Neste primeiro trimestre os investidores estrangeiros retiraram quase R$ 21 bilhões da Bolsa brasileira. A notícia por si só é ruim, mas é preciso entender que por detrás de qualquer investimento existe um investidor que espera ser recompensado pelo risco que assume.

O fundamento da teoria tradicional de investimentos é simples. Os investidores buscam o retorno e querem evitar o risco e, para tanto, tentam equilibrar a possibilidade de ganhos com os riscos de perdas. Ou seja, para investimentos em que se esperam maiores retornos até aceitamos maiores possibilidades de perder o principal investido, mas para outros cujo retorno mal supera a inflação é difícil ser complacente com as perdas.

A notícia sobre a saída de investidores estrangeiros da Bolsa brasileira, sem dúvida, não é boa, ninguém gosta de perder dinheiro, mas, pela ótica do risco e do retorno, não surpreende, e o índice Ibovespa explica muito sobre esta situação.

No dia a dia dos mercados financeiros de qualquer país muitas operações de compra e venda de ativos são realizadas nos mais diferentes preços e quantidades. Eu posso estar comprando, por exemplo, quinhentas ações da Petrobrás a um determinado preço e outro investidor, no mesmo momento, pode estar se desfazendo de outras tantas ações por um valor diferente, maior ou menor, tanto faz.

Assim como ninguém gosta de dirigir à noite sem qualquer iluminação e sem placas, os investidores também não ficam confortáveis de operar sem visibilidade sobre as condições de mercado. Por este motivo a B3 divulga os preços médios de negociação e ao final dia o índice Bovespa, que indica a tendência dos preços naquele dia. Se os preços dos ativos estão em uma trajetória ascendente, significa que há mais pessoas comprando do que vendendo ações, o índice então sobe indicando que as expectativas em relação aos resultados das empresas, e da economia, são favoráveis.

Observando os preços dos ativos, pela perspectiva do Ibovespa, o ânimo dos investidores não está nada animador. Até o último dia 15 de março o índice acumulava uma desvalorização de 5,5%. No cômputo entre perdas e ganhos, as perdas sobressaíram e, em média, os investidores perderam dinheiro.

Assumindo o lugar de um investidor estrangeiro, aquele que preferiu trocar seu país, que conhece melhor, para investir no Brasil, a primeira pergunta a ser feita é se estaria valendo à pena correr o risco de investir no Brasil para perder 5,5%.

Quando se decide investir fora de seu país o investidor global procura uma remuneração maior que a oferecida em seu país, ou naqueles considerados desenvolvidos, ponderando o risco, e nesse sentido, o Brasil não tem tido muito a oferecer.

Até o dia 15 de março, como dito, o Ibovespa perdeu 5,55 pontos percentuais de seu valor de mercado, enquanto o índice Standard&Poors 500 (que representa as 500 maiores ações dos EUA) valorizou 7,28% o e Stoxx 50 (50maiores companhias da Europa) se apreciou 10,27%.

A resposta a indagação acima, portanto, é não. Para um investidor estrangeiro, pelo menos os de curto prazo, não faz muito sentido abrir mão de um retorno maior, em países considerados mais seguros, para perder dinheiro aqui no Brasil.

Para completar o quadro, boa parte da desvalorização do Ibovespa decorre de interferência do Governo em empresas de controle estatal, Petrobrás e Vale, que em conjunto representam 25% do índice. Um risco, a princípio, atípico, mas que em vista dos discursos e ações do governo podem se tornar recorrentes ou, pelo menos, deixarem de ser inusitados.

Por outro lado, ao mesmo tempo que EUA e Europa apresentam um desempenho melhor que o do mercado brasileiro, os riscos são razoavelmente conhecidos. Por lá, existem dúvidas sobre o timing da redução de juros, a resiliência da inflação, etc… todos relevantes, mas todos mais ou menos mapeados.
Riscos geopolíticos, como invasão da Ucrânia e ambições imperialistas russas estão no radar, mas são eventos de menor probabilidade em comparação as iniciativas intervencionistas patrocinadas pelo governo, pelo menos no curto prazo.

Adicionalmente, as taxas de juros básicas praticadas pelos Bancos Centrais de EUA e Zona do Euro, estão em patamares historicamente altos, criando oportunidades de ganhos reais, acima da inflação, com risco próximo de zero.

Por mais que a globalização venha retrocedendo, o mundo não voltará ao estágio anterior ao do início do século, e o dinheiro continuará a ser movimentado com uma velocidade rápida e crescente. Para quem tiver dúvida, basta ver o que acontece com os cripto ativos.

Mercados de ações mais atrativos e taxas de juros reais oferecidas pelos países considerados ricos por um lado, e intervencionismo e maior risco local do outro, explicam boa parte da fuga de capitais deste primeiro trimestre. Nessas condições, apenas investidores de longo prazo tem motivos para apostar no país, para os de curto prazo existem melhores alternativas de risco e retorno pelo mundo… leia mais em Valor Investe 27/03/2024