A companhia gaúcha FCC está intensificando seu processo de internacionalização, como parte da estratégia para expandir seus negócios na América Latina. A empresa fechou, no início deste mês, uma aliança com a Interquim, de Rosário, na Argentina, para começar a produzir adesivos no país vizinho.

Pelo acordo comercial, denominado produção sob licença, a empresa argentina vai produzir os adesivos para o grupo brasileiro. A FCC ficará responsável pela distribuição do produto naquele país, considerado estratégico para a expansão dos negócios da companhia na América do Sul. Neste primeiro momento, o acordo entre as duas empresas vai focar a produção de adesivos, mas há possibilidade de ampliar o leque de produtos no futuro.

O mercado global de adesivos movimenta cerca de US$ 40 bilhões por ano e cerca de 11 milhões de toneladas – destinados, sobretudo, para os setores de embalagens, papel e gráficas, construção. O Brasil responde apenas por 2% do consumo global, ou cerca de 200 mil toneladas. “Ainda há um grande espaço para crescer no país, uma vez que o consumo per capita de adesivos no Brasil é sete vezes menor do que o da Alemanha, por exemplo”, disse Carlos Bremer, diretor-executivo do grupo.

A decisão de expandir os investimentos do grupo fora do Brasil foi tomada pelo fundador da companhia, Valentino Reichert, como parte de um processo maior de diversificação dos negócios da empresa. Durante os anos 90, boa parte das companhias gaúchas foi atingida pela crise do setor calçadista. A família Reichert, que figurou entre as mais tradicionais no setor de calçados no Rio Grande do Sul, não passou incólume pelo golpe sofrido por esse segmento.

O principal passo para o processo de internacionalização da companhia foi dado em 2005, quando a empresa inaugurou uma unidade produtora em Canelones, no Uruguai. Essa fábrica, que produz termoplásticos e adesivos, é o braço exportador do grupo para América Latina. Já a diversificação dos negócios ganhou maior força a partir do Plano Real e tem se intensificado nos últimos cinco anos, afirmou Bremer. “O que nos motivou foi a intenção de aumentar o valor da companhia. Percebemos que o mercado de calçados sozinho não iria proporcionar isso. Então, decidimos aproveitar tecnologias que poderiam ser desenvolvidas para outros setores da economia”, disse.

Com capital 100% nacional, Reichert está preparando a empresa para dar um salto ainda maior. A companhia, com sede em Campo Bom (RS), região metropolitana de Porto Alegre, estuda aquisições no exterior e pretende ingressar com mais força em tecnologias sustentáveis e nanotecnologia. O empresário também está estruturando a companhia, que passará a ter um conselho de administração, no qual ele deverá assumir a presidência, e colocar os acionistas e herdeiros nesse conselho. “É um processo que está no início. Estamos buscando um consultor para nos assessorar”, disse o empresário ao Valor.

A implementação da governança corporativa começou há alguns meses. Bremer, há 15 anos no grupo, assumiu o cargo de diretor-executivo há três meses, para que Reichert possa deixar o dia a dia da empresa para focar nas estratégias da companhia.

Com faturamento da ordem de R$ 300 milhões, a FCC tem unidades produtoras em Campo Bom, Conceição do Jacuípe (BA), Morada Nova (CE) e em Canelones, no Uruguai. A empresa também tem estrutura de distribuição em São Paulo, Buenos Aires e na China. Os negócios da empresa são voltados a adesivos e vedantes, elastômeros e termoplásticos. A FCC produz também componentes para calçados, como solados, palmilhas e peças injetadas.

Segundo Bremer, essa diversificação está em fase acelerada, tanto nos negócios de adesivos e vedantes, como no de elastômeros. “Os mercados mais promissores e para os quais temos projetos em franca expansão são o automotivo, infraestrutura e construção civil, o moveleiro, o de saúde e higiene e o metal-mecânico.”

Seguindo a tendência de parte das indústrias químicas globais, a FCC também está se dedicando a produtos renováveis, cuja demanda é crescente dentro e fora do país. A empresa desenvolveu uma linha de produtos termoplásticos a partir de matérias-primas vegetais, que estão sendo absorvidas pelas indústrias automotivas e de calçados. “São tecnologias desenvolvidas 100% pela FCC”, disse Bremer.

Da crise do calçado, o grupo gaúcho agora passa longe. “A lição que tiramos é o de nos antecipar aos eventos futuros”, disse o executivo. Para Reichert, que prepara o grupo para saltos maiores, a diversificação dos negócios foi importante para o crescimento da empresa. A companhia ainda não tem planos de curto e médio prazos de ir para bolsa, mas não descarta a possibilidade. “Estamos de olho em todas as oportunidades.”
Fonte:ValorEconômico22/07/2011