Aceleração do processo de vacinação da população é fundamental para a retomada econômica, diz Alessandro Zema (Foto: gleidiconrodrigues/Pixabay)

foto bandeira do Brasil
O Brasil poderá perder ainda mais espaço entre os investidores estrangeiros caso não coloque ritmo em sua campanha de vacinação contra a covid-19, única alternativa para levar o País a uma trajetória de crescimento econômico. E, para que os recursos estrangeiros possam, de fato, retomar o fluxo rumo ao Brasil, além da vacinação, o País precisa avançar no compromisso fiscal, proteção ao meio ambiente e início de reformas administrativas, de acordo com o presidente do banco Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema. A seguir os principais trechos da entrevista.

Qual o efeito, para a economia, da interferência do presidente Bolsonaro na Petrobrás?

Em um passado não muito distante, o Brasil cometeu todo tipo de erro no que diz respeito à política macroeconômica, com intervencionismo, que gerou juros altos, recessão e desemprego. Eu espero que a gente tenha aprendido a lição de que utilizar a Petrobrás como instrumento de política macroeconômica é uma má ideia. Naquela época, que não traz saudade nenhuma, a Petrobrás conseguiu um feito incrível de inverter a lógica de mercado e ser a única petroleira no mundo que perdia dinheiro toda vez que acontecia um aumento do preço do petróleo. E, desde o governo Temer, a Petrobrás passou por diversas mudanças que tornaram a empresa mais competitiva. Eu espero que a nova gestão (o general da reserva Joaquim Silva e Luna deve assumir a empresa no lugar do atual presidente, Roberto Castello Branco) reforce a intenção de dar continuidade a essa trajetória de desalavancagem da empresa, de continuação do programa de desinvestimentos, com foco na maior eficiência e na governança.

E como os estrangeiros analisam o Brasil neste momento?

Se eu puder resumir, são quatro grandes preocupações em relação ao Brasil. A primeira, a situação fiscal e a possibilidade de se retroceder em avanços importantes, como o teto de gastos. Nós precisamos retomar a trajetória de controle dos gastos públicos. O segundo aspecto é o ritmo da campanha de vacinação no País – isso vai determinar o ritmo da velocidade da recuperação da economia. Sem uma campanha de vacinação efetiva, vai ser muito mais demorado para a economia voltar ao normal. O setor de serviços no Brasil foi o mais atingido na pandemia e representa cerca de 60% do PIB. Sem uma campanha eficiente, não há recuperação rápida dos setores de serviços, e isso acaba gerando impacto no emprego, na renda e no PIB. O terceiro aspecto que eu escuto muito é em relação às reformas. Precisamos urgentemente retomar a agenda de reformas para remover os entraves e permitir o crescimento sustentável. Chega de alguma forma a ser desalentador pensar que, como sociedade, ainda não temos consenso sobre temas que já deveriam ter deixado de ser controversos há muito tempo, como reforma administrativa, tributária e privatizações. Por fim, a quarta grande preocupação é sustentabilidade e meio ambiente. A criação do Conselho da Amazônia foi um passo importante, mas a percepção global em relação ao Brasil ainda é de desconfiança, e isso tem gerado uma visão de que o País enfraqueceu a fiscalização. Nós precisamos reconquistar essa confiança do mercado com medidas concretas para mudar essa percepção. …. Por Estadão Conteúdo  Leia mais em mercadores 02/03/2021