O aporte de fundos de venture capital costuma servir de chancela para teses de startups, ajudando a companhia a ganhar corpo para chegar aos grandes clientes. Na LogShare, o aporte veio, digamos, no frete reverso. A companhia montou uma carteira estrelada de clientes em sua plataforma de logística, partindo de um piloto com o Grupo Pão de Açúcar e fisgando multinacionais como Unilever, Pepsico e Mondelez – o que chamou atenção da gestora de venture capital ONEVC.

O fundo acaba de liderar a rodada seed de US$ 820 mil (R$ 5,5 milhões) na startup, ao lado de Niu Ventures e mais 15 investidores anjos com experiência em supply chain ou empreendedorismo – como Nestor Felpi, ex-diretor de supply da Natura e Avon na América Latina, Américo Pereira Filho, ex-CEO da Fedex no Brasil, além de sócios da Gympass, Kovi e McKinsey.

O negócio da LogShare é ajudar companhias a reduzirem os custos com logística e o volume de emissão de carbono com os caminhões que circulam vazios nas estradas e cidades. A plataforma conecta as rotas para otimizar o chamado frete reverso – colocando refrigerantes da Coca-Cola no baú dos caminhões da Heinz que voltam a Goiás depois de entregar ketchups e mostardas no Nordeste, por exemplo.

“A logística ainda é muito pouco colaborativa. A pandemia começou a mudar isso por uma questão de custos e o interesse das companhias tem se intensificado também por questões de sustentabilidade”, diz Pedro Prado, CEO e cofundador da LogShare, ao Pipeline. “Tem cliente que nem fala de custo, só de CO2″.

LogShare atrai ONEVC

O match de rotas pode reduzir em 30%, em média, o custo logístico das empresas, e em 50% a emissão de carbono, ao encher um caminhão e evitar que outro rode na mesma rota.

Prado e o sócio Glauber Alves já tinham experiência em logística em companhias como a própria Coca e a rede Makro, mas a primeira tentativa de empreender juntos não deu certo, por falta de conhecimento de tecnologia. Prado convocou Eduardo Souza, um especialista em TI e seu padrinho de casamento, para tentar de novo a vida de empreender, agora na agora na LogShare.

O cliente anjo já foi logo o Grupo Pão de Açúcar, uma prova de fogo para a novata, estruturada no fim de 2021. “O grupo já tinha lançado esse desafio no mercado e a gente resolveu abraçar, colocando isso no nosso conceito de economia colaborativa. O GPA tem 500 lojas e 40% dos caminhões iam vazios para os CDs”, conta Prado.

Cerca de 30% das viagens do GPA já foram otimizadas, segundo o empreendedor. “Era uma linha de custos e já começaram a ver inclusive como receita, com a criação da GPA Log, que opera 100% com a nossa plataforma”, diz. Outras logtechs, como a CargoX, focam em problemas semelhantes na ponta do caminhoneiro, com soluções para o autônomo que voltava com baú vazio.

Mais da metade do cheque para a LogShare veio da ONEVC, gestora focada em early stage que faz em média um investimento por semestre.

“Ficamos ainda mais seletivos nesse momento de mercado e vimos oportunidade de liderar rodadas em companhias já mais avançadas em termos de receita. A LogShare já tem clientes bem grandes, produto validado e rodando”, diz Alice Juliano, a VP da ONEVC que coordenou o investimento da logtech. “Software é uma vertical que gostamos muito, por ser escalável, e nesse caso com um componente relevante de ESG.”

A monetização da LogShare é um take rate sobre o valor do frete, variável conforme a demanda interna ou externa das empresas. “Tem empresas grandes em que as áreas são segregadas e não usufruem dessa disponibilidade de frete da própria distribuição”, diz a VP.

A startup planeja uma captação série A para o início do ano que vem, mas deve fechar um bridge com um investidor americano antes disso, de olho nos caminhões que descem vazios aos modais marítimos. Prado conta que a LogShare fechou uma parceria com o Porto de Santos, onde quatro de cada cinco caminhões fazem uma parte da rota vazios. “Se o caminhão que desce para recarregar para o CD não estiver vazio, isso ajuda a tornar o porto mais atrativo”, diz o CEO.

Além de companhias como a LogShare, os gestores da ONEVC têm no histórico apostas em companhias que hoje se tornaram robustas, como Gympass e Creditas. A gestora ainda tem fôlego no segundo fundo, mas já planeja um terceiro para o início de 2024, na casa de R$ 250 milhões, com o sócio Bruno Yoshimura.

“Fundos de early, como o nosso, têm que continuar investindo porque, para a companhia que acabou de nascer, não existe crise macroeconômica. Já é o ambiente dela. O incumbente é quem sofre e os talentos ficam mais acessíveis para as startups”, avalia o sócio… leia mais em Pipeline 06/04/2023