No hotel Grand Prince, região rica do sul de Tóquio, cerca de 3 mil pessoas esperavam para ouvir, como acontece uma vez ao ano, Hiroshi Mikitani, o presidente e fundador da Rakuten, a maior empresa de comércio eletrônico do Japão. Enquanto falava, outras duas mil pessoas circulavam por corredores de três andares do prédio, fechado para uso exclusivo da empresa na sexta, dia 3. Por uma hora, “Miki”, como o empresário é chamado, tentava explicar aos funcionários para onde o grupo quer ir e o que fazer para chegar lá. Mikitani disse que a meta é criar uma empresa de 10 trilhões de ienes, considerando o volume de vendas feitas pelo site – mas não deu prazo para isso. O valor equivale a US$ 130,5 bilhões. Isso significa ampliá-la de tamanho em quatro vezes.
“É algo que só vai acontecer se entendermos que o mundo é muito maior que o Japão”, disse.

Na conversa com os funcionários e clientes – a primeira aberta à imprensa nos 15 anos da companhia -, ele diz que o grupo tem de aprender a ser global e a buscar novas fontes de receitas, algo que boa parte das grandes empresas locais (Kirin e Nissan, por exemplo) tentam fazer. A companhia estava em nove países ao fim de 2011 e quer atuar em 27 até 2017. A participação de 7% dos países estrangeiros no bolo total da receita varejista tem que subir “em algum momento”, diz ele, para 70%. Desde 2007, a japonesa comprou negócios nos EUA, França e Tailândia e fez uma joint venture na China.

A empresa administra espécies de shoppings virtuais, negociando o seu espaço online para varejistas. Em geral, redes de pequeno ou médio porte montam uma loja dentro da página da Rakuten na internet, pagam uma comissão sobre a receita e ganham assistência e visibilidade. Ao fim de 2011, 40 mil varejistas, a maioria japonesas, tinham lojas no site da Rakuten. Se não exportar o formato, a empresa sabe que corre o risco de perder fôlego pela limitação geográfica. Em 2010, a Rakuten cresceu 16,4% em termos de vendas líquidas, até setembro. No mesmo período de 2011, a alta foi de 7,1%.
O modelo de operação do grupo começa agora a ser trazido para o Brasil. O país, citado no apresentação de Mikitani, deve ser a base de expansão da companhia na América do Sul. Além disso, a empresa estaria estudando a exportação do leitor de livros Kobo para o país, apurou o Valor. Hoje, redes como Videolar, Cobasi e Le Postiche vendem pela página da empresa no país. “Nós vamos acelerar o processo de expansão no Brasil”, disse, em jantar com jornalistas, ao ser questionado sobre o projeto de entrada da Amazon no país.
A americana não opera shoppings virtuais, mas é vista como uma concorrente do grupo japonês no segmento de leitor digital de livros. “Quando começamos, ninguém sabia de nós e deu certo. No Brasil, nós vamos repetir isso”, reforça Masatada Kobayashi, diretor executivo na unidade de comércio eletrônico da Rakuten.

No país, onde adquiriu o controle da brasileira Ikeda em junho de 2011, a empresa inaugurou o formato de shopping virtual com capital estrangeiro. O plano, comentado em novembro, era fazer com que as operações brasileiras registrassem em 2011 vendas de US$ 200 milhões pelo site, somando 270 lojas virtuais ao fim de dezembro. A empresa não diz se atingiu as metas. A Rakuten também planejava ter 175 empregados no país em 2011, para comportar a expansão. Hoje, a empresa tem 105 funcionários no Brasil.

Para ter base para crescer, a empresa precisa ganhar escala e aumentar o volume de lojas no site. “Nós vamos receber varejistas brasileiras aqui [Tóquio] e vamos nos encontrar com redes no país também. Isso para nós é imprescindível”, diz David Winslow, gerente de produtividade global da área de comércio eletrônico.

A chegada da Amazon pode ter a ver com isso. As duas concorrem no Japão e devem reproduzir no Brasil a rivalidade no comércio eletrônico. Sobre a concorrente, Mikitani diz que “as pessoas têm medo da Amazon”. E mais: “Nós somos uma empresa mais orientada a fazer alianças com as companhias do que a Amazon. Isso é preferível aos varejistas do que ver uma companhia dominando tudo”.

Aos 46 anos, o fundador do grupo entende que parte da estratégia de ser global tem a ver com a forma como a empresa pensa e, por isso, Mikitani começou a mudar hábitos internos. Há dois anos, começou o projeto “Englishization”, procurando tornar o inglês a lingua oficial da Rakuten. Hoje, todas as reuniões do alto escalão são nesse idioma. Japonês é proibido.

O site da Rakuten atingiu 2,6 trilhões de ienes em vendas 2010 (volume movimentado pelas varejistas), ou US$ 34 bilhões, e o valor deve chegar a 3,1 trilhões em 2011 (US$ 40 bilhões), previsão máxima em relatórios de analistas locais. Em relação à receita líquida da empresa, a previsão é de 380 bilhões de ienes em 2011 (US$ 4,9 bilhões), pelo cálculos desses relatórios. Por Adriana Mattos
Fonte:Valor06/02/2012