Frente a um cenário recessivo, o governo tenta acelerar as concessões em infraestrutura. No entanto, com empresas brasileiras cautelosas e a desvalorização do real, o investimento estrangeiro pode ser a saída para conseguir levar os projetos adiante.

Segundo o economista-chefe do Banco do Brasil, Élcio Gomes da Rocha, sem estabilidade política e com taxa de poupança agregada baixa, o investidor estrangeiro é a melhor alternativa. “A Taxa Interna de Retorno [dos projetos] está adequada para atrair investimento externo.”

De acordo com o economista, investidores chineses são os mais interessados. “A China tem disponibilidade de recursos, mas eles vão para o país que tiver estabilidade de regra”, afirmou o executivo durante a Intermodal Souh America.

Exemplo disso, a China Railway Group Limited (Crec) e a RZD Russian Railways são candidatas a participar de concessões. Entre os focos, ferrovias e portos. “Preparamos um estudo de viabilidade para os russos, que são muito eficientes nesse tipo de gestão”, diz um advogado ligado ao tema, que falou sob condição de anonimato.

Conforme o advogado, os chineses possuem cerca de US$ 8 bilhões para investimento na América do Sul. “O objetivo é simples, diminuir a dependência dos Estados Unidos no fluxo de commodities da região”, diz, lembrando que, para entrada no Brasil, ambas empresas esperam um sócio estratégico.

Encontrar o parceiro ideal também é a meta de uma comitiva de empresários espanhóis que desembarcaram ontem (5) em São Paulo. Representantes do Porto de Las Palmas, em Ilhas Canárias, na Espanha, aterrissaram no Brasil com uma missão: buscar investidores para o porto espanhol e encontrar oportunidades de negócios aqui. “A comitiva identifica muito potencial no mercado brasileiro, principalmente em função da commodities”, disse Monroe Olsen, advogado da Andersen Ballão, escritório que acompanha estrangeiros.

O objetivo dos espanhóis, explica o advogado, é incentivar que os brasileiros tenham um hub na Europa. “Vejo três perfis de investidores para o Porto de Las Palmas: o que já trabalha com infraestrutura, o que exporta commodities e os fundos de investimentos.”

Amanhã (7), a comitiva, que conta com presidente adjunto do Grupo Boluda, Joaquin Quiles Sotillo, irá ao Paraná a fim de entender melhor a operação do Porto de Paranaguá.

Quem também se mostrou interessado em leilões no País é a operadora de aeroportos alemã Fraport. Esta semana, a empresa soltou um comunicado dizendo que há previsão de fazer oferta por dois terminais no Brasil, contanto que as licitações ocorram este ano. Em outro caso, durante uma conversa com analistas e investidores, o presidente da Ecorodovias, Marcelino Seras, afirmou também que a empresa está analisando leilões de infraestrutura, mas não acredita que eles devam ocorrer em grande quantidade este ano.

Para ele, o movimento ruim da economia deve afetar a oferta de ativos de infraestrutura. “Os novos investimentos que estão sendo falados ainda carecem de melhor compreensão dos riscos e melhor análise de como serão financiados”, disse ele, em teleconferência com analistas.

Pedra no sapato

O pesquisador de infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Alvares da Silva Campos Neto, concorda. “O governo diz que vai lançar os editais, mas não deve arriscar a fazer um leilão sem interessados”, argumenta. O motivo, segundo o executivo, é que com o atual cenário econômico será difícil resolver em curto prazo questões essenciais para o sucesso da licitação, como marco regulatório.

Outro detalhe que deve ser revisado e foi apontado por ele é a Taxa Interna de Retorno. “Regular muito a taxa de retorno neste momento em que temos altas taxas de juros dificulta o investimento”, argumenta.

Próximos passos

Segundo o diretor do Departamento de Infraestrutura de Logística da Secretaria do PAC, Felipe Borim, o governo federal espera aprovação nas próximas semanas dos editais dos aeroportos de Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e Florianópolis e a publicação dos editais até o fim de maio. Os editais dos quatro terminais estão em análise do Tribunal de Contas da União (TCU) desde dezembro.

Em ferrovias, a intenção é leiloar ainda em 2016 trechos da Norte-Sul e o Ferrogrão. Para rodovias, a previsão é de publicar editais de quatro trechos ainda neste semestre.

Segundo o ministro-chefe da Secretaria de Portos, Helder Barbalho, os leilões das seis áreas portuárias do Arco Norte localizadas no Pará vão acontecer dia 9 de junho. Serão leiloados dois terminais em Santarém; um na Vila do Conde, em Barcarena; e três na cidade de Outeiro, na região da capital Belém. “Com os projetos, até 2042 vamos elevar a demanda portuária em 103%.” DCI – Leia mais em abinee 06/04/2016