O alvoroço que contaminou a bolsa brasileira ontem está descolado do desempenho que as companhias alcançaram no primeiro semestre deste ano.

Um levantamento realizado pela Técnica, assessoria de mercado de capitais, com 34 empresas que já divulgaram o resultado do segundo trimestre revela números robustos: o lucro líquido cresceu 40,5%, o lucro operacional (ou Ebitda) 28,2% e o retorno sobre patrimônio líquido avançou 0,6 ponto porcentual, para 9,2%, em relação ao primeiro semestre de 2010. “Os fundamentos das empresas continuam muito bons”, diz Harold Thau, sócio e analista da Técnica. “Isso mostra que o que ocorre no mercado de ações tem uma grande parcela de irracionalidade.”

A margem líquida das companhias cresceu 1,2 ponto percentual, para 16,6%, no semestre. “Em poucos países do mundo o lucro líquido das companhias cresce nesse ritmo”, acrescenta Thau.
Já a margem Ebitda (antes de juros, impostos, amortização e depreciação) recuou 0,3 ponto percentual, para 18,4%.
Segundo Thau, isso ocorreu porque algumas empresas preferiram vender mais a repassar para o consumidor os aumentos nos custos das matérias-primas. “O recuo é pequeno, não é motivo para a alarde”, diz. A receita líquida no período cresceu 29,9%.

O retorno sobre patrimônio líquido, medida de rentabilidade, avançou 0,6 ponto porcentual, para 9,2%. “Capitalizada ao ano, essa variável ficaria entre 19% e 19,5%, bem acima do que se projeta para a Selic, algo em torno de 12,5%”, aponta o analista.
Segundo Thau, o momento agora é de analisar bem antes de fazer uma fuga precipitada para os chamados ativos defensivos, como os imóveis e os títulos públicos. “Empresas que exportam a maior parte dos seus produtos para a China não podem ser colocadas no mesmo pacote das que exportam para a Europa”, diz.

Os fundamentos macroeconômicos do Brasil, lembra o analista, ainda estão sólidos. Por causa disso, as companhias de setores ligados ao consumo doméstico, como as de vestuário, devem continuar apresentando bons resultados.

Para quem busca investimentos de médio e longo prazo, Thau aposta no setor de bens de capital (máquinas e equipamentos), que se beneficiarão diretamente das políticas sinalizadas pelo governo para fortalecer a indústria nacional diante da concorrência com os importados. “As medidas anunciadas pelo governo ainda são tímidas, mas há uma sinalização de que elas podem ser ampliadas.”
Fonte:Valor Econômico05/08/2011