As pequenas instituições de nível superior – que possuem até mil alunos – são maioria no País, representam 63,8% do total

Os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam que o Brasil tinha 1.004 instituições de ensino superior privadas no ano 2000.

Já em 2009, esse número saltou para 2.069, um crescimento de 106,1%. No mesmo período, a quantidade de universidades públicas aumentou 39,2%, passando de 176 para 245 faculdades. O crescimento expressivo da rede particular acompanha o desenvolvimento do País, o que, com a evolução econômica, demanda profissionais qualificados cada vez mais e, consequentemente, com formação superior. Mesmo com o cenário favorável, que tende a permanecer, a expansão acelerada observada na última década veio com um efeito colateral: uma grande quantidade de vagas ociosas, sobretudo no segmento privado. Enquanto o número de matrículas dos cursos presenciais nas instituições particulares aumentou cerca de 108,3%, de 2000 a 2009, as vagas ofertadas cresceram 185,5%, no mesmo período. Apesar desse descompasso, a visão dos especialistas é de que ainda há mercado para quem pretende investir no ensino superior.

O Brasil tem cerca de 6 milhões de alunos matriculados, segundo o Censo da Educação Superior de 2009. Entretanto, o “estoque” de possíveis candidatos, para usar o jargão do setor, é de 25 milhões de pessoas com idades entre 17 e 40 anos, que se formaram no ensino médio e ainda não estão na faculdade, de acordo com as informações levantadas pela CM Consultoria para o estudo “Projeto 10 Milhões de Alunos no Ensino Superior – Estudos e Projeções: Panorama e Propostas”, o qual foi apresentado este ano no IV Congresso da Educação Superior Particular.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades Isoladas e Integradas (Abrafi), Janguiê Diniz, também acionista controlador do Grupo Ser Educacional, o momento é promissor. “Há 83% da população em idade universitária fora da universidade.

Se as instituições privadas se adequarem às novas exigências do mercado, diversificando a oferta, existe muito espaço para crescer”, afirma. Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria e coordenador do estudo sobre o mercado, também concorda. “O ensino superior vai ser um bom negócio por muito tempo. É uma questão de estratégia nacional, precisamos de mais mão de obra qualificada e de pessoas com mais anos de estudo”, afirma. Apesar das boas projeções, nos anos mais recentes, os números não foram tão positivos para a rede privada. De 2008 para 2009, as matrículas dos cursos presenciais caíram de 3.806.091 para 3.764.728, um decréscimo de aproximadamente 1,09%. “O que ocorreu foi uma desaceleração no intenso crescimento registrado a partir da segunda metade dos anos 1990 até meados desta última década, dando lugar a uma nova configuração de mercado, que exige a diversificação da oferta, a expansão da educação a distância e dos cursos superiores de tecnologia”, analisa Diniz.

Os dados relativos às matrículas das graduações tecnológicas e dos cursos a distância realmente impressionam. De 2001 a 2009, houve um aumento de 597,4% dos matriculados em cursos de tecnologia. Na educação a distância, que praticamente não existia no início da década passada, o crescimento foi de 15.539,6%. No mesmo período, o aumento dos estudantes na graduação presencial foi mais modesto, porém também houve um crescimento de 56,3% na quantidade de matrículas.

Para que a expansão do setor continue e para reduzir as vagas ociosas, que representam 58,2% do total ofertado por ano, em média, na rede privada, as instituições apostam na ascensão da população da classe C, que correspondia a 39% do alunado do ensino superior em 2002 e passou para 58% em 2009, segundo estudo do Data Popular, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

FINANCIAMENTO

“Acredito que a nova classe média vai possibilitar o nosso crescimento”, afirma Jacson Gomes de Oliveira, diretor acadêmico da Faculdade Sete de Setembro (Fasete) e diretor educacional do Colégio Sete de Setembro, com sede em Paulo Afonso (BA). Oliveira explica que a demanda pelo ensino superior da instituição, fundada em 2002, está concentrada na classe C, que corresponde à maioria dos 1,1 mil alunos. Para atender a esse público, a Fasete mantém convênios com o Programa Universidade para Todos (Prouni) e com o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), recursos utilizados por 21% dos alunos da instituição.

A Fasete, assim como muitas faculdades no interior do Brasil, surgiu principalmente em função da necessidade de oferecer cursos superiores para atender o mercado regional. A partir de uma rede de educação já estabelecida com o Colégio Sete de Setembro – e uma marca consolidada na cidade – foi mais fácil expandir para outro nível de ensino. Apesar disso, os alunos do ensino médio da rede respondem a apenas a 15% dos estudantes da Fasete. Isso porque nem sempre o público-alvo é o mesmo.

O vice-presidente da Abrafi explica que as instituições que decidem investir em cursos de graduação precisam estar cientes de que nem sempre seus candidatos virão da própria rede. “Se os alunos vão optar por continuar na mesma rede, vai depender do perfil da instituição. Muitas escolas de educação básica têm em seu diferencial a preparação para vestibulares de instituições públicas, por exemplo, e mesmo que ofereçam também cursos de graduação, terão um público-alvo diferente”, esclarece Janguiê Diniz.

As pequenas instituições de nível superior – que possuem até mil alunos – são maioria no País, representam 63,8% do total. Como a aposta para o crescimento vem dos alunos de menor poder aquisitivo, o consultor Carlos Monteiro defende que as faculdades ofereçam mais opções de financiamento e não fiquem dependendo apenas das iniciativas governamentais. Monteiro afirma que é preciso possibilitar, por exemplo, que um curso de quatro anos seja pago em oito anos. “Isso vai revolucionar o planejamento financeiro das instituições, vai gerar o aumento dos alunos. As faculdades irão perceber que vai ser melhor estender os pagamentos do que entrar na guerra de descontos.”

Além de diversificar as formas de pagamento para atrair alunos, as instituições educacionais que optam por investir também no ensino superior precisam saber que o processo para aprovação de cursos no Ministério da Educação (MEC) exige tempo. O diretor acadêmico da Fasete revela que os trâmites burocráticos têm sido o maior entrave para a expansão da faculdade. “Nosso planejamento estratégico era de duplicar ou triplicar o número de alunos no máximo em 10 anos e nosso Planejamento de Desenvolvimento Institucional (PDI) previa 20 cursos, um ou dois novos por ano. (…)

A burocracia atrapalha, você se planeja, mas não consegue”, conta. Diferentemente do planejamento inicial, a Fasete possui atualmente cinco cursos de graduação, 13 de pós-graduação e cerca de 20 opções de cursos a distância em parceria com o Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi). Além disso, a quantidade de alunos está aquém da capacidade da instituição, que pode atender pelo menos 1,5 mil estudantes nos cursos presenciais. Apesar do crescimento abaixo do esperado nesses nove anos de funcionamento, Jacson Gomes de Oliveira “vislumbra um bom cenário”, sobretudo por causa da melhoria do poder aquisitivo da população brasileira. Os números mostram que o mercado existe, mas para garantir uma fatia desse bolo será necessário, como afirmou o presidente da CM Consultoria, “pensar fora da caixa”.

Matéria produzida pela revista Gestão Educacional. Para saber mais, acesse o site da Gestão Educacional ou siga no Twitter e Facebook.
Fonte:BemParaná07/10/2011