A desvalorização do real frente ao dólar colocou o Brasil no radar de multinacionais interessadas em ativos no País. Com escritório em São Paulo desde 2014, sob a liderança de Daniel Wainstein e Rodrigo Mello, a butique americana de fusões e aquisições Greenhill está à frente de algumas operações em andamento no País. O presidente executivo global da instituição, Scott Bok, acredita que instituições independentes como a Greenhill têm espaço para concorrer com grandes bancos, que são mais agressivos neste segmento.

No fim do ano passado, a Greenhill assessorou a Hortifruti, rede de “sacolão de luxo”, que vendeu 40% de participação para o fundo suíço Partners Group, e foi contratada pela Elavon, que atua no segmento de adquirência (conhecido como mercado de “maquininhas de cartão de crédito”), para a venda da fatia de 49% que pertence ao Citi. As negociações, que estavam avançadas, agora estão em compasso de espera, uma vez que os potenciais compradores – Bradesco e Banco do Brasil – controlam a concorrente Cielo e a operação pode ser questionada por concentração de mercado, segundo fontes.

Para Bok, o Brasil mais barato tem impulsionado as operações de fusões e aquisições. A seguir, os principais trechos da entrevista.

A crise econômica no Brasil estimula ou inibe as operações de fusões e aquisições?
Nossas perspectivas são boas. Temos uma excelente lista de operações ativas para importantes companhias brasileiras. É mais difícil concluir transações, tendo em vista as condições atuais (e voláteis) de mercado no Brasil.

A desvalorização do real torna as empresas brasileiras uma pechincha para estrangeiros?
Acho que sim. Obviamente, muitas empresas e investidores estrangeiros estão nervosos sobre o que leem na imprensa internacional a respeito do Brasil, mas o País é muito grande, com uma classe média crescente. Para as empresas que compreendem a importância deste mercado, a atual taxa de câmbio torna-se um ótimo momento para aquisições de ativos.

Com a crise, muitas empresas brasileiras estão com problemas financeiros. Como butiques, como a Greenhill, podem ajudar nesse cenário?
Nos EUA, temos um longo histórico em consultoria para empresas em reestruturação. Podemos fazer o mesmo no Brasil. Além disso, parte da solução para muitas dessas situações é encontrar novos investidores ou vender parte dos negócios da companhia. Ter consultores livres de conflitos é importante para essas empresas, que em parte têm os próprios bancos que fizeram empréstimo também como assessores de fusões e aquisições.


O que as empresas devem levar em consideração para contratar uma assessoria?
Duas questões. Primeiro, se a assessoria tem todas as capacidades que ele precisa. Dependendo do cenário, isso pode significar experiência em fusão e aquisição, conhecimento no setor da indústria ou uma rede internacional. Em segundo lugar, a pergunta deve ser se a consultoria está do lado da empresa. Frequentemente, grandes bancos, seja no Brasil ou em outros países, têm conflitos de interesse que significam que não estão inteiramente do lado do cliente.

Muitas empresas brasileiras precisam de capital e buscam atrair um parceiro forte. Porém, com o atual cenário, os ativos tendem a ser depreciados.
Vender um negócio no Brasil pode ser uma decisão difícil atualmente. Mas manter o balanço em ordem para continuar a operar os negócios com sucesso é também importante. Algumas vezes, a resposta correta pode ser vender apenas parte da companhia, ou apenas alguns ativos ou subsidiárias em vez de toda a empresa. Dessa forma, pode-se manter uma participação acionária grande que poderá ser vendida no futuro, de preferência por valores mais elevados.

Que tipos de negócios no Brasil mais atraem os investidores estrangeiros?
Investidores estrangeiros estão mais focados em recursos naturais, serviços financeiros e em operações relacionadas ao consumo que atinge a grande classe média brasileira. Atualmente, temos mais operações com empresas locais do que com empresas e investidores estrangeiros, mas gostamos de atuar nas duas frentes.

Como o sr. avalia a atual crise econômica no País? Há mais oportunidades neste caso?
Como qualquer crise, esta não vai durar para sempre. Para aqueles com alguma coragem, a taxa de câmbio e as dificuldades do mercado financeiro local se tornam oportunidades de aquisição e investimentos de longo prazo.

Como o sr. vê o apetite do investidor externo pelo Brasil?
O Brasil é um País que desperta grande interesse de clientes de todo o mundo, tanto por seus enormes recursos naturais quanto por sua crescente classe média.

No mercado, comenta-se que investidores japoneses e chineses estariam procurando oportunidades nos países emergentes, como o Brasil. A crise não os afugenta?
As empresas japonesas e chinesas com as quais eu trabalho têm um ponto de vista de longuíssimo prazo. E esses países têm uma necessidade muito maior de recursos naturais, como alimentos e petróleo, do que os Estados Unidos. Então, tenho certeza que esses países continuam a ter um interesse muito grande no Brasil.

Considerando o atual cenário no Brasil, com bancos estrangeiros vendendo ou reduzindo suas operações no País, o grupo lamenta ter investido aqui?
De jeito nenhum. O Brasil continua a ser um país importante, que faz muitos negócios com os Estados Unidos, nosso maior mercado. Estamos focados em ter sucesso no longo prazo. Então, não estamos incomodados com uma dificuldade de mercado no curto prazo. Além disso, estamos para anunciar importantes operações no Brasil e temos outras transações em curso. Também temos clientes internacionais que continuam muito interessados no mercado brasileiro.  – O Estado de S.Paulo Leia mais em portal.newsnet 15/02/2016