Os anos de 2022 e de 2023 para a indústria de fundos de investimentos não têm sido dos melhores e as saídas de recursos ainda chamam atenção. No caso de fundos sustentáveis, nos primeiros meses de 2023, a saída foi de R$ 1,9 bilhão. Só em abril, os saques líquidos foram no valor de R$ 550 milhões, marcando o pior resultado do ano. Mas nem tudo está em terreno negativo nesse eixo da indústria, segundo relatório da equipe de análise da XP.

A análise sobre como a agenda ESG está sendo incorporada aos fundos de investimento no Brasil mostra que cresceu o número de gestoras que aderiram ao Princípios para o Investimento Responsável (PRI). Em 2018 eram 42, enquanto no ano passado eram 125 ( 8% a mais do que em 2021).

A equipe de analistas liderados por Marcella Ungaretti observa que “embora o Brasil ainda represente menos de 2% do total do mundo, o país conta com 211 fundos ESG (175 aberto para captação), com destaque para o forte ano de 2021, em que 81 novos fundos foram lançados, e a captação líquida atingiu o recorde de R$ 12,1 bilhões”.

Mesmo num ritmo mais lento do que visto entre 2018 a 2020, a indústria teve 22 novos fundos abertos em 2022, e 4 em 2023 até agora. No cenário global, são mais de 5 mil fundos só na Europa, que concentra o maior número deles e puxa a demanda por esse tipo de investimentos, apesar do menor ritmo de captação líquida nos últimos dois anos, sustenta a equipe.

ESG avança entre gestoras e relatório aponta quais as assets mais adiantadas no assunto

O papel das gestoras nos investimentos ESG

Vale sempre lembrar que, conforme os especialistas do mercado, ao procurar por investimentos que congreguem fatores sociais, ambientais e de governança, não existe somente uma estratégia que pode ser usada pelas gestoras para analisar os ativos. Além disso, tão importante quanto conhecer quais são as lupas adotadas, é fundamental começar conhecendo a gestora, assim como acontece para a escolha de qualquer fundo.

Na avaliação da XP, as casas podem ser divididas em quatro grandes grupos. Conta para essa classificação as diferentes estratégias e níveis de maturidades de cada instituição.

Dentro desses critérios, o relatório destaca a JGP como referência no tema por integrar padrões ESG em seu processo decisório de forma bastante verticalizada dentro das diversas áreas da gestora. Em seus fundos, há restrições de investimento, critérios mais rigorosos em relação à pegada de carbono e hídrica, governança, inclusão social e “exclusão de empresas envolvidas em problemas socioambientais ou corrupção grave”, observa o relatório.

Entre as casas que estão mais avançadas aparece a Nordea Asset Management. Presente em 20 países, a asset possui padrões próprios para pesquisa de seleção de empresas a serem investidas e leva em consideração o risco reputacional em nível individual de cada negócio. Adotando o mapeamento de riscos e oportunidades e quantificando as informações ESG nos modelos de avaliação fundamentalista, a asset identifica as questões que terão impacto no desempenho financeiro de uma empresa investida.

No grupo de gestoras que estão no meio do processo, a XP destaca o trabalho da RBR, que a partir de seu comitê ESG, adotou uma cartilha com requisitos mínimos para novos investimentos. A gestora de recursos independente com foco no setor imobiliário é signatária dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) desde 2020.

Entre as que estão nos estágios iniciais, masque têm adotado os critérios ESG como parte central da estratégia, aparece a VBI Real Estate, outra gestora foco no setor imobiliário.

Se as gestoras de fundos imobiliários se destacam no conjunto das assets, o mesmo ainda não se pode dizer em relação a tal veículo de investimento. O relatório enfatiza que os aspectos sociais, ambientais e de governança ainda não são o foco de grande parte dos fundos de investimento imobiliários (FIIs) negociados no Brasil.

Na visão da XP, os poucos avanços registrados nessa prateleira de produtos, até agora, são puxados principalmente por quatro fatores:

  • pressão por parte dos inquilinos e consumidores no cenário pós-pandemia;
  • a publicação da Instrução CVM nº 616 em 2020, que determina a obrigatoriedade da divulgação de informações sobre os riscos não financeiros aos quais os FIIs estão expostos, incluindo riscos ESG;
  • potencial correlação positiva entre a implementação de práticas ESG e a geração de retorno no longo prazo;
  • benefícios governamentais para empresas e gestoras que adotem práticas ESG.

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