A Quansa trabalha com empresas para oferecer um benefício de saúde financeira para o colaborador e quer chegar a 100 mil usuários no Brasil e Chile até 2022

A portuguesa Mafalda Barros e o uruguaio Gonzalo Blanco moravam no Chile e trabalhavam na McKinsey quando se conheceram. Foram fazer mestrado na Universidade de Stanford e no ano passado, quando estavam se formando, aproveitaram o laboratório de empreendedorismo da universidade californiana para criar a Quansa, uma plataforma de benefícios dedicada à saúde financeira dos trabalhadores.

No projeto inicial dos empreendedores, o Brasil era o lugar ideal para o modelo de negócio da Quansa, mas testar a empresa no Chile era mais rápido e mais barato. Com US$ 25 mil recebidos como prêmio em uma competição de aceleração de startups, eles começaram a operação no Chile em 2020.

Agora, a Quansa recebeu um investimento Seed de US$3,6 milhões do Valor Capital Group para crescer no Brasil, onde a fintech começou a operar no mês passado. “Queremos triplicar o negócio e crescer no país nos próximos dois anos, mas também olhamos para a região. A Quansa é um produto latino-americano e sem dúvida isso está nos nossos planos”, disse Barros, em entrevista ao LABS.

Também participaram da nova rodada os fundos Pear VC, Canary, Norte, Magma e Sequoia, por meio do Sequoia Scouts, iniciativa pela qual startups que fazem parte do portfólio do fundo indicam novos empreendedores. Os empreendedores Ariel Lambrecht (fundador da 99), Mariana Dias e Bruna Guimarães (fundadoras da Gupy), Maurício Feldman (fundador da Volanty), e Mada Seghete (fundadora da Branch Metrics) completaram o aporte.

“Até o final de 2022 queremos estar disponíveis para cerca de 100 mil usuários no Brasil e no Chile. Isso vai significar crescimento de equipes de tecnologia e de CX (Customer Experience), além de vendas e produto”, diz Barros.

Saúde financeira dos colaboradores como benefício corporativo

A Quansa nasceu atrelada à missão de auxílio social e está no processo para obter o certificado de Empresa B para empresas que cumprem requisitos de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance).Iconografico Quansa

Assim como telemedicina, saúde mental e outros benefícios associados ao setor de Recursos Humanos de empresas com o selo Great Place To Work, por exemplo, a Quansa oferece ajuda para a saúde financeira dos colaboradores enquanto cultura das empresas clientes.

Blanco explica que a fintech não vende empréstimos e tampouco enxerga a folha de pagamento de uma empresa como uma forma de distribuição para chegar na pessoa física. Quem paga pelo serviço da fintech é a empresa que contrata o benefício, com uma mensalidade por colaborador.

“Fazemos um diagnóstico, conhecemos o funcionário para saber onde ele está em termos de saúde financeira, se está super vulnerável ou se está mais preparado. Diagnosticamos as pessoas usando tecnologia e o colaborador define prioridades com as quais o ajudaremos a trabalhar nos próximos meses. Pode ser pagar a fatura completa do cartão de crédito todo mês ou até assinar uma antecipação de graça do salário com o empregador para garantir que ele pague as contas em dia”, explica Blanco.

A antecipação de salário funciona assim: se a empresa só paga no quinto dia útil e o colaborador precisa de R$ 200 no fim do mês, a Quansa faz a mediação com o empregador para que todo final do mês entre R$ 200 no holerite.

Não é a mesma coisa que antecipação emergencial para pessoas físicas. No modelo B2B2C associado ao RH e à equipe de folha de pagamento, a Quansa não cobra comissão pelas parcerias que tem com empresas de crédito consignado.

“Só acionamos um parceiro de consignado quando é de fato bom para o usuário. Se a empresa [de crédito] paga uma comissão, a gente repassa esse valor para o funcionário. É importante porque o colaborador tem que confiar que a Quansa não tem incentivos para contratar algum produto”.

A Quansa também pretende ajudar funcionários com “o que fazer se sobra dinheiro no fim do mês”, avaliando a conta no banco, produtos e taxas e educando sobre as melhores opções de investimentos.

No ano passado, a Andreessen Horowitz (a16z) liderou uma rodada de US$ 35 milhões na americana Brightside, que também trabalha com saúde financeira como benefício, mas os auxílios são distintos da Quansa, porque a América Latina, e em especial o modelo de contratação do brasileiro, tem outras especificidades para a antecipação de salário, por exemplo.

“Dos países que conheço da América Latina, o Brasil é de longe o país mais fácil de operacionalizar a antecipação de salário flexível. No Chile é mais caro fazer isso, já que não existe nada como o PIX“, diz Blanco. “O México tem proporcionalmente mais pessoas que estão fora do sistema bancário do que o Brasil. O problema do Brasil são os juros. As pessoas pagam juros mais caros aqui do que em outros países por causa desse aperto financeiro e da falta de planejamento. O sistema penaliza de forma desproporcional. Ao mesmo tempo, é muito fácil você ter empréstimo no Brasil. É uma situação em que o sistema monetiza a doença financeira das pessoas que ganham pouco,” afirma.

As pessoas pagam mais caro no Brasil do que em outros países por esse aperto financeiro e a falta de planejamento. O sistema penaliza e monetiza a doença financeira de pessoas que ganham pouco de forma desproporcional.

Em comparação com outros países, o brasileiro tem salários menores e é mais endividado com produtos diferentes. O crédito consignado, em que os juros são menores, tem força no Brasil. Já no Chile o consignado para funcionários de empresas nunca decolou, segundo Blanco.

“O Brasil tem melhores produtos, mais baratos, e jornadas de Open Banking e PIX que faz com que empresas tragam soluções melhores. A nossa equipe está alinhada em alavancar o Open Banking para que o número de parceiros e concorrência aumente para trazermos a melhor solução para cada pessoa”.

A Quansa não atende funcionários com robôs, mas sim com consultores, que não vendem produtos complexos ou investimentos na bolsa. O consultor aconselha o funcionário sobre cheque especial e taxa de bancos, por exemplo…. Leia mais em labsnews 28/07/2021