Companhia que concentra os negócios digitais da RBS deve ser apresentada ao mercado em agosto

 O novo presidente do Grupo RBS, Eduardo Sirotsky Melzer, anunciou que a companhia pretende dividir sua operação digital dos negócios de mídia tradicional. A estratégia da RBS em expandir-se para outros domínios, sobretudo o digital, em que já acumula portfólio de 12 empresas de e-commerce, mobile e internet, adquiridas nos últimos anos, com investimentos de R$ 200 milhões, fica mais evidente ainda com a nova decisão. A empresa, cujo nome ainda não foi divulgado, terá sua sede em São Paulo e sob o comando de Fabio Bruggioni, CEO da holding hoje existente. Em entrevista ao Meio & Mensagem, Sirotsky Melzer fala sobre a nova companhia e o papel do digital nos negócios da RBS.

 MEIO & MENSAGEM ›› Nos últimos anos, uma das maiores evidências do modelo de gestão do Nelson Sirotsky foi a ampliação do espectro de negócios da RBS, com uma área estritamente digital e de eventos. Que tipo de desafios e quais os riscos a expansão do core business trouxe ou poderia ter trazido?
EDUARDO SIROTSKY MELZER ›› Nos últimos dois anos e meio estamos implementando essa estratégia. Nós formamos o Grupo RBS, que deixou de ser apenas a RBS, composto por três áreas de atuação: a primeira, pela qual a RBS é mais conhecida, em mídia, com a operação de rádio, jornal e televisão. Essa operação tem uma geografia, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, que coincide com nossa área de afiliação da Globo. Aqui, nós temos mais de 55 anos de história, e, por meio dessa operação, nos tornamos conhecidos e ganhamos credibilidade e reputação no mercado. E, além de tudo, é um grande gerador de caixa. O Grupo RBS tem sua segunda empresa, que é a área de digital, internet e mobile. Nossa visão é que a tecnologia e o ciclo econômico e político, a maturidade do mercado e nosso track record nos possibilita a entrada de modo relevante no digital, operando muito intensamente e aproveitando as oportunidades que a tecnologia oferece para uma empresa como a RBS. A terceira é a educação executiva. Fizemos um investimento na HSM, que é muito tradicional no campo dos seminários de gestão, e nós avançamos para cursos de educação executiva, entendendo aqui, a exemplo do pilar de digital, a existência de uma oportunidade fantástica à luz do ciclo do País, que está crescendo, e há um gargalo na formação profissional. Quanto mais pudermos acelerar a carreira de executivos no País, melhor para as empresas.

M&M ›› Essa expansão aconteceu sob sua gestão na vice-presidência executiva.
 SIROTSKY MELZER ›› Participei da formulação e da implementação desta estratégia de expansão; esse foi o projeto que encaminhei para a RBS e, talvez, isso tenha me credenciado a assumir a presidência da empresa.

M&M ›› De que maneira os novos negócios da RBS podem aprender com a operação de mídia tradicional?
 SIROTSKY MELZER ›› Há uma ligação muito grande com o que fazemos há mais de cinco décadas, nossa capacidade de produzir e distribuir conteúdo, de agregar uma audiência em torno de um mesmo conteúdo. É um grupo que tem uma empresa de comunicação, uma de tecnologia digital e outra de educação. Temos, por trás disso, um conjunto de valores muito sólidos. Embora cada empresa destas tenha a sua cultura, à luz do seu estágio, do seu ciclo de vida, da própria indústria em que está inserida, temos um conjunto de valores que acompanham a RBS há mais de 50 anos e que perpassam tudo o que nós fazemos. Temos um sistema de gestão que nos orgulha muito, que é um componente profissional do que fazemos, com base em altíssimo grau de excelência, meritocracia, foco em pessoas e a garantia que temos os melhores profissionais do mercado e, também, uma solidez econômico-financeira. Tudo o que nós fazemos tem um risco calculado que esses movimentos, alguns de maior ou menos risco, não coloquem em jogo o patrimônio que construímos até aqui. O que a RBS conquistou é muito importante e demora muito para construir. É, sim, material — ao final do dia elas estão aqui para construir patrimônio material — mas é, também, de valores, de legado e de influência no País e em função dessa credibilidade e reputação. Isso é sagrado.

 M&M ›› Como vocês perceberam a oportunidade de pensar o digital, com uma operação puramente focada nesse negócio?
 SIROTSKY MELZER ›› Nós, há mais de dois anos, temos realizado aquisições e uma série de negócios na internet, nos associando a empreendedores e a empresas que, dentro de seus nichos, são bem-sucedidas. E, no começo de agosto, vamos lançar essa empresa de forma independente, com nome próprio e sobrenome. Diferentemente da unidade de comunicação, essa empresa não tem fronteiras. Se, por um lado, atentamos a que tipo de desafios as mudanças digitais podem implicar naquilo que já fazemos em mídia tradicional, temos muita atenção para as oportunidades que essas mudanças oferecem para empresas como a nossa. Sabíamos que era preciso entrar para valer, respeitando as especificidades em todas as dimensões que esse mundo impõe: a cultura, o tipo de profissional, a velocidade na tomada de decisão, o investimento, o risco e a região de operação. Já fizemos um investimento de mais de R$ 200 milhões em todas as aquisições, e nós temos, ainda, um programa de investimento tão relevante quanto esse para continuar fazendo esses movimentos. Por RODRIGO MANZANO
Fonte: meioemensagem 10/07/2012