Ex-executivo do Facebook cria fundo de risco “responsável” e atrai gênios do Vale do Silício para investir

Quatro anos atrás, parecia destinado a uma longa carreira em Sand Hill Road, famosa estrada em Menlo Park, Califórnia, que é sede das mais poderosas empresas de capital de risco do Vale do Silício. Como diretor do Mayfield Fund, uma das empresas de capital de risco mais antigas do país, ele vestia fielmente o uniforme não oficial desse segmento todos os dias: camisa de botões e calças com vinco.

Hoje em dia, Palihapitiya estremece ao se lembrar do uniforme, preferindo jeans e sandálias de dedo. ”Quero ser o mínimo possível de capital de risco’’. O sentimento parece estranho vindo dele, que lucrou muito com a generosidade de Sand Hill Road. Ex-executivo do Facebook e ex-diretor do Mayfield Fund, ele agora é multimilionário.

Porém, Palihapitiya, que abriu uma empresa de investimento quatro meses atrás, não tem interesse em aderir ao formato padrão do capital de risco. De muitas formas, ele se vê como um investidor ativista, tentando sacudir o que chama de sistema quebrado, estropiado pelo pensamento de curto prazo e falta de transparência.

”As empresas de capital de risco costumam se concentrar em administrar uma grande quantidade de ativos e cobrar taxas fixas. Isso cria incentivos perversos porque você está concentrado em empregar o máximo de capital na maior velocidade possível. Quero ser o oposto de tudo isso’’. Aberta em junho, sua empresa, a Social+Capital Partnership, arrecadou cerca de US$ 300 milhões. Palihapitiya, um jogador de pôquer competitivo que planeja permanecer o maior proprietário do fundo, tem a maior fatia em risco, tendo injetado cerca de US$ 60 milhões, uns 20% de seu capital.

Ele escolheu a dedo uma dúzia de outros investidores, uma seleção de tecnólogos e conhecedores do meio cheios de ligações e dinheiro, como Adam D’Angelo, um dos primeiros funcionários do Facebook e fundador do site de perguntas e respostas Quora; Kevin Rose, fundador do Digg; Joe Hewitt, criador do navegador Firefox; e Charles Coleman, gerente do fundo hedge por trás da Tiger Global Management. Seu único investidor corporativo é o Facebook, antigo patrão de Palihapitiya.

”Eu queria muito uma coisa que fosse fundamentalmente um tipo diferente de parceria. Queria um fundo de capital extremamente paciente’’. Ao contrário de uma empresa de capital de risco típica, que costuma ter vários gerentes financiados por um grupo passivo de investidores institucionais, a Social+Capital opera como um investidor coletivo.

Liderados por Palihapitiya, seus sócios limitados funcionam como investidores de risco de sobreaviso, convocados para avaliar e orientar startups. Por exemplo, ele costuma chamar com frequência o fundador do Facebook e seu amigo, Mark Zuckerberg, para desenvolverem ideias de investimento.
Palihapitiya, que trabalha em sua garagem reformada em Palo Alto, Califórnia, paga a si mesmo um salário fixo de US$ 350 mil por ano, sem bônus. Ele reconhece que parece alto, mas argumenta que é consideravelmente mais baixo do que o valor recebido pelo sócio-diretor de uma empresa de capital de risco típica, que pode variar entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões anuais, antes do recebimento do bônus.

Como o salário é fixo, seu pagamento anual não depende do acúmulo de grandes quantias de capital, como em outras firmas, que tiram uma porcentagem sobre tudo na forma de taxas de administração. Segundo ele, a estrutura tradicional tenta os gerentes de fundos a perseguir grandes rodadas de arrecadação de recursos e pensar em saídas rápidas. O modelo atual ”é muito mais inclinado à compensação no presente momento do que em ganhos de capital a longo prazo’’.

