Com o mercado local cada vez mais competitivo, na busca por usuários e investidores, a paulistana Academia Gaviões está apostando num modelo de negócio que convoca os clientes e instrutores como sócios. O formato mantém a gestão familiar, mas ajuda a viabilizar o plano de expansão, que inclui países vizinhos.

No formato, a Gaviões vende cotas a partir de R$ 470 mil de uma unidade específica, e o cotista tem participação no faturamento. A academia ganhou espaço com seu funcionamento 24 horas, o que serviu como defesa de market share diante da expansão acelerada de concorrentes como SmartFit, capitalizada por fundos de private equity e por um IPO, e pela Bluefit, cujo controle foi adquirido pelo fundo árabe Mubadala.

Para os controladores, ainda que os cotistas não estejam na gestão, é uma forma de profissionalizar a operação, aumentando a governança. “A entrada desses novos investidores trouxe conhecimento de negócios e evoluiu o nível da nossa gestão. Com a preocupação de prestar contas, temos processos mais bem estabelecidos na gestão financeira e passamos a fazer análise de BI”, conta Priscilla Aguiar, CEO e filha do fundador. “Felizmente, temos entregado resultado e muitos deles já estão em sua terceira cota.”

Na disputa de academias, Gaviões chama os alunos para investir

Com 10 academias próprias, a Gaviões começou a explorar o modelo tradicional de franquia em 2019 e, com o modelo de cotista implementado ao longo dos últimos meses, a rede chegou às atuais 63 unidades. Além de São Paulo, entrou em outros três estados (Ceará, Tocantins e Santa Catarina) e no Paraguai. A meta é alcançar 100 lojas até o fim de 2025.

A origem da academia está nas artes marciais – e no espírito empreendedor do fundador, Leonildo Aguiar. Aos 17 anos, ainda na década de 70, ele saiu de mochila nas costas da gaúcha Passo Fundo com destino a São Paulo. Começou a dar aula de karatê num espaço de garagem no bairro Tucuruvi, enquanto tentava engatar outros negócios, como oficina mecânica, banca de jornal, uma loja de discos e até um bar. Mas o que vingou foi a academia.

Por algum tempo foi uma empreitada das horas vagas, paralela ao trabalho de agente penitenciário no Carandiru, que garantia os boletos do mês. Mas com o karatê, os alunos também precisavam do reforço da musculação, e a Gaviões foi comprando os primeiros equipamentos. Aluna nas primeiras turmas, Roseli se tornou esposa de Aguiar e cofundadora da operação como é hoje.

A marca costuma ser associada à torcida do Corinthians ou à escola de samba de mesmo nome, mas o fundador garante que não é corintiano (e nem gosta tanto assim de futebol). O batismo seguiu a tradição das academias de lutas e artes marciais: na época, as principais concorrentes tinham nomes de animais, como a Cobras Kai e Dragões do Karatê.

Com um investimento médio de R$ 4 milhões para cada nova unidade, a Gaviões criou uma área interna de importação de equipamentos, que vêm principalmente da China, Estados Unidos e Itália. A rede faturou cerca de R$ 114 milhões no ano passado e não detalha margens. Para a CEO, o desafio é criar fontes de receita e reduzir a dependência da mensalidade, em torno de R$ 120. Uma das possibilidades é o lançamento de uma marca de suplementos, que dependeria de um parceiro na indústria.

“O aluno hoje é a nossa única fonte de receita. Uma tendência clara nesse segmento, até mesmo fora do Brasil, é esse tíquete da mensalidade, que já é pequeno, diminuir. Por isso nosso plano é explorar outros produtos e serviços”, afirma. Além dos pais, os dois irmãos de Priscilla, Leandro e Daniel, e suas esposas coordenam a administração da Gaviões e a companhia quer se manter com controle familiar. “Não está à venda”, diz a CEO, categórica… leia mais em Pipeline 19/02/2024