Companhias europeias estão tendo que reavaliar o custo de uma onda de grandes aquisições feitas em tempos mais propícios, em um momento no qual reguladores alertam sobre valores desatualizados de ativos.

 As companhias são obrigadas a garantir que a soma dos valores de ativos intangíveis em suas contas reflitam precisamente os benefícios econômicos futuros de um alvo de aquisição. Em um momento no qual a recessão assombra, algumas empresas estão cada vez mais relutantes em reduzir números que vão refletir o tamanho do prêmio pago pelas compras.

 O regulador europeu de mercados, a ESMA, estimou neste mês que apenas 5 por cento do valor de ativos intangíveis de companhias europeias analisadas havia sido registrado como baixa contábil para refletir as atuais condições de negociações, o que torna difícil analisar o real valor desses ativos e as qualidades administrativas.

 A ESMA destacou os serviços financeiros e o setor de telecomunicações, mas outra pesquisa mostrou que os setores automotivo e de metais também têm destaque, além de ressaltar a Itália e a Espanha como áreas de preocupação.

 A ESMA diz que se as baixas contábeis ocasionadas por ativos intangíveis não se tornarem mais precisas neste ano, a entidade vai começar a divulgar publicamente as empresas consideradas as principais transgressoras.

 Atribuir uma baixa contábil a aquisições pode refletir negócios realizados com pressa e displicência ou meramente uma desaceleração econômica, disse à Reuters Simon Jones, diretor de avaliação da American Appraisal.

 “Se o mercado está indo em uma direção, isso está além do controle da gerência”, disse ele.

 Mas se essas baixas contábeis não forem feitas, ou não refletirem o suficiente, investidores vão adotar suas próprias visões sobre o assunto.

 Ao fim de 2011, quase 25 por cento das 600 companhias listadas no índice Stoxx Europe foram negociadas bem abaixo do valor registrado, ante 10 por cento quatro anos antes, segundo estudo do banco de investimentos Houlian Lokey.

 SINAIS DE ALERTA

 Os setores de automóveis, metais, bancos e seguros estavam entre os que mais tiveram companhias com um valor de mercado abaixo de 90 por cento do valor registrado do capital.

 Em termos de regiões, Itália e Espanha mostrar as piores proporções de capitalização de mercado sobre valor registrado do capital, com apenas 43 e 58 por cento, respectivamente.

 A empresa de equipamentos de telecomunicações franco-americana Alcatel-Lucent está sofrendo com sua fusão de 13,4 bilhões de dólares de 2006, que deve entregar menos sinergias do que o esperado. O ativo intangível ficou em 4,3 bilhões de euros, ante valor de mercado de 3 bilhões.

 A maior parte dos piores casos em termos de proporção está no setor bancário, com 15 por cento para o Banco Comercial Português, 24 por cento para Banco Popolare e 29 por cento para o Unione di Banche Italiane.

 A mineradora Rio Tinto, neste mês, demitiu o presidente-executivo Tom Albanese e revelou uma baixa contábil de 14 bilhões de dólares, quase inteiramente ligada ao valor de suas duas principais aquisições.

 “É realmente simples. Grandes aquisições, especialmente grandes aquisições com grandes prêmios, são realmente perigosas. Sabemos disso há anos”, disse à Reuters um dos principais investidores da Rio Tinto.

 Ativos intangíveis e reduções de capital não impactam o fluxo de caixa, mas podem custar o emprego de executivos do primeiro escalão.

 “As companhias tendem a atribuir baixa contábil sobre ativos intangíveis depois que o mercado já antecipou o risco. Mas isso pode ser positivo porque mostra que a administração tem uma abordagem realista e… mostra que eles podem ter uma estratégia futura”, disse Hayn.

 Alguns investidores já desconsideram o valor de ativos intangíveis quando avaliam se compram ou vendem ações. Mas eles prefeririam que as companhias sejam mais transparentes para atentar a investidores menos atentos.

Reuters  Por Anjuli Davies e Sophie Sassard e Sinead Cruise
(Reportagem adicional de Chris Vellacott)

Fonte:jotnalacidade 29/01/2013