As startups de criptoativos estão enfrentando um momento difícil para atrair funding privado após o colapso da exchange de ativos digitais FTX. O investimento em venture capital (VC) no setor caiu para o nível mais baixo em quase dois anos durante o quarto trimestre de 2022, segundo dados da empresa de pesquisa PitchBook.

No geral, as gestoras de capital de risco investiram US$ 2,3 bilhões em startups cripto durante o trimestre, uma queda de 75% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o PitchBook. Os investidores de risco já haviam começado a desacelerar suas atividades de investimento, mas a implosão da FTX em novembro levou a um recuo ainda maior, disse Robert Le, analista de criptoativos da empresa de pesquisa.

“Os investidores estão tentando ver o que vai acontecer a seguir e não há pressa para alocar capital”, disse Le em entrevista.

Investimento de venture capital para startup cripto é o menor

A retração é um movimento contrário ao fervor cripto no início de 2022. A FTX levantou US$ 400 milhões com um valuation de US$ 32 bilhões em janeiro passado, enquanto gestoras de venture capital como Andreessen Horowitz, Haun Ventures e Electric Capital levantaram bilhões de dólares para apoiar empresas de criptoativos.

O entusiasmo pela indústria levou a um recorde de US$ 26,7 bilhões investidos em startups de blockchain no ano passado, a maioria dos quais veio no primeiro trimestre, de acordo com o PitchBook. Esse número representou um leve aumento em relação a 2021.

A implosão da FTX certamente foi a gota d’água para alguns VCs. Contratempos, como a falência do credor de cripto Celsius Network em julho, já os haviam feito hesitar, de acordo com Alex Thorn, chefe de pesquisa da área de serviços financeiros cripto da Galaxy Digital. O colapso da stablecoin TerraUSD e o fechamento do fundo de criptomoedas Three Arrows Capital assustaram ainda mais os investidores do segmento.

As gestoras de venture capital que se interessavam por cripto enquanto o mercado estava aquecido provavelmente estão mais hesitantes em relação ao setor agora, especialmente se foram expostas a uma de suas maiores quebras, disse Thorn. Embora essas empresas possam recorrer a outras áreas de tecnologia para investir, fundos menores podem estar em risco se forem dedicados exclusivamente à criptoativos.

“É difícil ver como alguns deles vão durar”, disse Thorn.

A ausência da FTX, que não tinha um conselho formal e cujos investidores foram criticados por não realizar a devida diligência, também está mudando o cenário de empreendimentos no segmento cripto. A FTX e sua empresa irmã, Alameda Research, eram investidores de venture capital ativos antes de seu colapso. Le, da PitchBook, disse que a FTX tinha a reputação de mergulhar em negócios e assinar grandes cheques, enquanto fazia poucas perguntas aos fundadores em um processo rápido que muitas vezes afastava outros investidores de risco.

“Não sei até que ponto eles eram disciplinados em relação aos preços”, disse Le. “Será melhor para outros investidores cripto, porque agora você pode voltar aos valuations corretos e ao processo de devida diligência.”

Os investidores de venture capital que ainda estão interessados em criptoativos agora estão levando mais tempo para conduzir a devida diligência, disse David Pakman, sócio-gerente da empresa de cripto VC CoinFund. Eles estão exigindo proteções mais fortes aos investidores e pressionando por assentos no conselho. Os valuations também estão se tornando mais realistas, disse ele.

Le, da Pitchbook, ainda espera que o investimento em cripto pelos fundos de venture capital aumente durante o verão, especialmente porque muitos fundos têm a obrigação de aplicar o enorme capital que levantaram durante o boom dos ativos digitais.

“Não vai ficar baixo para sempre”, disse ele… leia mais em Valor Econômico 10/01/2023