Diretor de política monetária do Banco Central pontua que movimento cambial tem relação mais forte com subida de taxas longas dos títulos do Tesouro americano.

O cenário internacional tem tido peso predominante para o que tem ocorrido nos mercados nas últimas semanas, com seguidas queda da bolsa, valorização do dólar e aumento da inclinação da curva longa de juros, afirmou o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, na reunião do Conselho Superior de Economia (Cosec) da Fiesp. “O cenário externo tem um peso de cerca de 90% sobre o que aconteceu com os mercados nas últimas semanas”, ponderou.

Galípolo apontou, como exemplo da complexidade do momento global, que “estamos assistindo criticas à China por não estar desvalorizando sua moeda”. Segundo o diretor, “estamos nos movendo num cenário que tem esse tipo de complexidade”.

Para o dirigente, “estamos vivenciando um momento que não tem como ficar completamente imune na questão do câmbio e as atuações do BC são sempre em cima da liquidez e de atenuar esses movimentos”.

O diretor do BC citou ainda que, “imediatamente após o Copom [quando o Comitê de Política Monetária inicou o ciclo de cortes da Selic], o real perdeu valor diante do dólar e vimos interpretações que ligaram o movimento à decisão do Copom”. Porém, acrescentou o economista, “gradativamente essa interpretação foi perdendo força, porque todas as moedas estavam perdendo força diante do dólar”.

SPAC

Galípolo reforçou que o movimento cambial tem uma relação mais forte com a subida de taxas longas dos títulos do Tesouro americano. “Desde que a gente fez a reunião do Copom, as taxas de juros dos Tresauries, especialmente de 10 anos e 30 anos, abriram cerca de 50 pontos-base, o que é bastante expressivo”.

O diretor da autoridade moentária pontuou que de lá para cá começou um dilema entre os economistas para tentar interpretar o que está acontecendo, em um cenário que já estava complexo”.

Durante o impasse do teto de endividamento nos EUA (“debt ceilling”), o Tesouro americano ficou impossibilitado de realizar novas emissões. Segundo Galípolo, “o Tesouro dos EUA precisou fazer emissões muito grandes não só pelo déficit fiscal, mas para recompor esse período”.

Essa questão se somou ainda, na visão do diretor, ao movimento de “quantitative tightening” (QT), ou seja, o encolhimento do balanço do Federal Reserve (Fed, o BC americano). “Quando houve a pandemia o balanço do Fed alcançou US$ 9 trilhões, com compras de US$ 120 bilhões por mês. Essa parada de compras retira demanda desses titulos, que, se a gente projetar nos próximos 12 meses, alcança US$ 1 trilhão a menos. O QT é uma possibilidade para explicar o comportamento dos ativos para além das emissões [do Tesouro americano].”

Galípolo também citou a recente decisão do Banco do Japão de parar de controlar a curva de juros do país na ponta longa. “Há uma interpretação de que isso provocou elevação na ponta longa japonesa, mas os japoneses são um comprador muito grande de títulos americanos. A gente costuma brinca que tem um ‘gorila’ segurando a ponta curta dos juros curtos, que são os EUA, mas do outro lado do mundo tem outro ‘gorila’, no caso os japoneses, segurando a ponta longa.”

Conforme Galípolo, “acho que a pergunta agora é por quanto tempo essas taxas de juros mais longas americanas vão ficar nesse patamar e qual o impacto para os emergentes”

Durante a reunião na Fiesp, Galípolo comentou ainda que a divergência no Comitê de Política Monetária (Copom) “é muito menor do que pode parecer” e que ele nunca tinha sido tão bem “brifado” numa reunião como a do colegiado.

Ele disse também que a incerteza fiscal também reflete no preço dos ativos no Brasil e que, apesar do cenário externo desafiador, o Brasil reúne uma série de vantagens competitivas para investimento. Este conteúdo foi publicado pelo Valor PRO, serviço de tempo real do Valor Econômico… Leia mais em valorinveste.globo. 22/08/2023