Empresas como o Mercado Bitcoin, que combinam soluções em finanças e tecnologia, ganham um papel ainda mais importante na vida dos brasileiros durante a pandemia e chamam a atenção de investidores

Ao contrário de muitos setores da economia, as empresas que oferecem soluções tecnológicas ligadas a finanças, as fintechs, experimentam durante a crise, causada pela pandemia, uma aceleração – tanto em número de negócios quanto em recursos captados. A expansão, que já vinha sendo registrada nos últimos anos, acelerou mesmo em um ambiente de adversidades. Uma das explicações é o crescimento da digitalização, que passou a ser ainda mais demandada pelos brasileiros por causa da necessidade de isolamento.

Dados divulgados recentemente pelo Distrito Dataminer mostram que as fintechs brasileiras receberam no primeiro trimestre de 2021 um total de US$ 517 milhões em aportes, ante a US$ 102 milhões nos primeiros três meses de 2020. O número de aportes também apresentou um salto – de 23 para 33. Hoje, o país já conta com 1.158 fintechs.

Um desses aportes teve como destino o grupo 2TM, controlador da exchange Mercado Bitcoin. Em janeiro, a empresa anunciou ter passado por uma rodada de investimentos liderada pela gestora GP Investimentos e pela Parallax Ventures, que contou ainda com a participação do Fundo Évora, de Zé Bonchristiano, e o FIP de HS Investimentos, Banco Plural e Gear Ventures. Com os recursos, o grupo traçou um plano de investimentos que soma R$ 200 milhões. O objetivo é acelerar o crescimento e consolidar a liderança na América Latina, onde já se posiciona como a maior plataforma de ativos digitais.

Hoje, a 2TM atua por meio de suas empresas em várias frentes de negócios ligadas à economia digital, como a carteira digital Meubank, o braço educacional Blockchain Academy e a Bitrust, voltada à custódia qualificada de ativos digitais.

O Mercado Bitcoin, o negócio mais maduro da holding, é um dos exemplos do crescimento experimentado nesses tempos, apesar do baixo desempenho da economia, com uma queda de 4,1% no Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado. Em janeiro, a exchange contava com 2,2 milhões de clientes. Em meados de maio, já eram 2,75 milhões. Em 2020, as negociações na plataforma totalizaram R$ 6,4 bilhões. Apenas no mês passado, esse volume mais do que dobrou, chegando a R$ 13,8 bilhões.

A velocidade de expansão exigiu que o Mercado Bitcoin investisse não apenas em infraestrutura tecnológica, mas em profissionais qualificados para dar conta da nova demanda, como conta Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios da 2TM.

“Tivemos de pisar fundo no acelerador”, lembra Tota. Antes da pandemia, anunciada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em março do ano passado, a companhia fazia planos de mudar de endereço e acomodar os profissionais contratados para atender ao aumento da demanda. Com a necessidade do trabalho remoto, a transferência para um novo endereço foi descartada, mas o aumento da equipe não. Naquele momento, o Mercado Bitcoin tinha em torno de 100 funcionários. Hoje, pouco mais de um ano depois, já são quase 400 colaboradores, distribuídos por diferentes estados e até sediados em outros países.

Tota explica que o isolamento social, demandado pela pandemia, foi um dos combustíveis para alimentar o aumento de negócios de fintechs como o Mercado Bitcoin, mas não foi o único. Também pesou, no caso dos criptoativos a decisão dos principais bancos centrais de, por cautela, não desestimular a impressão de moeda. O reflexo foi visto no comportamento das cotações dos ativos digitais, que nunca estiveram tão valorizados.“A indústria cripto sempre se colocou como alternativa para os investidores, mas era visão de médio e longo prazo. Com a pandemia e a crise, foi como se tivéssemos comprimido uma expectativa de anos para poucos meses. Esse interesse aconteceu porque grandes empresas e o setor financeiro entenderam que os criptoativos poderiam ser um ativo para protegê-los, o que acabou refletindo na tomada de decisão dos investidores. Muitos, inclusive aqueles que não tinham por hábito investir, vêm buscando nas moedas digitais e nos tokens uma opção aos ativos tradicionais”, explica o diretor da 2TM.

Agora, além de atender ao crescimento do interesse pela economia digital no Brasil, a 2TM estuda a possibilidade de internacionalização de seus negócios, a começar pela América Latina. Afinal, uma das razões que motivam os fundos a investirem em startups, como as fintechs, é a capacidade de dar escala ao empreendimento, diz Gustavo Gierun, sócio-fundador da Distrito.

“Os casos de sucesso, como o Neon, a Creditas e o Nubank, fazem com que mais investidores tenham vontade de participar do momento e rentabilizar o capital com múltiplos melhores do que os apresentados pelo mercado tradicional. Além disso, eles levam em consideração o potencial escalável das fintechs”, comenta.

Para Gierun, o crescimento da digitalização da economia, impulsionado pela pandemia, não tem volta. “O mundo das fintechs acumulou fundamentos para uma expansão acelerada e isso deve permanecer, porque há muito espaço para o desenvolvimento de novas soluções. Quem vai ditar o ritmo é o usuário. Toda vez que ele se sentir mal atendido por uma solução e quiser testar outra, criará oportunidade para outras fintechs. Esse comportamento cria um ambiente de testes de novas tecnologias”.

Integrante do conselho da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e sócio titular da JL Rodrigues, Carlos Átila e Consultores Associados, José Luiz Rodrigues também avalia que ainda há muito espaço de crescimento para novos modelos de negócios digitais no setor financeiro. Em parte, lembra, isso tem a ver com o comportamento dos órgãos reguladores, como Banco Central (BC) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que vêm sendo muito ativos no fomento a novas soluções digitais – como, por exemplo, o PIX e o Open Banking. Só a ABFintechs conta hoje com 450 associados e a estimativa é que o país tenha em torno de 800 fintechs… Fonte Valor Economico leia mais em amexx 28/05/2021