De olho em um mercado que movimenta mais de US$ 100 bilhões mundo afora, a gestora de private equity Stratus fechou a compra de uma participação acionária na Mar & Terra, empresa que atua na produção de peixes do Pantanal e da Amazônia.

Com o aporte de até R$ 25 milhões, o fundo passa a ter o controle compartilhado com os fundadores da companhia. O objetivo é transformar espécies nacionais como pintado, pirarucu e tambaqui numa espécie de “novo salmão”, cuja comercialização gira cerca de US$ 5 bilhões por ano.

O aporte na Mar & Terra completa a carteira do fundo de tecnologia limpa da Stratus após cinco investimentos, no total de R$ 250 milhões, dos quais R$ 60 milhões vieram do próprio fundo e o restante de coinvestidores. Embora nenhuma decisão tenha sido tomada, a gestora estuda partir para a captação de um segundo fundo, que pode chegar a US$ 200 milhões, segundo Álvaro Gonçalves, sócio da Stratus.

Para o executivo, a rica biodiversidade coloca o Brasil com uma clara vantagem competitiva nesse segmento ainda mal explorado no país. “Trata-se de muito mais do que romantismo acadêmico”, ressalta, em referência à visão negativa geralmente associada à sustentabilidade. No final de 2010, havia um total de 482 fundos com esse foco, de acordo com estudo da consultoria Preqin.

O aporte da Stratus confirma ainda a tendência de os fundos de private equity buscarem oportunidades fora do eixo Rio-São Paulo. Com sede em Itaporã (MS) e uma unidade em Rondônia, a Mar & Terra – que antes já havia recebido um investimento da Axial – pretende quintuplicar a capacidade de produção, atualmente entre 7 e 8 toneladas de peixe por dia, segundo o presidente da companhia, Jorge Souza. A empresa deve dobrar o faturamento neste ano, para R$ 30 milhões, e espera atingir o patamar de R$ 100 milhões em um prazo de dois a três anos.

Souza afirma que a expansão da companhia deve ser impulsionada pelo aumento no consumo de peixe no país, atualmente de 12 quilos por ano por habitante, abaixo dos níveis internacionais, que variam de 16 a 22 quilos, de acordo com dados do Ministério da Pesca. O executivo aposta ainda na exportação. “Com sabor suave, carne clara e sem espinhos, os peixes nacionais atendem bem à demanda externa”, diz o presidente da empresa, que já destina parte da produção de peixes como o pirarucu, conhecido como o “bacalhau brasileiro”, para Alemanha, Estados Unidos e Suíça.

O plano da Stratus é abrir o capital da Mar & Terra no segmento de acesso Bovespa Mais em um prazo de dois a três anos. “Queremos levar para a bolsa várias ‘mini-Naturas'”, diz Gonçalves, em referência à fabricante de cosméticos que se tornou símbolo da retomada do mercado de capitais brasileiro.

Das cinco companhias no portfólio do fundo, a fabricante de produtos químicos renováveis a partir da cana de açúcar Amyris já possui capital aberto. As outras candidatas a repetir o sucesso da Natura são a Ecosorb, de socorro a acidentes ambientais, a Brazil Timber, que atua com reflorestamento, e a Unnafibras, empresa que transforma garrafas PET em fibras de poliéster para uso em tecidos.
Fonte:valor22/09/2011