À primeira vista, a ideia da produção de proteínas a partir de insetos ainda causa estranheza em muita gente. Mas a verdade é que os insetos são considerados “fonte alimentar saudável e altamente nutritiva” pela Organização da Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e representam um grande potencial de mercado, principalmente na alimentação animal.

“A procura pela inclusão de insetos no cardápio se apoia em prognósticos da FAO de que eles terão papel central para lidar com as previsões de insegurança alimentar, em função do crescimento populacional, aumento dos custos da produção de proteína animal e demandas ambientais”, explica Alessandra Lopes de Oliveira, professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (FZEA).

A conta é a seguinte: segundo a ONU, a população mundial deverá atingir em 2050 o número de 9,7 bilhões de habitantes, gerando um aumento de 68% na demanda por proteína animal e consequente aumento de 70% na demanda para produção da alimentação para rebanhos. Tudo isso num cenário em que se faz necessária a adoção de práticas mais sustentáveis.

Startup recebe aporte para produção de proteína de insetos para ração

De olho nesse potencial, a multinacional Sumitomo Corporation e a Lambarin Investimentos acabam de anunciar aporte financeiro na Cyns, startup brasileira pioneira na produção de farinha de insetos, a fim de expandir a capacidade produtiva da startup para 1 mil toneladas de farinha à base de moscas soldado negro por ano.

Segundo Paulo Borgoni, sócio-fundador da Cyns, o objetivo da parceria é viabilizar a entrada em novos mercados, como o segmento pet, aquicultura e pecuária, ainda pouco explorados no país. “Hoje, fornecemos farinha para o mercado de aquarismo e animais exóticos, além de compor algumas guloseimas para pets, num volume pequeno. Mas há um universo muito maior a ser trabalhado”, ressalta.

“O setor pet está em franca expansão e a pecuária no país é uma grande força. São dois setores que podem aderir a um ingrediente sustentável e de alto rendimento em suas produções. A ideia é consolidarmos o fornecimento no Brasil e depois levarmos esse modelo para os países vizinhos”, complementa.

Sem revelar o quanto foi investido na rodada, as empresas afirmam que o aporte faz parte de um compromisso mais amplo, que será concluído em 2026, quando acontecerá nova injeção de capital, a fim de que a produção chegue a 34 mil toneladas/ano e startup possa, então, ampliar atuação para toda a América Latina.

Projeto de 12 anos

Borgoni conta que a maturação do projeto da Cyns levou 12 anos (entre pesquisa, desenvolvimento e aprovação regulatória. A empresa foi a primeira no Brasil a conquistar a certificação para produção industrial da mosca soldado negro, em 2022. A projeção é que em outubro de 2024 a empresa atinja seu o ponto de equilíbrio. Já o retorno dos investimentos atuais deve acontecer em três anos e meio.

De acordo com o executivo, a ideia não é competir com os componentes atuais das rações de pet ou alimento utilizado na pecuária, … leia mais em GloboRural 02/03/2024