A viação Itapemirim, que está em recuperação judicial, informou ontem nos autos do processo de RJ que o empresário do ramo imobiliário, Galeb Baufaker Junior, que iria comprar a ITA Transportes Aéreos desistiu do negócio. A venda da aérea, anunciada há menos de um mês, levantou muita polêmica.

“Existia um pretenso comprador para a ITA, porem o mesmo desistiu devido a grande insegurança jurídica (palavras do comprador)”, escreveram os advogados da Itapemirim no documento enviado à corte de falência.

Em uma outra notificação, que o Valor teve acesso, Baufaker defendeu a rescisão do contrato, mas deixou em aberto uma janela para negociar novamente o ativo após a assembleia de credores.

O fim das tratativas por enquanto seria um reflexo da decisão da Justiça de bloquear e indisponibilizar o patrimônio de Sidnei Piva, dono da Itapemirim. Tal bloqueio, segundo os advogados de Baufaker, traria uma grande insegurança jurídica ao negócio. “Por fim, informamos que, após a realização da assembleia de credores, retomaremos as negociações”, disse a equipe de Baufaker no documento. Ainda não há uma data definida para a assembleia.

O empresário deu uma entrevista exclusiva ao Valor logo após o anúncio do negócio. Baufaker não tem experiência no setor de transporte aéreo, tradicionalmente conhecido por margens apertadas.

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Empresário desiste de comprar ITA

Apesar de alegar insegurança jurídica, já era sabido que a tentativa de comprar a ITA, assim como o ITA Bank, seria complexa. Baufaker assumiria um passivo estimado em R$ 180 milhões, que abraça pendências trabalhistas e com credores, multas e processos. Também haveria o compromisso de devolver R$ 35 milhões à Itapemirim — no ano passado credores da Itapemirim reclamaram que Piva estava tirando dinheiro do caixa da viação para bancar a companhia aérea. Quando decidiu criar a ITA, em meados de 2021, Piva disse que tratava-se de uma empresa separada da Itapemirim.

Mesmo demonstrando interesse em comprar o ativo, o financiamento do negócio não parecia estar 100% fechado. Na primeira entrevista ao Valor, Baufaker disse que teria uma linha de crédito de aproximadamente R$ 110 milhões com dois bancos brasileiros, usando como garantia um terreno em Gama, município vizinho a Brasília às margens da DF-180.

Em uma segunda entrevista ao Valor, dois dias depois, disse que a linha de crédito, já garantida, era de R$ 32 milhões. O executivo não apresentou documentos que comprovem as tratativas.

Também disse estar próximo de receber um empréstimo de R$ 250 milhões contraído com dois bancos americanos. Questionado, disse que não podia divulgar os nomes, “mesmo sendo 99% de certeza [de liberação do recurso]”.

A promessa de recursos cuja fonte não é informada também marcou o início da ITA. Piva criou a aérea em meados do ano passado alegando ter recebido investimento de US$ 500 milhões de dois fundos árabes — nunca informou os nomes. Chegou a dizer que usou parte do dinheiro, mas um tempo depois afirmou que o acordou fracassou e que o dinheiro não estava mais disponível.

O Ministério Público de São Paulo pediu que a aérea fosse incluída no processo de recuperação judicial da Itapemirim e que fosse decretada a falência das duas empresas. A EXM Partners, administradora judicial da recuperação da Itapemirim, demandou por diversas vezes o contrato de venda, mas a solicitação não foi atendida. A EXM alega que qualquer tipo de venda de ativo do grupo teria de passar por aprovação dos credores…… leia mais em Valor Econômico 03/05/2022