No Brasil, foco na entrada em outros elos da cadeia de valor e novos modelos de acesso e assistência podem transformar o cenário de investimentos no segmento e atrair capital.

O setor de saúde continuou a ser uma parte relevante de fusões e aquisições em 2023, apesar das taxas de juros globais mais altas, das pressões inflacionárias e da incerteza geopolítica mais ampla. Após o ano recorde de 2021, quando representou 20% dos deals totais, o setor de saúde observou globalmente uma queda na atividade e na participação. Mas alguns bolsões positivos refletem os fortes fundamentos do setor e também o impulso positivo gerado pela inovação desencadeada na pandemia, como a aceleração de novos modelos assistenciais, novos modelos de negócio para produção farmacêutica (como CDMOs) e o avanço em Healthcare IT, principalmente em deals entre provedores de prontuários eletrônicos de saúde.

Atividade de deals em saúde em 2024
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Historicamente, o cenário brasileiro apresentou movimento semelhante ao global, com forte crescimento em 2021 (chegando a US$13B, 17% do valor e 9% das transações totais) e se arrefecendo nos anos subsequentes. Entretanto, 2023 se mostrou um ano de recuperação mais lenta que o global, com os deals no setor de Saúde alcançando US$3,4B, sendo 60% deste valor concentrado na aquisição da Amil, em uma transação de US$2,25B. As aquisições em saúde equivalem a cerca de 6% do total no país em valor e volume no último ano.

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O estudo aprofundado da Bain & Company no setor demonstra alguns pontos relevantes.

  • O mercado brasileiro de saúde é robusto, com mais de R$1 Tri em receita, com potencial de crescimento no longo prazo impulsionado por mudanças demográficas, potenciais ganhos de escala e integrações e aumento da importância da saúde no dia a dia do consumidor pós covid.
  • O setor de prestação de serviços assistencial ainda atrai o maior foco de deals, concentrando cerca de 70% dos acordos, onde a principal tese historicamente tem sido o ganho de escala, com 30-50% das transações.
  • Impulsionadas pela participação de PE, teses para entrar em novos elos da cadeia e para prover novos modelos assistenciais têm crescente representatividade, chegando a 61% do total de transações em 2023.

Mercado robusto, com alto potencial de crescimento no longo prazo com a evolução demográfica

O profit pool de Saúde no Brasil ainda é bastante relevante e com potencial de crescimento no longo prazo. Com cerca de R$1 trilhão de receita e aproximadamente $100 bilhões (10%) de EBITDA estimado em 2022.

Somado a isso, considerando o perfil histórico de gastos no Brasil, a expectativa é de que o crescimento futuro previsto para a indústria de saúde no Brasil seja concentrado principalmente no setor privado e, com isso, potencialmente siga estimulando os movimentos de fusões e aquisições. O Brasil apresenta historicamente cerca de 55% dos gastos com saúde concentrados no setor privado – percentual mais elevado que em outros países.

O que a análise do profit pool também mostra é a tensão na qual vive o setor, com grande pressão sobre as margens e, com isso, incentivos a movimentos de aumento de eficiência por meio de ganhos de escala ou de novos modelos de atuação. O subsetor de pagadores se mostra como segmento mais desafiador em termos de margens, apresentando resultados negativos de até 7%, devido a pressões de sinistralidade relevantes no período pós-pandemia.

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Prestadores como maior força em fusões e aquisições, historicamente buscando ganhos de escala

O subsetor de Prestadores (empresas que propriamente oferecem assistência, como hospitais, empresas de medicina diagnóstica, clínicas e consultórios médicos) manteve-se ao longo dos anos como o segmento com maior número de deals, concentrando aproximadamente 70% do volume ao longo dos anos (acima do seu fair share de mercado). Boa parte disso se deve a fusões para ganho de escala, onde este subsetor acaba se destacando de forma mais evidente, seja para redução de custos, expansões regionais ou estratégias de verticalização.

Tanto para Prestadores quanto para Pagadores, alvos na área de TI em Saúde (health techs) têm se mostrado mais relevantes (representaram mais de 10% das transações nos últimos anos), visando principalmente viabilizar a integração de dados, uso de analytics e digitalização internamente, mas também com outros elos da cadeia de valor onde parcerias são cada vez mais relevantes.

Transição das principais teses de investimento por trás dos M&As, agora mais focados na entrada em novos elos da cadeia e novos modelos de assistência e acesso, com maior presença de PE

Apesar de fusões e aquisições buscando ganho de escala ainda serem bastante frequentes, elas vêm perdendo força em relação ao que já trouxeram historicamente. Em 2018, testes de ganho de escala representavam 75% das transações – eram 40% em 2023. Passados os movimentos mais evidentes e esperados de consolidação no setor, com os líderes de cada subsetor hoje concentrando maior participação do mercado, vemos uma transição para teses de investimento mais disruptivas, buscando a entrada em novos elos da cadeia de valor e o desenvolvimento de novos modelos de acesso e assistência. Em especial, nessas últimas duas teses de investimento, é onde observamos maior presença de private equity como motor de investimento, atuando em mais 70% das transações.

Com essa transição, a expectativa é de uma maior participação de private equity no setor nos próximos anos, seguindo uma tendência observada globalmente, e que tem o potencial de trazer maior agilidade e capital para acelerar as fusões e aquisições.

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Para recompor a margem no setor, no curto prazo, o cenário de recuperação no Brasil é fortemente correlacionado com fatores exógenos, como custo da dívida e manutenção de uma inflação controlada, mas também com fatores endógenos, como regulamentações setoriais (como pisos salariais, cobertura da saúde suplementar, compartilhamento de dados etc.), resultados dos grandes M&As dos últimos anos em termos de eficiência e a demonstração de sinais preliminares de sucesso de iniciativas para gestão do beneficiário e racionalização de custo.

No médio/longo prazo, o setor de saúde privada deve continuar atraindo capital dado o tamanho e as oportunidades do seu profit pool. Entretanto, enquanto no passado as taxas internas de retorno têm sido historicamente impulsionadas pelas receitas e expansão de múltiplos, agora os fundos precisarão investir em oportunidades de criação de valor mais cedo. Isso deve levar diligências para o campo além do comercial, incorporando cada vez mais fatores operacionais e tecnológicos, e a busca por novas competências para lidar com os desafios de integração na cadeia de valor e gestão e controle de custos.

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Com informações da rpmacomunicação 20/06/2024