Facebook compra Instagram por US$ 1 bilhão
Valor é o mais alto já pago por um aplicativo, que começou a rodar em celulares Android, do Google, na semana passada
Para analistas, compra pode reforçar atuação da rede social em celulares e tablets, ponto fraco da empresa
Quase uma semana após ter lançado uma versão para Android e ser acusado de “orkutização”, o aplicativo Instagram foi comprado pelo Facebook. Antes rodava em aparelhos da Apple.
“Eu estou animado em dividir com você que nós concordamos em adquirir o Instagram e seu talentoso time vai se juntar ao Facebook”, anunciou ontem o diretor-executivo Mark Zuckerberg, em seu perfil na rede social.
O Instagram é um aplicativo de filtros para fotos, fundado em 2010 pelo brasileiro Mike Krieger e o americano Kevin Systrom. Também possibilita compartilhar fotos em um perfil, formando uma rede social com cerca de 30 milhões de usuários. O Facebook tem mais de 850 milhões e pretende chegar a 1 bilhão de usuários neste ano.
O valor do negócio foi de US$ 1 bilhão -valor mais alto já pago por um aplicativo – em dinheiro e participação no Facebook que fará seu IPO (oferta pública de ações, em inglês) em maio, na Nasdaq.
Podendo levantar até US$ 5 bilhões, essa é a oferta pública mais aguardada desde o IPO do Google, em 2004. O Facebook pode ir a US$ 100 bilhões em valor de mercado.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, o Instagram deve reforçar a atuação da rede de Zuckerberg em smartphones e tablets -até então uma das áreas de menos apelo da companhia. O Facebook ressaltou nos documentos para abertura de capital que teria de aproveitar melhor o potencial do segmento móvel.
“O aplicativo móvel do Instagram é muito mais fácil de usar e rápido do que o da rede social”, diz Marcelo Silva, analista da Frost & Sullivan.
Essa é a maior aquisição do Facebook, que já havia comprado outras startups como FriendFeed, Hot Potato e Gowalla -todos tiveram seus serviços interrompidos.
Zuckerberg, porém, promete manter o Instagram. “Nós planejamos manter ferramentas como postar em outras redes sociais, não compartilhar seus Instagrams no Facebook se você quiser e seguir pessoas e separadamente dos seus amigos do FB.”
Kevin Systrom, cofundador e diretor-executivo do Instagram, afirma que o aplicativo “não vai desaparecer”.
Além disso, a união com o Instagram também se justifica porque a maioria dos “facebookers” a utiliza para postar, ver e comentar fotos.
“É uma das principais interações feitas na rede social de Zuckerberg”, diz Robert Enderle, da consultoria Enderle, na Califórnia.
É difícil de medir o peso da aquisição no valor do Facebook. “A aquisição deve elevar o valor do Face. A questão é saber quanto”, diz Laura DiDio, da consultoria Itic. POR MARIANNA ARAGÃO e HELTON SIMÕES GOMES
Compra tem paralelos com aquisição do YouTube
A compra do Instagram pelo Facebook tem paralelos com a compra do site de vídeos YouTube pelo Google, em 2006, por US$ 1,65 bilhão.
O Google era à época “a” empresa de internet e, apesar de já ter um serviço de vídeos, comprou uma startup que oferecia interface mais rápida, mais amigável e que atraía muito mais gente.
Hoje o Facebook é o “rei” da internet. A rede social tem um sistema para tirar e compartilhar fotos de celular, mas o Instagram é mais “cool” e mais popular.
Em 2006, o YouTube não tinha fonte de receita. Nos anos seguintes, o desafio do Google foi ganhar dinheiro com o site -e assim foram surgindo anúncios antes, ao lado e por cima dos vídeos.
O Google não divulga a receita do YouTube, mas analistas a calculam em cerca de US$ 1 bilhão ao ano.
O Instagram hoje não gera receita. O Facebook, como empresa de capital aberto que em breve será, terá de inventar um jeito de ganhar dinheiro com o Instagram, para justificar a seus acionistas o gasto de US$ 1 bilhão. Por PAULA LEITE
Brasileiro deve receber ao menos US$ 100 milhões
A rede de compartilhamento de fotografias, agora parte do Facebook, tem parte de seu DNA brasileiro.
Um de seus fundadores é o paulistano Mike Krieger, que vive nos Estados Unidos desde 2004. Ele se mudou para a país para estudar ciência da computação na Universidade Stanford, na Califórnia.
Krieger, 25, criou a rede para compartilhamento de fotografias em 2010 com o americano Kevin Systrom.
Antes de fundar o Instagram, o brasileiro participou do programa para jovens empreendedores em Stanford e de projetos de startups, onde conheceu Systrom.
Krieger também trabalhou no Meebo (plataforma para troca de mensagens online) e estagiou na Microsoft e na Foxmarks.
Em entrevista à Folha no início do ano passado, o empreendedor descreveu o Instagram, que se chamava inicialmente Burbn, como uma “plataforma de momentos instantâneos”. Mas a primeira versão não agradou.
“Era possível enviar fotos, fazer check-ins, criar planos para o fim de semana. Então decidimos colocar o aplicativo numa dieta e surgiu o Instagram”, disse na entrevista.
Em poucos meses, o Instagram angariou seguidores -hoje são mais de 30 milhões de usuários- e recebeu duas rodadas de investimentos.
A primeira foi de US$ 7 milhões, há pouco mais de um ano, feita por fundos de investimento. Na semana passada, recebeu um novo aporte de capital, liderado pelo fundo Sequoia Capital. Apesar da alta avaliação de seus ativos, o Instagram tem somente 13 funcionários.
O aporte foi de US$ 50 milhões, o que fez a empresa ser avaliada em cerca US$ 500 milhões, metade do valor a ser pago pelo Facebook.
Segundo analistas, a participação de Mike é de cerca de 10%, o que renderia ao menos US$ 100 milhões.
Fonte:FolhadeSP 10/04/2012