A venda da InterCement, companhia cimenteira fundada pelo antigo grupo Camargo Corrêa, em 1967, vai mexer com o mapa do mercado nacional de cimento e concreto. Num primeiro momento, o negócio ameaça quebrar a liderança de décadas da Votorantim Cimentos caso o comprador seja o grupo CSN, de Benjamin Steinbruch, que está no páreo.

A empresa disputa o ativo com as concorrentes Votorantim Cimentos, que é líder nas vendas do produto no país, a italiana Buzzi Unicem, que é controladora da Brennand, e com o grupo Polimix, de concreto, que é dono da Cimento Mizu. Há informações de que a companhia chinesa Huaxin Cement também apresentou proposta, no entanto, o mercado está cético de um real interesse.

O negócio pode ainda colocar a CSN no mercado argentino. Steinbruch, segundo informação obtida pelo IM Business, também entregou ao BTG Pactual, adviser dos vendedores, um oferta pelo todo da InterCement, que tem operações no Brasil e na Argentina. A InterCement Brasil opera 15 fábricas, algumas centrais de concreto e tem participações em três hidrelétricas. No país vizinho são 9 fábricas, atividades de concreto e uma ferrovia, sob a gestão da quase centenária Loma Negra, líder do mercado local com cerca de 45%.

CSN pode assumir a liderança do mercado de cimento no Brasil se comprar InterCement

Com os ativos do Brasil, a CSN dobraria de tamanho: a capacidade anual de produção passaria das atuais 17 milhões para mais de 34 milhões de toneladas de cimento. Esse volume igualaria empresa à Votorantim, que possui 34,9 milhões de toneladas, com 26 fábricas (integradas e moagens), conforme informações do SNIC, entidade que reúne as fabricantes no país.

A cimenteira de Steinbruch, CSN Cimentos, informou em dezembro, em evento com investidores, que deveria encerrar 2023 com vendas de 13 milhões de toneladas de cimento, garantindo uma fatia de 21% de participação no mercado brasileiro e a vice-liderança do setor. As vendas totais do setor somaram 62,3 milhões de toneladas em 2023. Com a possível aquisição, iria a 35%, pois a fatia da ICB estima-se que ficou na faixa de 14%, com 8,7 milhões de toneladas.

As companhias do setor não costumam revelar seus volumes de vendas, com raras exceções, pois a competição entre elas é acirrada e todas evitam dar munição ao concorrente. A Votorantim Cimentos só divulga volume total vendido de todos os países em que atua. Segundo fontes do setor, a participação da companhia do clã Ermírio de Moraes no Brasil situa-se na casa dos 35%.

A ICB informa em formulário de referência que tem condições efetivas de produzir 12,2 milhões de toneladas, pois há fábricas que se encontram “hibernadas” e fechadas. Sob a gestão da CSN, avaliam especialistas, a empresa passaria a operar próximo desse volume, extraindo o máximo de produção de cimento.

Sem potenciais restrições do órgão brasileiro da concorrência, o Cade, a CSN passaria a operar 28 unidades cimenteiras – fábricas integradas (que fazem desde a matéria-prima calcário) e instalações de moagem de cimento. A junção das duas empresas pode dar a Steinbruch a oportunidade de se tornar líder no comercio de cimento do país, objetivo que o empresário não escondido em suas apresentações a investidores da CSN. Se não levar a InterCement, vai buscar a liderança por outra rota: a CSN tem dito que tem três projetos “greenfield” no Norte, Nordeste e Sul do país.

O negócio da ICB será objeto de análise mais detalhada do Cade em qualquer um dos casos, mas sem problemas se for novo entrante. Trata-se da maior operação de venda de ativos no setor, superando a da LafargeHolcim dois anos atrás, de US$ 1,025 bilhão (R$ 5 bilhões), com aquisição feita pela CSN. Tomando por base o valor pago, em torno de US$ 90 por tonelada de capacidade instalada, a venda ICB pode variar de US$ 1,2 bilhão a US$ 1,5 bilhão (R$ 6 bilhões a R$ 7,5 bilhões). Em 2021, a CSN já tinha adquirido a Cimento Elizabeth, com uma fábrica na Paraíba. Passou a ter duas no Estado….. leia mais em InfoMoney 29/02/2024