Depois de dois anos de inverno no venture capital, o Softbank entrou 2024 com mais disposição para garimpar novas empresas para o portfólio da América Latina. Alex Szapiro, que comanda as operações do grupo na região, avalia que o clima está mais favorável para alocações, ao mesmo tempo em que o número de players encolheu.

“Os fundos internacionais turistas, que não têm operações locais e estiveram aqui no boom, esses sumiram. Mas nós temos uma visão de longo prazo na América Latina”, disse ao Pipeline o executivo, que está desde 2021 no Softbank. O grupo está presente na região desde 2019.

O próprio Softbank, é verdade, também se recolheu quando o inverno chegou. No ano passado, o fundo acrescentou apenas uma nova empresa da região ao seu portfólio, a chilena Rankmi (uma plataforma de gestão de pessoas), depois de ter adicionado quatro em 2022. E, entre desinvestimentos e participações em rodadas, foram 13 negócios no total e 100 empresas analisadas.

Sem concorrência de "fundos turistas" Softbank busca agrotechs latinas
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O grupo, que costuma investir em negócios em estágio avançado ou de crescimento e tinha as fintechs entre as preferidas, agora tem olhado agora para o agronegócio, que ficava fora do radar. Szapiro diz que há potencial para investir em agrotechs que não ofereçam apenas um negócio promissor, mas também a oportunidade de explorar bases de dados do campo por meio de inteligência artificial. “Pelo tamanho do agronegócio no Brasil, o volume de capital investido em startups do setor está desbalanceado”, afirma.

Healthtechs e startups que ofereçam aplicações que usam modelagem de dados também estão no radar. Szapiro cita como exemplo a Unico, empresa de biometria e identidade digital investida do Softbank, que utiliza inteligência artificial para identificar os fraudadores.

Com cheques mínimos de US$ 15 milhões a US$ 20 milhões, o Softbank conta com parte dos recursos do fundo Latin America II, de US$ 3 bilhões, para fazer novos investimentos, e ainda pode acessar o fundo global Vision Fund II, que tem US$ 9 bilhões disponíveis para aporte. O fundo Latin America I, de US$ 5 bilhões, já está todo investido.

Ao todo, o Softbank soma 74 investidas no portfólio da América Latina. Além das fintechs, há nomes como Gympass e Rappi. Szapiro afirma que o ajuste na marcação das empresas já foi feito e acredita que essas companhias agora devem se valorizar, seja pelo efeito da queda de juros no valuation dos ativos ou pelo crescimento dos negócios.

Na região, o valor marcado a mercado do portfólio passou de US$ 5,7 bilhões para US$ 6,3 bilhões em 2023. “Eu não sei se o mercado está mais racional em relação aos valuations, mas a pergunta é se a empresa vai entregar o resultado que ela precisa”, ele diz.

Após o ajuste realizado pelas companhias em 2022 e 2023, com redução do quadro de funcionários e corte de custos para antecipar o breakeven, Szapiro acredita que boa parte desse processo já foi feito e que as empresas agora estão mais bem preparadas para um ciclo de crescimento sustentável. “Mais de 95% do nosso portfólio tem caixa para os próximos 12 meses”, afirma.

Ainda assim, investidas do Softbank como MadeiraMadeira e Unico fizeram cortes de funcionários neste ano. “Muitas empresas contrataram demais e tiveram um crescimento desenfreado. Agora elas precisam focar mais no core business. Vemos mais negócios com o pé no chão”, diz o executivo.

Lá fora, o Softbank voltou a registrar lucro no último trimestre, após quatro períodos consecutivos de prejuízo. Nesse cenário, Szapiro vê um ambiente também favorável para desinvestimentos e observa um aumento do interesse de investidores estratégicos estrangeiros olhando empresas no Brasil.

No ano passado, o Sofbank vendeu a brasileira Pismo para a Visa, com um retorno de 54% do investimento, além de ter negociado sua participação na Avenue para o Itaú . “O Brasil e a América Latina estão em uma posição privilegiada do ponto de vista geopolítico para receber investimentos estrangeiros nos próximos anos.”

Em relação a saídas via IPO, Szapiro afirma que há 10 a 15 empresas no portfólio de Latam do Softbank com potencial para ir à bolsa em um período de dois a três anos. Entre os cogitados no mercado, estão MadeiraMadeira e Creditas… leia mais em Pipeline 26/02/2024