Passados 13 anos da morte de seu fundador e único controlador, a Termomecanica, tradicional metalúrgica de cobre do ABC paulista, rompe o silêncio e decide contar seus planos de investimentos, para crescer e ficar mais competitiva, e sua ida para o exterior. A empresa acaba de dar seu primeiro passo internacional com aquisição de uma fábrica no Chile e outra na Argentina.

Criada em 1942 para fabricar fornos e equipamentos de padarias, no bairro paulistano da Vila Prudente, ao longo dos anos derivou sua atividade para outros tipos de produtos. Transformou-se na maior fabricante do país de tubos, barras, conexões, perfis, tiras, fios, vergalhões e diversos tipos de materiais em cobre e suas ligas. Seu catálogo soma mais de cinco mil itens. A Termomecanica São Paulo S.A. foi fundada pelo imigrante italiano Salvador Arena, com um capital de apenas US$ 200.

Com modelo de gestão diferenciado, Arena se tornou um empresário polêmico – chegou a pagar 27 salários aos empregados em um determinado ano, quando a prática de bônus por desempenho nem era adotada no país. Seu jeito de tocar a empresa era criticado por competidores do setor e até de fora. Quando perdeu o comando de Arena, a empresa viu seu fim ser decretado pela concorrência. E não foram poucas as propostas de compra que recebeu.

“Ela conseguiu resistir”, relatam Regina Celi Venâncio e Nelson da Silva Leme, que assumiram, respectivamente, a presidência e a vice-presidência da diretoria executiva e dedicam mais de 12 horas na gestão diária. Advogada, Regina entrou na empresa nos anos 70 na área financeira e jurídica. Saiu, mas retornou algum tempo depois como diretora financeira e foi nomeada por Arena para presidir a fundação, FSA, que ele criara em 1964. Além de presidir o Conselho Curador da FSA, toca o dia a dia da entidade e preside o conselho da diretoria executiva da companhia.

Até 2014, empresa também planeja investir R$ 300 milhões para expandir negócios no mercado interno

Leme, também conselheiro da FSA, começou na mesma época. Formado em administração de empresas, passou pelas áreas financeira, de controladoria, auditoria e suprimento de matérias-primas, entre outras funções.

Tendo como única acionista a FSA, a empresa seguiu com o mesmo modelo e princípios herdados do fundador. E manteve-se lucrativa e sólida financeiramente. Conta com um caixa de R$ 500 milhões e não tem dívidas. Do lucro líquido, depois de pagar os dividendos da acionista, tudo é reinvestido. No Plano de Previdência (criado em 2000), a empresa cobre 80% do valor e os funcionários 20%, mas sem ultrapassar 5% do salário de cada um. A lista de benefícios é longa.

Do lucro operacional, 30% são destinados ao PPL, plano de participação nos lucros, dos 2 mil funcionários, que nos últimos anos varia de cinco a sete salários extras de cada funcionário. Em 2010, foi além: atingiu 8,2 salários. E 2,5 salários do PPL deste ano acabam de ser antecipados. Segundo os relatos, em 1948, Arena já premiava os empregados por desempenho.

No campo dos negócios, Regina e Nelson admitem que a TM, como a empresa também é chamada, precisa se expor mais à competição globalizada. A briga de mercado não se restringe às concorrentes locais e alguns externos. Agora, também tem de enfrentar a invasão chinesa.

No Brasil, a principal concorrente é a antiga Eluma, vizinha de Santo André, que se tornou divisão de produtos de cobre do grupo Paranapanema, controlado pela Previ e outros fundos de pensão e pelo BNDES.

A TM mantém-se líder no mercado do país e garante investir todo o tempo. “Não passamos nenhum ano sem investir”, diz Leme. Quando não é em expansão, o foco é na atualização tecnológica das fábricas, trazendo máquinas e equipamentos modernos. Tudo com recursos próprios. Na hora de pegar algum financiamento, como Finame (BNDES), analisa se vale a pena.

Neste ano, a empresa conclui investimento de R$ 299 milhões, iniciado em 2009. “Sem isso, não ficamos competitivos em custo e em qualidade frente aos concorrentes externos, principalmente da China”, diz a presidente. “É como fazem os alemães para ganhar competitividade”.

As aquisições da Cembrass Chile e Cembrass Argentina, braços de um grande grupo chileno que sai desse mercado, no qual era líder, representa o caminho da internacionalização, um movimento importante. Com investimento de US$ 30 milhões, a ideia é conquistar mercados na América Latina, aproveitando o crescimento econômico da região, e abrir espaço nos países vizinhos para produtos que faz no Brasil. As duas fábricas, de vergalhões e barras de latão, em Santiago e na região de Buenos Aires, vêm se juntar às três de São Bernardo do Campo.

No ABC, depois de passar pelo bairro da Moóca, Arena chegou no início dos anos 50 ao adquirir uma grande área no bairro de Rudge Ramos, próximo da rodovia Anchieta, que liga São Paulo a Santos. Era o início da industrialização da região e iniciou a construção da primeira fábrica em meados da década, focada em metais não ferrosos. Ali, o engenheiro chegou a ter uma fábrica interna para fazer os próprios tornos mecânicos.

Paralelamente à primeira aquisição fora do país, a empresa tem pronto um plano de expansão de suas operações no Brasil. Vai até 2014 e pode atingir R$ 300 milhões. Seguindo a linha cautelosa da empresa, será feito em duas etapas. “Vamos sentir se o mercado mantém o ritmo de crescimento até lá”, diz Regina. Esses investimentos vão reforçar e modernizar as linhas de tubos e de laminados, elevando a produção da TM do patamar atual de 100 mil toneladas para 150 mil ao ano. Para isso, a fundição de metais de cobre, o coração da TM, também vai crescer.

O negócio de tubos ganhará uma nova unidade, com tecnologia de produção contínua (de menor custo). No início, de 16 mil toneladas de capacidade. Na fase 2, dobra de tamanho. Outra grande parte dos recursos vai para a área de laminados, chegando a 40 mil toneladas já em 2012 e a 50 mil, se o mercado comportar, em 2014.

A partir deste semestre, a empresa conta com capacidade adicional de 16 mil toneladas de barras e vergalhões de latão no Chile e Argentina.

No ano passado, a companhia produziu e vendeu 90 mil toneladas, com receita bruta de R$ 1,25 bilhão e líquida de R$ 890 milhões. Gerou lucro líquido de R$ 135 milhões. A previsão para 2011 é vender 100 mil toneladas, distribuídas em cinco famílias de produtos: fios; tubos; barras, vergalhões e perfis; laminados (fitas, tiras e chapas) e buchas e casquilhos. Só de vergalhões, fios e ligas em bronze são mais de 50 mil toneladas.

O comando da TM, com cinco representantes da FSA no conselho de administração, já se preocupa com os rumos no futuro. Por isso, no início do ano passado, criou a Universidade Corporativa. O objetivo é garantir a perpetuidade, formando pessoas para ocupar cargos de gerência e até de diretoria, na entidade e na empresa. “Já olhamos os próximos dez anos, pensando na terceira geração que comandará a empresa”, diz a presidente.

A diretoria-executiva da TM é formada por quatro profissionais de carreira – a presidente, o vice-presidente, diretora de investimentos e diretor de compras – e por mais quatro profissionais vindos do mercado: diretores comercial, administrativo-financeiro, industrial e de RH.

Fonte:ValorEconômico15/08/2011