O crescimento das “fintechs” de crédito, empresas de tecnologia com foco em serviços financeiros, tem levado as companhias a buscarem o mercado de capitais para financiar a expansão de suas carteiras. O momento é favorável, dada a maior demanda por ativos de crédito por parte de fundos de investimento e gestores de fortunas, diante da queda da taxa básica Selic para a mínima histórica, de 6,5% ao ano.

Lendico, Creditas, Just, Nubank e Nexoos pretendem captar recursos no mercado neste ano por meio da oferta de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). O mercado de capitais tem sido uma alternativa de funding para as operações de financiamento realizadas por essas fintechs, ao conectar os tomadores de crédito aos investidores.

A XP Investimentos está trabalhando em pelo menos quatro operações envolvendo fintechs, que devem sair até o meio do terceiro trimestre, e somam cerca de R$ 600 milhões, conta Rafael Quintas, sócio e chefe de distribuição de mercado de capitais.

A Lendico, fintech que atua na concessão de empréstimo pessoal e tem como sócios a alemã Rocket Internet e o banco BMG, prepara o primeiro FIDC de R$ 100 milhões. A empresa vai ficar com as cotas subordinadas, que devem representar 30% do fundo e são as primeiras a absorver as perdas.
A ideia é diversificar não só a fonte de funding, como de receita. Hoje, a fintech ganha apenas a comissão dos créditos que origina para o BMG e, ao investir na cota subordinada, ela passa a ganhar também com o spread (diferença entre o custo de captação e do empréstimo) da operação.

Nessas transações, as fintechs vendem os recebíveis dos contratos de crédito para o FIDC, cujas cotas são distribuídas para os investidores.

“Financiávamos nossas operações com recursos do nosso sócio, o banco BMG, e agora queremos usar mais o mercado de capitais”, diz Marcelo Ciampolini, presidente da Lendico.

Os créditos que serão cedidos para o fundo serão de operações de menor risco, que têm uma taxa média de juros de 3,5% ao mês nos empréstimos pessoais, abaixo da média cobrada pelos bancos. “Acho que vamos conseguir captar recursos a uma taxa competitiva e isso não deve afetar as taxas cobradas pela Lendico”, diz Ciampolini.

Plataforma de crédito do Guia Bolso, a Just também prepara uma segunda rodada de captação de um FIDC lançado no ano passado, que tem uma carteira de R$ 120 milhões. A ideia é fazer uma emissão similar ainda no primeiro semestre. A fintech já tinha levantado R$ 100 milhões com um grupo restrito de investidores.

A Just origina crédito para parceiros como a BV Financeira, Portocred e o banco CBSS, formado pela parceria do Bradesco com o Banco do Brasil.

“Hoje a maior parte do funding vem do mercado de capitais e a ideia é reduzir e chegar ao fim do ano com 50% dos recursos de mercado e 50% dos parceiros financeiros”, diz Bruno Poljokan, diretor da Just. A fintech tem uma carteira de crédito de R$ 350 milhões e pretende chegar a R$ 500 milhões até o fim do ano.

A Creditas também tem usado a estrutura de FIDC para financiar as operações de crédito. A empresa já lançou dois fundos de recebíveis, de R$ 100 milhões cada, sendo um lastreado em crédito com garantia de imóvel (“home equity”) e outro de financiamento de veículos. A empresa pretende fazer uma nova rodada de captação nesses fundos da ordem de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões cada.

A emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) com lastro em financiamentos na modalidade home equity também está nos planos da Creditas. Segundo Sergio Furio, fundador e presidente da empresa, a captação de recursos no mercado representa cerca de 70% do funding da fintech.

As operações de home equity, que representam 35% da carteira de crédito total de R$ 350 milhões, são financiadas integralmente pela captação de recursos via FIDC. Já o funding para o financiamento de veículos vem do parceiro, a BV Financeira. A Creditas tem ao todo parceria com cinco instituições financeiras. “Esperamos crescimento de quatro vezes na carteira”, diz.

A Nexoos, que atua no financiamento a pequenas e médias empresas, também estuda levantar de R$ 50 milhões com investidores institucionais.

“Lá fora, todas as plataformas de empréstimos ‘peer-to-peer’ que cresceram financiam mais da metade do volume de empréstimos no mercado de capitais, como Lending Club e Funding Circle “, afirma Daniel Gomes, presidente da Nexoos. Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 01/06/2018