A São Pedro Capital tem um novo sócio e também âncora para seu quinto fundo de investimento. Desde que Alex Dias, ex-presidente do Google no Brasil, fundou a gestora, em 2020, os fundos são levantados com famílias de alto patrimônio e é justamente uma delas que decidiu aumentar a apostar na casa.

O publicitário e filantropo Luiz Mello, bisneto Niasi Abdo, é quem tem coordenado as iniciativas de sua família, cuja fortuna foi originada no negócio de produtos de beleza que leva o nome de batismo do avô e foi vendida à Hypermarcas (hoje Hypera). Em 2008, a transação foi estimada em R$ 370 milhões, incluindo marcas como esmalte Risqué e tintura capilar Biocolor. Agora, a família Abdo está comprando participação minoritária na São Pedro — percentual e valor não são revelados — num investimento 100% primário, e também se comprometeu a colocar até R$ 100 milhões no novo fundo da casa.

O novo sócio da São Pedro Capital

“No histórico da São Pedro, com o mercado mais fechado, fizemos um esforço inicial de seed no fundos com famílias ultra high net worth e conhecemos bem cada uma delas, falamos com nossos investidores a todo momento”, conta Dias ao Pipeline. “Seis famílias representam pouco mais de 50% do capital investido, e esse relacionamento que possibilitou que uma delas se tornasse agora nossa sócia.”

Ter um sócio capitalizado cai bem no longo prazo e o aporte primário imediato ajuda a São Pedro a seguir aumentando a fatia de capital proprietário nos fundos — a faixa hoje é de 20%, mas a meta do sócio fundador é que isso chegue mais perto de 50% no médio prazo. Já a ancoragem acelera a captação no novo veículo num momento em que a gestora vê uma distorção de preços sem precedentes na bolsa brasileira.

A São Pedro tem uma atuação peculiar no Brasil. É hoje a única gestora dedicada a PIPE, o investimento privado em empresas abertas, seus fundos são super concentrados e a tese de investimento depende do ativismo.

“Nos EUA, tem muita gestora puro-sangue de PIPE. Aqui no Brasil, algumas casas chegaram a incluir a estratégia, mas não é uma categoria de investimentos”, afirma Dias. O timing é propício para esse tipo de estratégia na B3. “É o melhor momento de entrada na bolsa em 15, 20 anos e não estou nem falando de queda de juros, mas de valuation puro, inclusive na comparação com o caixa.”

A gestora monta posições minoritárias – o sweet spot está entre 5% e 15% — com voz ativa, o que significa se aproximar da administração e ter assento no conselho. Dias prefere colocar R$ 100 milhões em uma única ação que tenha potencial para quintuplicar de valor do que pulverizar o capital em cinco papeis, por exemplo, para duplicar o capital.

“A gente traz o ferramental de private equity num ativismo associativo a companhias que tenho certeza que o preço está errado e a gente vai ajudar a destravá-lo”, diz. “Para fazermos diferença no portfólio das famílias que investem conosco, temos que dar 40%, 50% de taxa interna de retorno anual. No pior dos casos, significa dar três vezes o capital em cinco anos”.

A gestora investiu da Positivo, a tese de seu primeiro fundo, quando a companhia de tecnologia e informática registrava prejuízo de R$ 20 milhões — no ano passado, o lucro foi de R$ 300 milhões. “Esse valor não foi criado só por nós mas foi muito influenciado pela gestão da São Pedro”.

Na Eletromídia, a São Pedro montou uma posição ainda no pré-IPO. A companhia foi avaliada em R$ 2 bilhões na estreia na B3 há um ano e meio e, numa transação recente, o market cap de referência foi de R$ 3 bilhões. “Claramente a empresa foi para bolsa com um potencial superior ao que o mercado precificou naquele momento. Com o número menor de ofertas e empresas listadas, a piscina é mais rasa que nos Estados Unidos, mas tem oportunidades interessantes.”

Recente investida da casa, a Enjoei viu seu valor de mercado encolher mais de 80% desde o IPO. “A gente adora a Enjoei. A companhia chegou a R$ 4,5 bilhões de valor de mercado e agora vale R$ 250 milhões. Posso de garantir que os dois números, para hoje, estão errados”, diz o gestor. “É uma empresa cheia de propósito, que faz economia circular 24 por 7 e vemos vento a favor para moda circular. Indicamos um conselheiro, eu também estou sempre na empresa.”

O conselheiro é o empresário Renato Rique, um dos maiores acionistas individuais do grupo de shoppings Allos (Aliansce + BR Malls). Rique é um dos investidores âncora do quarto fundo da São Pedro, dedicado à tese de Enjoei – mais um exemplo, como Luiz Mello, dos investidores abonados e engajados na base da gestora.

Dias nota que, como as janelas do mercado de capitais no Brasil são estreitas e agora escassas, muitas companhias precisam aproveitá-las antes de estar no momento ideal de listagem. São escrutinadas em tempo real na tela, os preços e as expectativas são corrigidos e abrem espaço para investidores como o PIPE.

Com o dobro do tamanho dos outros veículos, em torno de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões, o quinto fundo da São Pedro deve escolher três empresas ao invés de uma — o que ainda é bastante concentrado na comparação com fundo de ações ou fundos de private equity. A casa já tem avaliação avançada das próximas apostas.

“Todas as companhias que investimos e olhamos tem um componente tech enable”, nota Dias. Na São Pedro, ele faz a interseção de sua trajetória no private equity Victoria e da experiencia à frente do Google… leia mais em Pipeline 08/11/2023