Botelho, presidente: “As condições de como se dará a venda não estão definidas” O grupo de origem mineira Energisa, que detém nove concessões de distribuição de energia no país, estuda a possibilidade de participar do leilão de privatização das seis distribuidoras da Eletrobras situadas no Norte e Nordeste.

A companhia, no entanto, aguarda a definição de todas as condições do certame para decidir se, de fato, terá interesse pelo negócio. “O crescimento inorgânico, que seria através de aquisições, sempre esteve no nosso foco, mas não temos nada definido a respeito se vamos participar, ou não [do leilão das distribuidoras da Eletrobras]. Temos feito análises prévias. Mas as condições de como se dará a venda não estão totalmente definidas”, afirmou o diretor presidente da Energisa, Ricardo Botelho, em entrevista exclusiva ao Valor. Ele demonstrou preocupação com relação às dívidas, contingências e necessidades de capitalização imediata nessas distribuidoras.

Com relação à Light, distribuidora que atende a região metropolitana do Rio de Janeiro e cujo bloco de controle está à venda, o executivo descartou o interesse no negócio. Segundo Botelho, a Energisa não enxerga potencial significativo de agregar valor com a compra da elétrica fluminense. “É o tipo de ativo que nós decidimos que não temos como agregar muito, em termos de sinergia. Entendemos que não temos o perfil para tocar esse tipo de empresa”, afirmou. “A Energisa não está participando desse processo”.

O bloco de controle da Light, com 52% do capital, é formado pela Cemig e um grupo de bancos. Sem a Energisa no páreo, os potenciais compradores são os grupos Equatorial Energia e Enel. A companhia italiana, inclusive, possui a concessão da Enel Distribuição Rio (antiga Ampla Energia), com forte potencial de sinergia com a Light.

No mercado, também comenta-se sobre o interesse dos chineses. Sobre o setor de transmissão de energia, mesmo saindo do último leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em dezembro, sem nenhum novo ativo, após ter disputado quatro lotes, a Energisa mantém planos de participar das próximas concorrências. Segundo Botelho, o resultado da licitação indicou retorno abaixo do esperado pela companhia. “Prudência e racionalidade são virtudes também.”

 Único grupo de distribuição com ativos em todas as regiões do Brasil, com faturamento anual da ordem de R$ 12 bilhões, a Energisa prevê a continuidade da retomada do crescimento da economia do país e, consequentemente, do consumo de energia em 2018.

De acordo com Botelho, a trajetória de crescimento de mercado das empresas do grupo vem sendo observada desde maio do ano passado. “Espero que o cenário de recuperação continue em 2018. A indústria está reativando uma série de instalações que estavam paradas”, disse ele. Entre os segmentos industriais, o executivo destacou a retomada do consumo do setor cimenteiro, que pode indicar uma recuperação na construção civil.

Após estagnação do consumo de energia em suas áreas de concessão em 2015, seguida por queda de 1,6% em 2016, a Energisa registrou, nos primeiros nove meses de 2017, crescimento de 3,6%, ante igual período do ano anterior. Na mesma comparação, afirmou, a média do país cresceu 0,8%.

 O presidente da Energisa, porém, sinalizou que, por ser um ano eleitoral, o cenário político pode trazer incertezas em 2018. “E essa incerteza pode fazer com que haja uma nova volatilidade. Perspectivas futuras podem ser melhores ou piores, a depender da eleição.” Dona do papel com maior valorização em 2017 entre as companhias do setor elétrico – a “unit” da Energisa subiu 50,9%, contra 28,2% do Ibovespa e 10,2% do IEE, que mede o desempenho do setor -, a Energisa mantém o foco na recuperação das distribuidoras que adquiriu do antigo grupo Rede, em 2014.

Segundo Botelho, a Energisa realizou praticamente todos os projetos planejados para as distribuidoras nos últimos quatro anos. “Mas ainda há muita coisa para fazer. Essas empresas ainda têm trajetórias de melhorias”.

A Energisa, que tem entre seus acionistas um fundo de investimentos gerido pelo Gávea, possui 34,5% de papéis negociados em mercado, dos quais 34,9% nas mãos de investidores estrangeiros. O executivo disse que as distribuidoras do grupo ainda tem potencial de crescimento de Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima do nível regulatório definido pela Aneel. E a valorização dos papéis da empresa, afirmou Botelho, reflete um entendimento do mercado de que a companhia “vem entregando de forma consistente os resultados”.
 por Valor Online Leia mais em gsnoticias 05/0/2018