Montadora vai atualizar seu software em veículos em larga escala, abraçando todas as expectativas e dores de cabeça que vêm para o cliente com o ciclo de vida de desenvolvimento

Em algum momento, no início do próximo ano, a Ford irá enviar pen-drives para cerca de 25 mil clientes com veículos equipados com o painel de controle touchscreen. O pen-drive trará uma importante atualização para o software desse painel. Com isso, a Ford está deixando um passado tão antigo quanto a própria indústria automobilística, um passado em que a tecnologia básica contida nos automóveis se mantinha intacta, desde a linha de produção até o ferro-velho.

A montadora está mudando, de forma significativa, as experiências de motoristas e passageiros em seus carros mesmo anos após sua produção. Assim, a Ford se torna uma empresa de software – com todas as expectativas e dores de cabeça associadas.

Neste momento, a companhia faz uma importante atualização na interface do software MyFord Touch, que é um painel embutido, sensível ao toque, que oferece controles de navegação, música, integração com telefone celular e temperatura. O painel é oferecido em veículos selecionados desde o segundo semestre de 2010. O novo código promete aumentar a velocidade de resposta do sistema e simplificar a interface, adicionando funções e atendendo às reclamações sobre a versão 1.0. A Ford vai atualizar, também, o software Sync, que está por trás da interface MyFord Touch, adicionando integração com tablet e melhor resposta a comandos de voz. Os upgrades serão oferecidos de fábrica para versão 2013 dos modelos Escape, Flex e Taurus, que chegam às lojas (dos EUA) no início do próximo ano, assim como para os clientes existentes.

As atualizações são referentes às reclamações sobre a versão 1.0 do MyFord Touch – como botões muito pequenos para o uso enquanto dirigindo e excesso de informação na tela – mas não se trata de uma emergência, insiste a Ford. A empresa já planejava aprimorar o software durante a vida do veículo. “Planejamos fazer isso constantemente”, frisou Gary Jablonski, gerente do Sync Platform Development.

A Ford já revisou o software Sync, mas nunca nessa escala. No passado, os clientes acessavam um website e baixavam a atualização num pendrive via USB, que seria conectado ao veículo. Outra possibilidade era levar o carro até uma concessionária para fazer o upgrade. Mas a Ford quer que mais clientes entrem no ritmo download-upgrade. É por isso que irá enviar os pendrives, assim como irá manter a opção de levar o carro até uma concessionária para atualizar o sistema. “Queremos que os clientes esperem isso do Sync”, completou Jablonski.

Um exemplo sobre porque tais mudanças são importantes: Pandora, o serviço de música online, era apenas uma start-up pouco conhecida quando a Ford lançou o software Sync, em 2007. Na medida em que os smartphones tornaram o Pandora um sucesso entre os jovens e possíveis clientes Ford, a empresa, em 2010, acrescentou suporte ao serviço como uma das primeiras integrações do Sync com aplicativos de celulares inteligentes. De maneira parecida, essa atualização permite que os usuários conectem o tablet ao sistema Sync, assim como fazem com o celular, para acessar música e outros aplicativos usando comandos de voz.

Dois ciclos de inovação: um para metal, um para código
O que significa para a Ford se tornar uma empresa de software? Mais do que qualquer coisa, significa dois ciclos de inovação diferentes: um para metal e um para o software.

A empresa leva cerca de dois anos e meio para planejar, desenvolver e montar um novo carro. Mas pode desenvolver uma nova interface de software em meses – e atualizá-la diversas vezes durante o ciclo de vida do automóvel. Ao criar um novo modelo, devido às máquinas de estampagem necessárias e configuração de linha de produção, as fabricantes precisam definir o design muito antes de o carro chegar à linha de produção. Porém, as montadoras podem alterar o software próximo à data de lançamento, mesmo que o código precise passar por testes rigorosos.

Jablonski explica: imagine uma engrenagem rápida e uma engrenagem lenta, as duas precisam entrar em sincronia exata na hora de criar um veículo.

O upgrade da Ford também demonstra uma eterna lição sobre software: a versão 1.0 será inevitavelmente falha, nem que seja pelo simples fato de o código existir no mundo real, em que terá muito de certas funções e pouco de outras. Com a primeira versão do MyFord Touch, motoristas reclamaram que a tela exibia muita informação – como botões raramente usados, por exemplo, que eram tão proeminentes quanto os essenciais, como volume do rádio.

A nova versão reage a esses feedback de clientes, movendo apenas as funções mais usadas para a tela principal e aumentando o tamanho da fonte em 40% para as funções mais importantes. Nos testes com o novo software, “as pessoas estão usando palavras que eu não esperava, como ‘calmo’”, exemplificou Jablonski.

Novas habilidades, novos processos
Ao se tornar uma empresa de software, a Ford foi forçada a adicionar novas habilidades, o que já vem fazendo há 10 anos. Algumas delas são habilidades clássicas de desenvolvimento de aplicativos, que toda empresa de software deve ter. A Ford fez parceria com a Microsoft para desenvolver o Sync, portanto, a Microsoft ajudou a montadora a compreender as necessidades para desenvolver software, contou Jablonski.

O segundo grande empurrão foram os engenheiros “human-machine interface” ou HMI. São profissionais que estudam como as pessoas interagem com a tecnologia. A Ford mantém esses profissionais desde o início dos anos 2000. Os engenheiros HMI vêm de diferentes backgrounds, desde desenvolvimento de software até engenheiros mecânicos.

São pessoas que podem viver no mundo da arte e da ciência ao mesmo tempo.
O maior desafio, no entanto, é decidir o que entra e o que sai da plataforma de software. “Temos, basicamente, um PC no carro, e não há escassez de ideias sobre o que podemos fazer com esse PC”, comentou Jablonski. Não há fim. Diferente de criar o design de um novo carro ou caminhão, em que existe cronologia clara para quando um novo modelo é lançado e onde termina seu desenvolvimento, e quando recomeça o trabalho para um novo modelo. O ciclo do software é menos específico. “Infelizmente, não há um ponto final no meu trabalho.” por Chris Murphy | InformationWeek EUA
Fonte: InformationWeekitweb 23/11/2011