Steve Jobs já foi o maior acionista individual da Disney, chegando a ter mais de 7% das ações da dona do Mickey. Quando a Pixar foi comprada pela Disney, em 2006, por US$ 7,4 bilhões, o fundador da Apple recebeu parte do pagamento em ações, o que fez disparar sua participação acionária.

Bob Iger, CEO da Disney, já disse que, se Jobs não tivesse morrido em 2011, provavelmente teria vendido a Disney para a Apple.

O negócio sempre pareceu fazer sentido. Nesta semana, Laura Martin, analista do Needham, se uniu ao coro de investidores que defendem a aquisição. O banco de investimentos acredita que uma combinação das companhias acrescentaria US$ 631 bilhões ao valor de mercado da Apple. Atualmente, a Disney vale US$ 184,9 bilhões na bolsa de valores

“Eles valem mais juntos do que separados”, diz Laura. “O que a Apple faz de melhor é distribuir conteúdo globalmente para 2 bilhões de dispositivos móveis de última geração pertencentes a 1,25 bilhão de usuários únicos e ricos. E o que a Disney faz de melhor é criar franquias de conteúdo AAA, que são distribuídas globalmente em todas as telas, bem como nas mundo físico”, acrescentou.

Além disso, Laura diz que a Apple faz um trabalho medíocre no streaming. “Acho que a Apple está fazendo um trabalho muito medíocre de streaming. Eles apenas disseram que fariam um bilhão de dólares em financiamento de filmes. Isso é meio ridículo, porque essas empresas que estão competindo em negócios de conteúdo estão gastando US$ 30 bilhões por por ano. Mesmo a Netflix está gastando US$ 20 bilhões por ano”, disse Martin em entrevista à CNBC semana passada.

Apple pode ser medíocre no streaming mas compra da Disney não deve acontecer

Poucas chances de negócio acontecer

A Apple historicamente não faz grandes aquisições. O maior negócio que a gigante já fechou foi a compra da Beats by Dre por US$ 3 bilhões em 2014.

A Apple também poderia comprar várias empresas menores de mídia – incluindo a Paramount, que tem um valor de mercado de US$ 29 bilhões, ou a própria Warner Bros Discovery (US$ 78 bilhões). Comprando a Disney ainda teria de lidar com o segmento de parques temáticos e resorts, que apesar de serem altamente rentáveis, não são negócios comuns à Apple.

Mas provavelmente, estas nem mesmo sejam as maiores barreiras.

Nesta semana, políticos americanos solicitaram ao Departamento de Justiça (DOJ) que investigue a Warner Bros Discovery, alegando que a empresa resultante da fusão entre WarnerMedia e Discovery parece “adotar práticas potencialmente anticompetitivas que reduzem a escolha do consumidor e prejudicam os trabalhadores nos mercados de trabalho afetados”.

Aumento da pressão regulatória

Não é um caso isolado, grandes fusões e aquisições têm sido cada vez mais questionadas. E diferentemente do passado, o governo americano parece cada vez mais alinhado aos órgãos reguladores da União Europeia e Reino Unido. A aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft no ano passado, por US$ 70 bilhões, é um exemplo.

A Federal Trade Commission (FTC) optou por processar a Microsoft em seu próprio tribunal administrativo, em vez de primeiro bloquear o negócio em um tribunal federal. Normalmente a agência buscaria uma liminar temporária de um juiz federal para impedir que uma transação fosse concluída antes do julgamento.

Porém, como a autoridade antitruste da União Europeia já estava revendo o negócio, a FTC teve tempo para levar o caso para o seu próprio tribunal, que seria mais favorável a barrar ou colocar limites mais rígidos na aquisição da Microsoft.

Contra gigantes globais, governos também estão atuando em escala mundial. No passado já existia colaboração, mas agora todos os órgão parecem ter um inimigo em comum: as big techs.

Monopólio da Apple?

Para piorar, nesta terça-feira o Axios revelou que é provável que a Autoridade da Concorrência francesa avance em breve com uma investigação antitruste sobre a Apple sobre reclamações relacionadas a mudanças em 2021 em suas políticas de rastreamento de aplicativos.

“Uma investigação formal marcaria a primeira grande ação do governo tomada globalmente contra a Apple relacionada a mudanças nas regras de privacidade que arrasaram o mundo da publicidade digital”, afirma a publicação.

O Departamento de Justiça americano também teria intensificado os trabalhos nos últimos meses de uma ação antitruste contra a Apple. A investigação de monopólio começou em 2019, mas as autoridades intensificaram seus esforços nos últimos meses, com mais litigantes designados para o caso e novos pedidos de documentos e consultas com as empresas envolvidas, afirmou recente reportagem do WSJ.

Concorrentes afirmam que a integração dos serviços da Apple, não disponíveis para as outras empresas, cria uma vantagem injusta. A Apple diz que a proximidade entre seu hardware e software é uma característica única de seus produtos que os torna melhores para os usuários…. leia mais em Valor Econômico 11/04/2023