O Alpha Capital, o SPAC que levantou US$ 230 milhões no início do ano, acaba de se fundir com a Semantix — levando para a Nasdaq uma das maiores empresas de big data e analytics do Brasil.

A transação avaliou a Semantix em perto de US$ 1 bilhão em equity value (post-money), e vai injetar mais de US$ 320 milhões no caixa da empresa.

Com um modelo de negócios parecido com o da Neoway (mas com mais faturamento), a Semantix é uma plataforma que ajuda grandes empresas a estruturar e processar seus dados, tirando insights dessa montanha de informações.

A Semantix atende 300 clientes em 15 países — todos companhias ‘blue chip’ como a Mercedes-Benz, Vivo, Bradesco e Samsung — que pagam uma assinatura para ter acesso à plataforma.

A plataforma da Semantix se conecta às fontes de dados das empresas (o software de ERP, as planilhas de Excel e as redes sociais, por exemplo) e coleta todos os dados brutos, criando um data lake.

Depois, ela estrutura esses dados, fazendo toda parte de engenharia, gestão e segurança dos dados, e estabelece correlações e padrões. No final, apresenta esses dados ao cliente numa espécie de relatório que gera insights para as empresas sobre como melhorar seus processos.

Recentemente, a Semantix criou também uma plataforma de data sharing, que permite ao cliente vender seus dados. A Mercedes, por exemplo, já vende os dados de suas fábricas para casas de research e gestoras de fundos quantitativos.

A Semantix espera faturar US$ 73 milhões ano que vem, com 84% de receita recorrente e uma margem EBITDA de 13%. O net revenue retention — uma métrica sagrada para as empresas de SaaS por mostrar a evolução do tíquete médio — está em 153%.

A transação de hoje é a primeira fusão de um SPAC latinoamericano focado em tecnologia, e vem dias depois do Waldencast, o SPAC que tem a Dynamo entre seus sponsors, anunciar seu ‘de-SPACing’.

A transação avaliou a Semantix em 8,7x a receita estimada para o ano que vem, um múltiplo consideravelmente menor que o de peers globais.

A Snowflake — que fez seu IPO no final do ano passado com a chancela de Warren Buffett — negocia a mais de 50x a receita de 2022. Já a Datadog, outra empresa americana de big data, negocia a 36x.

O múltiplo da Semantix é menor até que o de algumas empresas de tecnologia brasileiras: a Locaweb negocia a 10,3x a receita, e a VTEX, a 23,6x.

Leonardo Santos, que fundou a Semantix em 2010 e é o CEO da empresa, disse ao Brazil Journal que preferiu fazer a fusão com o Alpha em vez de buscar um IPO tradicional na Nasdaq — que provavelmente traria múltiplos mais gordos — porque estava “mais interessado em pessoas que possam nos instruir em como jogar esse jogo do que em capital.”

Os sponsors do Alpha têm bagagem pra isso.

Alec Oxenford co-fundou dois unicórnios — a OLX e a letgo (um site de classificados dos EUA) — enquanto Rahim Lakhani foi CFO da letgo depois de ter tido cargos executivos na Anheuser-Busch Inbev e no Deutsche Bank. Já Rafael Steinhauser foi o CEO da Qualcomm na América Latina.

Outros co-sponsors incluem o FJ Labs, de Fabrice Grinda, e a Innova Capital, de Verônica Serra, o maior investidor do SPAC.

Apesar de ainda precisar ser aprovada pelos investidores do SPAC, na prática a transação já está garantida.

Antes de assinar a fusão, os sponsors levantaram um PIPE de US$ 94 milhões com a Innova, a Crescera Capital e o Bradesco. A Innova também já se comprometeu a não fazer o redemption dos US$ 23 milhões que tem no SPAC — garantindo um mínimo de US$ 117 milhões.

“Como o mínimo que a Semantix queria para fazer a transação era US$ 85 milhões, mesmo se todos os outros investidores fizerem o redemption o deal já está garantido,” disse Rafael.

Após a fusão, os acionistas atuais da Semantix (os três fundadores, a Crescera e o Bradesco) vão ficar com 62,5% da empresa. Os investidores do PIPE vão ficar com 9,4%; os acionistas da Alpha, com 23,2%, e os sponsors com 4,9%.

Com o caixa cheio, a Semantix quer investir em cinco frentes: atração de talentos, desenvolvimento de produto, expansão internacional, M&A, e na construção de um laboratório de P&D nos Estados Unidos.

“Já temos um laboratório de tecnologia e pesquisa no Brasil, mas queremos investir em outro na Costa Leste americana, próximo de onde estão as melhores faculdades de inteligência artificial do mundo,” disse ele. Leia mais em Brazil Journal 29/11/2021