à suas cargas.
A concepção do TruckPad é transformar-se ainda mais num ambiente digital para os caminhoneiros. Segundo ele, “os maiores empreendedores do Brasil”. Na verdade, o negócio que Mira criou é um modelo similar ao Uber. “Ninguém acreditava em mim, quando tive a ideia de empreender nessa área. Nem mesmo a minha família”, lembra.
A TruckPad não cobra dos motoristas de caminhões, que podem ganhar até 50% a mais em suas entregas com o fim de agenciadores. Quem paga são as transportadoras, que contratam fretes pela startup por meio de duas formas: uma assinatura mensal ou um percentual de 2,5% a 5% sobre cada encomenda.
Outra forma de monetização é o marketplace, por celular, para vender itens de marcas como Mapfre, Mercedes-Benz e Michelin. “Em todo o ano de 2019, pagamos R$ 700 milhões de fretes. Só em junho deste ano negociamos R$1 bilhão”, comemora. “Crescemos em média 40% mês a mês nessa pandemia”, comemora.
Mira não está blefando. O sucesso de TruckPad pode ser, facilmente, medida em números. Hoje, a empresa soma mais de 1,2 milhão de downloads, 500 mil caminhoneiros autônomos cadastrados e mais de 12 mil transportadoras como clientes, além de investidores como Mercedes-Benz, Maplink, Plug and Play Tech Center (a mais ativa aceleradora de startups do Vale do Silício) e FTA (Full Truck Alliance), gigante chinesa do setor de transportes.
“Saímos de um processo arcaico de comunicação para um mundo novo da digitalização das transportadoras. Há oito anos, quase nenhum motorista de caminhão tinha celular”, diz. Ele explica que a empresa teve que “evangelizar” e “explicar como funcionava a ferramenta”.
O executivo conta que foram 35 anos trabalhando na transportadora de sua família antes da decisão de vender sua parte no negócio e empreender.
Tudo começou, em 2011, quando o empresário conheceu o Vale do Silício, nos Estados Unidos, onde viu de perto o poder da transformação digital. De volta ao Brasil, fundou em 2013 o aplicativo TruckPad, e atualmente contabiliza 250 funcionários, que antes da pandemia, ocupavam cinco andares de um prédio na avenida paulista.
“Hoje estamos 100% operando em home-office, com funcionários até no exterior, na praia e no interior. Cada um foi para onde se sentia mais confortável. Fiquei gratamente surpreso com a dedicação da equipe. Batemos todas nossas metas. Crescemos 40% só no mês de junho, em plena pandemia. Não sabemos ainda se voltamos ou não sistema anterior”, afirma.
Carlos Mira comenta que as novidades tecnológicas fizeram a startup conquistar o mercado, como chatbots e os robôs programados para interagir com os clientes. Revela ainda que a empresa vai apresentar aos clientes carteira eletrônica, pagamento e recebimento pelo aplicativo.
Segundo Mira, a startup lançará a carteira digital para motoristas vinculados à plataforma. Batizada de TruckPadPay, a solução permite que os condutores associados recebam os pagamentos dos fretes diretamente na e-wallet, além de utilizá-la para compra de produtos e serviços no caminho da entrega. Na prática, Mira acredita também, assim como os sócios chineses, que o dinheiro papel está com os dias contados.
 
Ele explica que a carteira será um aplicativo separado do app principal e terá pagamento via QR Code em uma rede de estabelecimentos credenciados. “Um motorista pode usar o saldo da carteira para pagar por produtos ou serviços automotivos a princípio, além de transferir para sua conta corrente. A carga é feita por ‘ordem eletrônica de pagamento’, da transportadora para o motorista contratado por meio do TruckPad Pay e as lojas do setor aceitarão o pagamento via QR Code.”
“Com o sistema em operação, o motorista pode pagar e receber diretamente no celular e não precisa mais do cartão. Por sua vez, a transportadora não precisa carregar diversos cartões e pagar todo o valor de uma vez, pois o TruckPad Pay cobra à medida que o motorista vai utilizando o saldo de sua carteira”, antecipa.
Na entrevista, o empresário também avalia que que a visibilidade da empresa atraiu investimentos para financiar a expansão dos negócios. A TruckPad recebeu aportes da Plug and Play, que comprou uma fatia da startup de menos de 5%, da LBS Local, grupo dono da Maplink e do Apontador, e ainda da Movile, que controla o iFood.
“A Plug and Play me ajudou a instrumentalizar o aplicativo. A Movile era super especialista em apps, com iFood, PlayKids e Sympla, e ajudou a construir uma plataforma escalável, a pensar a usabilidade. E a MapLink, a empresa que eu mais usava para fazer mapas digitais. Para mim, esses investimentos corporativos valem mais do que dinheiro porque nos pluga no DNA da companhia.”.. Leia mais em istoedinheiro 24/07/2020