Nascido no Sri Lanka, Palihapitiya e sua família migraram para o Canadá quando ele tinha 6 anos. Depois da faculdade, ele foi com a namorada para a Califórnia, deparando-se com o cenário de startups no Vale do Silício em 2000, logo após a explosão da internet. Enquanto muitos executivos de tecnologia saíram nos anos seguintes, ele foi subindo na hierarquia da AOL até virar diretor da então popular divisão de troca de mensagens instantâneas em 2004, aos 27 anos.

Então o capital de risco – ou lado sombrio, como às vezes é chamado no Vale do Silício – o chamou. Palihapitiya entrou no Mayfield Fund no final de 2005. Contudo, ele não ficou muito tempo. Embora fosse amigo de dois dos sócios, ele se sentia um pouco ”deslocado com o resto da sociedade’’.

Um ano mais tarde, ele se desligou para entrar no Facebook, onde comandou as iniciativas móveis e internacionais da nascente rede social. Nas horas vagas, ele começou a fazer pequenas apostas pessoais em startups, como na empresa de jogos Playdom e na de software Bumptop. Seus primeiros investimentos, muitos realizados durante o ponto mais fundo da crise financeira, começaram a dar lucros.

A Disney comprou a Playdom ano passado, num negócio avaliado em US$ 763 milhões, e a Bumptop foi vendida ao Google por um valor não revelado. O lucro obtido com essas vendas permitiu que acelerasse os investimentos e, no começo de 2011, ele tinha os recursos para abrir a própria firma. Zuckerberg deu sua bênção, tornando o Facebook um de seus primeiros investidores.

Nas últimas semanas, a empresa anunciou investimentos na SecondMarket, uma bolsa para ações de empresas privadas; Yammer, uma rede social; e Red Robot Labs, fabricante de jogos para celular. A Social+Capital também está ajudando a construir quatro outras startups, como a Glooko, fabricante de software para controle do diabetes, e está procurando outras oportunidades nos setores de saúde, educação e serviços financeiros.

”Se você puder mudar a trajetória de como vive ou morre, essa é uma coisa enorme. As empresas em que investimos podem levar oito ou dez anos para serem bem-sucedidas, mas trata-se de áreas que precisam ser fundamentalmente interrompidas’.

Mesmo assim, o idealismo e a arrogância de Palihapitiya podem vir a ser uma desvantagem enquanto ele tenta ser bonzinho com os outros no pequeno parquinho do Vale do Silício. Recentemente, seu e-mail para os fundadores da startup de aluguel de quartos Airbnb e seus investidores foi vazado para o AllThingsD, site de notícias sobre tecnologia. A carta, que Palihapitiya declarou ser particular, criticava bastante os fundadores por pegarem boa parte do dinheiro numa futura rodada de financiamento e deixarem os funcionários de fora.

”Estou abrindo mão desse financiamento por não concordar nem um pouco com o que está acontecendo’’. A carta tornou-se viral. Michael Arrington, redator de tecnologia e investidor do Airbnb, perguntou se Palihapitiya tinha algum ”propósito maluco de prejudicar a empresa’’. O investidor de risco Bryce Roberts escreveu no Twitter que estava ”desconfiado de vazamentos de investidores de risco famosos’’.

No fim das contas, Palihapitiya e a Airbnb abafaram o drama. Os fundadores se declararam a favor de um programa de liquidez para os empregados no futuro e Palihapitiya entrou como investidor. Embora tenha se recusado a comentar especificamente a carta, Palihapitiya se disse desapontado com o caminho tomado por algumas firmas nesse ambiente cada vez mais competitivo. De acordo com ele, muitos investidores de risco, ávidos para investir no próximo sucesso, estão tentando seduzir os fundadores com termos de financiamento que não fazem sentido.

”Parece uma corrida armamentista em desenvolvimento. De que controles ou provisões protetoras tenho de abrir mão para fechar o negócio não importa o quanto ele seja ruim para mim ou meus sócios?”, perguntou.

Por ora, seus investidores parecem gostar de sua integridade. ”Confio em sua visão e experiência’’, disse Hewitt, criador do Firefox. ”Existe muita bobagem por aí e Chamath sabe eliminar especuladores altistas’’.The New York Times
Fonte:iG15/10/2011