Ofertas iniciais de ações param nos EUA.
O rugido se transformou em uma lamúria no mercado americano de ofertas públicas iniciais de ações. Após o entusiasmo do começo do ano, o sentimento em relação a esse mercado mudou muito, em meio a preocupações com a crise da Zona do Euro e a desaceleração econômica dos Estados Unidos.
Ainda há dezenas de companhias dispostas a abrir o capital – mais do que em qualquer momento desde 2007, segundo a Dealogic – e ainda há investidores com dinheiro para comprar as ações dessas empresas.
Mas o mercado de capitais fechou em setembro, apesar das previsões de que o período após o Dia do Trabalho veria uma explosão da atividade. Então, qual é o problema?
Em parte, as ofertas públicas iniciais de ações são vítimas de seu próprio sucesso.
Após convencer os investidores de que estavam crescendo rapidamente, eram grandes as esperanças de que o desempenho persistiria. Essa certeza é bem menor diante da perspectiva de desaceleração da economia americana.
“A tese de investimento mais interessante é a da promessa feita, promessa cumprida. Se uma companhia cambaleia imediatamente após abrir o capital, isso abala a confiança dos investidores”, diz Dan Cummings, diretor-adjunto global de mercados de capitais do Bank of America Merrill Lynch.
Neste terceiro trimestre, várias estreantes conhecidas não conseguiram cumprir as metas de lucros estipuladas para seu primeiro trimestre como companhias abertas, entre elas as firmas de private equity HCA e Kinder Morgan e a companhia russa da internet Yandex.
Entre os grupos apoiados por fundos de participação, que representam grande parte dessas empresas, pouco mais da metade não está sendo lucrativa operacionalmente, segundo a consultoria especializada em ofertas iniciais de ações Renaissance Capital, dos Estados Unidos. “Isso vai testar o apetite dos investidores pelo risco”, afirma Stephanie Chang, analista da Renaissance.
Mas o lado da demanda do mercado não é necessariamente o problema. Os fluxos de recursos para os fundos mútuos de ações foram positivos em três das últimas quatro semanas, segundo a Lipper, que monitora o fluxo desse dinheiro, apesar das grandes retiradas registradas no começo de agosto.
Michael Shinnick, gerente de portfólios da Wasatch Funds, diz que o começo do quarto trimestre é também o período de prestação de contas de muitos fundos mútuos, de modo que os gerentes estão vendendo posições perdedoras. “As pessoas têm algum dinheiro para gastar e estão em busca de algumas ideias novas”, diz ele.
Na verdade, o problema é de “timing” das ofertas num momento de muita incerteza. As companhias estão dispostas a aguentar uma estreia fraca no mercado se, por exemplo, ela ocorrer no mesmo dia em que houver um default soberano na Europa?
Nem todas as companhias precisam do dinheiro de uma oferta inicial, o que as permite deixar a abertura de capital para quando as condições estiverem boas. “Ao longo das crises, as companhias se tornam bastante eficientes e podem se financiar com o fluxo de caixa”, diz Marc Zenner, da unidade de consultoria financeira do JP Morgan.
O aumento dos investimentos estruturados em capital pelas firmas de participação, assim como as classificações muito baixas para as dívidas com grau de investimento, permite às empresas serem mais seletivas na maneira como elas se financiam.
“Se eu estivesse no lugar de uma emissora, estaria pensando seriamente nas várias opções de financiamento”, afirma Craig Orchant, da consultoria EA Markets. Para muitas companhias, uma oferta inicial é um evento de marketing, especialmente quando há a possibilidade de um grande “estouro” em um único dia, como ocorreu na estreia da rede social LinkedIn no começo do ano, quando o preço de suas ações quase triplicou.
A ameaça de uma queda no primeiro dia de negociação é um risco enorme. Muitos grupos chineses têm citado esse “estouro” como o motivo para abrir o capital nos Estados Unidos, mesmo que isso signifique gerar menos caixa na oferta. “Uma emissão é um evento único e você não vai querer realizá-lo quando as condições do mercado não são ideais”, diz Zenner.
Entre as companhias que estão tentando gerenciar esse “timing” estão o Groupon, a vendedora on-line de cupons, e a Zynga, fabricante de jogos de redes sociais, que adiaram para outubro aberturas de capital previstas para setembro.
Com tantas companhias em oferta, emissores e investidores estão esperando que os nomes mais conhecidos deem o primeiro passo.
“Como a fila está andando mais devagar, a barreira para as companhias que querem abrir o capital está um pouco maior”, diz Cummings. “A tendência é que haja demanda apenas para os melhores da classe.”
Fonte:valoreconômico21/09/2011