O setor de saúde foi um dos que mais receberam atenção de investidores em startups em 2021. O ano termina com o maior aporte já recebido por uma healthtech da América Latina: a Alice, especializada em gestão de saúde no modelo de resultados para o paciente — value-based health care, em inglês — anuncia nesta tarde de terça-feira, dia 21, uma captação de 127 milhões de dólares (cerca de 730 milhões de reais ao câmbio da véspera) em uma rodada Series C

O aporte é liderado pelo SoftBank Latin America Fund (SBLA) e é acompanhado pelos fundos Kaszek e ThornTree Capital Partners — que já estavam em rodadas anteriores. Conta também com novos investidores, como Allen & Company LLC, G Squared, Globo Ventures, StepStone, além de investimentos realizados por especialistas de saúde que são parceiros da Alice. Os fundos Canary, Endeavor Catalyst e Maya Capital seguem como acionistas.

Com apenas 18 meses de operação, a Alice se propõe a ir além de um plano de saúde convencional, com uso da tecnologia para realizar a gestão recorrente da vida dos pacientes — chamados de membros — de modo abrangente, com acompanhamento do histórico de saúde de maneira acessível pelos dois lados: médicos e usuários.

“A rodada com esses investidores mostra que estamos no caminho certo de pensar na gestão de saúde com foco em resultados de longo prazo, sem buscar atalhos”, disse André Florence, CEO e cofundador da Alice, à EXAME.

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Os outros cofundadores são os empreendedores Guilherme Azevedo (um dos fundadores do Dr. Consulta) e Matheus Moraes, chefe de operações da heathtech.

Florence e Moraes estiveram na liderança do primeiro unicórnio brasileiro — como são chamadas as startups avaliadas em 1 bilhão de dólares –, a 99, como diretor financeiro e de operações, respectivamente.

A Alice deve encerrar o ano com cerca de 7.000 pessoas na sua base de membros. Esse número é dez vezes o apresentado no início do ano, quando a empresa tinha 674 pacientes. O crescimento tem sido de 30% ao mês.

Com os novos recursos, a startup vai acelerar os investimentos em tecnologia e dar início à sua operação voltada para clientes corporativos de pequeno e médio porte. Um passo inicial foi dado em novembro com a aquisição da startup Cuidas, especializada nesse segmento do mercado, estimado em mais de 5 milhões de pessoas só na cidade de São Paulo.

A captação, que teve demanda acima da oferta, acontece apenas dez meses depois da rodada Series B em que levantou 33,3 milhões de dólares — foi igualmente a maior para esse estágio de uma healthtech no país. Florence conta que o plano era realizar a rodada no primeiro semestre de 2022, mas que foi antecipada diante do interesse de investidores.

“Menos de um quarto dos brasileiros tem acesso à saúde privada. A Alice nasceu para mudar essa indústria gigante e como as pessoas lidam com sua saúde”, afirmou Paulo Passoni, sócio-diretor de investimentos do SoftBank Latin America Fund. “Fomos atraídos pela equipe da Alice e sua visão de longo prazo”, completou.

Resultados para os pacientes

O modelo de value-based heath care é adotado de forma ampla nos Estados Unidos e tem base em pesquisas de Michael Porter, professor da Harvard Business School (HBS) e um dos maiores especialistas do mundo em gestão.

A tese é que o sistema de saúde deve considerar a qualidade do serviço prestado ao paciente e o resultado de melhora de saúde, de modo a melhorar a eficácia do uso dos recursos.

Isso significa que tanto a rede de parceiros como hospitais e clínicas como médicos especialistas são remunerados com base em indicadores que mostrem a evolução da saúde e do bem-estar do paciente, e não em número de procedimentos, por exemplo.

São indicadores como taxa de complicação, taxa de infecção da cirurgia, tempo da cirurgia e até a melhora do Índice de Massa Corporal, entre outros. Ou seja, o objetivo é fazer uso de incentivos que reflitam a melhora na saúde.

O modelo da Alice tem foco na atenção primária, como é chamado o contato inicial com o paciente. Um time de saúde formado por médico, enfermeiro, preparador físico e nutricionista responde pelo acompanhamento de cada membro da healthtech ao longo de sua jornada. Indicadores qualitativos atestam a eficácia do modelo. Atualmente, a taxa de satisfação dos usuários da startup com o time de saúde é de 4,96 em uma escala que vai de 0 a 5.

De todos os eventos de saúde registrados na healthtech (de consultas com especialistas e exames até procedimentos cirúrgicos), o equivalente a 98% é coordenado por esse time. Trata-de de um feito inédito no mercado.

Uma consequência esperada para o paciente da Alice é a redução de seus gastos com tratamentos e medicamentos, gerando uma economia e a melhora da saúde financeira no médio e longo prazos.

Em um ano, a healthtech também expandiu de maneira significativa a sua rede de parceiros. Ela está vinculada a dez hospitais, dos quais três dos mais bem avaliados do país — Einstein, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa — e mais de 200 laboratórios de excelência na região metropolitana de São Paulo. Também mais de 150 médicos especialistas que atendem apenas a Alice ou consultas particulares.

Para Florence, o aporte liderado pelo SoftBank tem um significado especial: ele era o diretor financeiro da 99 quando a startup de mobilidade recebeu o primeiro investimento do grupo japonês no país, de 100 milhões de dólares em 2017….. Leia mais em Índices Bovespa 22/12/2021