A chegada de Fábio Barbosa à presidência do grupo Natura animou investidores. Ontem, as ações subiram 8,08% no Brasil e 10,16% em Nova York (hoje, as ADRs devolveram parte da alta). Gestores ouvidos pelo Pipeline explicam: não é que Barbosa vai virar o jogo do dia para noite ou traga uma espécie de toque de Midas, mas é um reconhecimento importante do board e dos fundadores de que a companhia precisa de um ajuste de rota.

Conselheiros e fundadores vinham sofrendo alguma pressão de investidores para isso – alguns fiéis à marca de longa data, mas incomodados com a draga dos papéis e margens, como a Dynamo, disseram duas fontes. Segundo o Valor, a Previ também já tinha se manifestado. Em julho do ano passado, a Natura atingiu seu pico histórico, avaliada em R$ 83,98 bilhões, segundo levantamento da TC/Economatica. Ontem, fechou avaliada em R$ 20,88 bilhões. A margem Ebitda reportada no primeiro trimestre deste ano foi de 6,2%, ante 8,8% no mesmo período do ano passado.

Em teleconferência, o CEO de saída, Roberto Marques, e o que chega agora falaram em simplificação da estrutura e em ganho de agilidade – Barbosa citou ainda que a companhia “ouviu seus investidores”. Um gestor gabaritado resume: a Natura de hoje são quatro empresas em uma (Natura, Avon, The Body Shop e Aesop), num contexto complexo, em que o prometido turnaround de Avon ainda não aconteceu. “E quanto mais tempo leva, mais capex consome, mais alavancagem e maior o receio de mercado de nova captação aos custos atuais.”

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O assunto apareceu também no relatório de ontem do banco Goldman Sachs. “O risco de execução é levar a uma potencial canibalização entre as marcas Natura e Avon em regiões onde ambas operam, como Brasil e América Latina de forma mais ampla, bem como pressão de margens com reinvestimentos para acelerar o turnaround de Avon”, apontou o banco.

Barbosa falou em revisões geográficas por marcas, para que não haja esse tipo de sobreposição e para melhor uso dos recursos da companhia.

Na Avon International, o grupo já reduziu a complexidade do portfólio, que passou de mais de 20 mil SKUs na aquisição para 15 mil ao fim do ano passado e ainda deve diminuir. A companhia tem uma estrutura complexa em 38 países, com processos fragmentos e estruturas fortemente centralizadas, observou recentemente o BTG Pactual, e vai buscar um modelo mais enxuto e focado, com oito mercados líderes que respondem por quase 80% da margem.

Até a The Body Shop, uma operação redonda, acabou sentindo impacto nos últimos trimestres. A companhia tinha planos para colocar a marca na China e para ampliar a presença da Aesop naquele país, o que terá quer ser confirmado nos planos da gestão de Barbosa.

O grupo Natura fechou o primeiro trimestre com alavancagem líquida de 2,14 vezes o Ebitda e analistas apontam para o índice caminhando para 3 vezes. “É claro que o Ebitda está num nível subótimo dado o cenário macro, então distorce essa alavancagem, mas com os juros abrindo dá certo receio de ser diluído nesses preços”, emenda um gestor.

O consenso é que, com a aquisição da Avon, anunciada em 2019, a companhia virou um mastodonte de lenta locomoção – a previsão de integração total e estabilização de Ebitda é entre 2023 e 2024, o que dá uma ideia do desafio. A digestão dessa compra vem sendo feita ano a ano e é claro que o cenário inflacionário e a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que pesou nas vendas na Europa, não ajudam. Na call de ontem, um analista do J.P.Morgan até elogiou a administração pelas sinergias e redução de custo alcançada nos últimos trimestres a despeito do cenário.

Mas uma vez que a ordem do dia é simplificar, analistas e gestores começaram a especular quais serão os desinvestimentos potenciais, os mercados em que as marcas devem simplesmente enxugar e os potenciais spin-offs. Segundo Barbosa, uma cisão de empresas não está no radar no momento – mas é altamente esperada por parte dos investidores. “Olhando de fora, a Natura precisa hoje de um back to basics. Stopar, vender, reduzir a alavancagem, voltar a ser mais simples de fato”, diz um investidor.

No final do ano passado, a Natura comunicou ao mercado que estudava migrar a holding para o mercado americano, passando a ser negociada no Brasil por meio de BDRs. Para alguns investidores, essa reorganização societária deve seguir adiante, potencialmente abrindo caminho para outros ajustes, como eventuais vendas parciais de operações ou os tais spin-offs.

“O Fabio hoje é um cara mais de perfil de conselho. A escolha dele como CEO sinaliza de fato jogar mais esse operacional para as pontas, para os caras à frente de cada marca, enquanto ele é o maestro numa holding”, avalia um gestor de ações comprado em Natura…. saiba mais em Pipeline 16/06/2022